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Ilustração: Brooke Shaden |
SABOR DE DESPEDIDA
Mote
Um toque de afeto e língua
com sabor de despedida
é um mote de glosa à míngua.
Voltas
Mesa posta, cama feita,
paciente eu te esperava,
como à chuva a semente.
— Amor, a que vieste?
— Mostrar-te o gosto da vida
num toque de afeto e língua.
Quem do meu prato comeu
e em minha cama deitou
sorveu-me com gula a seiva.
— Amor, por que me trais?
— Para em vida provares
o sabor da despedida.
Cerrada a boca e o peito,
cumprido o tempo em seu fruto,
as folhas caem no chão.
— Vida, por que te vais?
— Não há mais volta, se o amor
é um mote de glosa à míngua.
(Do livro Breviário
amoroso de Sóror Beatriz – Editora Patuá, 2019)
amoroso de Sóror Beatriz – Editora Patuá, 2019)
SABOR DE DESPEDIDA
Mote
Um toque de afeto e língua
com sabor de despedida
é um mote de glosa à míngua.
Voltas
Mesa posta, cama feita,
paciente eu te esperava,
como à chuva a semente.
— Amor, a que vieste?
— Mostrar-te o gosto da vida
num toque de afeto e língua.
Quem do meu prato comeu
e em minha cama deitou
sorveu-me com gula a seiva.
— Amor, por que me trais?
— Para em vida provares
o sabor da despedida.
Cerrada a boca e o peito,
cumprido o tempo em seu fruto,
as folhas caem no chão.
— Vida, por que te vais?
— Não há mais volta, se o amor
é um mote de glosa à míngua.
(Do livro Breviário amoroso de Sóror Beatriz – Editora Patuá, 2019)
EXPLICAÇÕES PÓSTUMAS
Te chamei: — Vem!,
porque o tempo de espera
anunciava a revelação do amor.
Te nomeei: — Amado!,
para não ter de a cada momento
recontar a história da criação do amor.
Te pedi: — Fica!,
porque julguei que o desejo bastasse
para as necessidades do amor.
Te disse: — Não!,
para que a ilusão da posse
não embaçasse as urgências do amor.
Te perdi: — Adeus!,
quando compreendi a incompatibilidade dos códigos
na decifração da linguagem do amor.
(Do livro Breviário amoroso de Sóror Beatriz – Editora Patuá, 2019)
PROVA DE FRANCÊS
(quase parlenda)
(quase parlenda)
De passagem por minha terra natal, certa vez,
soube que lá vivia como camponês,
de olhos azuis por trás do pince-nez,
com um sorriso sempre cortês,
um solitário professor francês,
que, ao me ver, perguntou em confuso português:
— Quem é essa mulher bonita?
Ter-lhe-ia ofuscado a visão, talvez,
o mesmo sol que abrasou sua tez?
Ou estes tórridos trópicos derreteram-lhe a sensatez?
Mas não sei se por timidez,
ou por narcísea embriaguez,
fui-me, sem nem querer saber seus porquês,
sem nem lhe agradecer pelo bem que me fez:
ainda que em tardia primeira vez,
sem temer nenhum revés,
pude responder, com sentido e altivez,
àquela antiga pergunta da prova de francês:
— Je suis une belle femme!
(Publicado em revista Linha Mestra, Associação de Leitura do Brasil, 2007)
Maria Mortatti nasceu em 06/11/1954, na cidade de Araraquara/SP, onde estudou desde o curso primário até a graduação em Letras. Entre 1978 e 1991, atuou como professora de língua portuguesa e literatura na rede pública estadual de ensino e concluiu mestrado e doutorado em Educação na Universidade Estadual de Campinas. Em 1991, iniciou atividades como professora universitária e pesquisadora, estando hoje vinculada, como professora titular, à Universidade Estadual Paulista – campus de Marília. Além de contribuir para a formação de milhares de professores e dezenas de pesquisadores, publicou livros, capítulos e artigos científicos sobre ensino de língua e literatura e recebeu o Prêmio Jabuti – Educação em 2012. Há mais de quatro décadas, escreve também textos literários, como os reunidos em “Breviário Amoroso de Sóror Beatriz” (Patuá, 2019), seu livro de estreia como poeta. B
Uma resposta
Os três poemas são lindos e nos fazem querer mais. Encantamento e erotismo.