Masturbação, Divina Masturbação
Você conhece a arte da masturbação feminina?
Se não, esqueça tudo o que já ouviu sobre conhecer a si mesma.
Liberte-se definitivamente.
Vá para um lugar tranquilo onde você se sinta à vontade.
Será preciso concentrar-se para tornar o momento mais excitante,
Grande sacerdotisa do prazer.
Succubus! Succubus! Succubus!…
Esse será um grande passo para a sua independência sexual.
Remodele seus pensamentos e, acredite: você pode se divertir muito sozinha;
Você tem a suaSwadhistana.
Comece acariciando-selentamen te…
Massageie toda a vagina até descobrir o ponto mais excitante.
Espumas de banho, músicas e fantasias eróticas aumentarão sua libido.
Use as duas mãos: uma para acaricia-la e outra para a penetrá-la,
Você tem pontos erógenos espalhados por todo o corpo,
Descubra-os por meio da automassagem com óleos e cremes afrodisíacos.
Deslize delicadamente suas mãos pela virilha, coxas, nádegas;
Suba devagar passeando pelas costas, barriga, seios, bicos dos seios, pescoço…
Acaricie sua pele, sem pressa, para identificar seus pontos mais voluptuosos.
Você também pode deitar-se com a barriga para cima,
Ou sentar-se com as pernas dobradas deixando-a acessível às suas mãos.
Travesseiros e duchas são excelentes masturbadores.
Cavalgue friccionando seu clitóris sobre o travesseiro, ou estimule-o com jatos de água sob o chuveiro.
Algumas mulheres preferem jatos fortes; outras preferem sentir a água tocá-las suavemente.
Como são deliciosas as minhas carícias!
Meus dedos estão cobertos de mirra.
Eles são meus namorados, meus amantes;
O meu suor é a melhor bebida,
O meu perfume é o mais agradável que existe.
O clímax édoce, natural e solitário.
Uma dádiva! Uma dádiva! Uma Dádiva!
[…]
Quem são aquelas que parecem o nascer do dia,
Belas como a lua, brilhantes como o sole luminosas como o céu cheio de estrelas?
– Katherine Mansfield, Florbela Espanca, AlejandraPizarnik, Anne Sexton, Virgínia Woolf.
De pernas abertas
Como um tumor outrora revestido por delicada capa brilhante,
Você avança com seus tentáculos vermelhos.
Santa Senhora B.
Sempre tão orgulhosa com suas toalhas de prato bordadas,
E uma cidade para defendê-la.
Bonitinha, enfeitadinha,
Anedota de bajuladores.
Esposa, mãe, filha, tia,
Prostituta conjugal.
Sem rumo em sua própria casa,
Você aguarda a volta de seu potro;
Amordaçada num casamento de aparências,
Privada do privilégio de ser a protagonista de sua própria mentira.
A culpa é sua, Senhora B.
Você é culpada por essa casa, esses móveis, essas cortinas, essas refeições;
Você é culpada por esses vizinhos, essas visitas, o egoísmo de seus filhos.
Você decidiu permanecer,
Permitiu que a adestrassem: ele e os outros.
Primeiro um carro para ele, depois para você – um modelo inferior, um carrinho “de mulher”,
Você é culpada, Senhora B.
Por todas as traições sofridas,
Não se faça de vítima, você as mereceu,
Você as merece. Você é falsa e conivente, Senhora B.
Não o julgue pelos filhos concebidos em leitos alheios;
E não finja tê-lo perdoado, pois você jamais se perdoou,
Sobretudo, não finja amar esses filhos gerados noutros ventres,
Isso pode ser perigoso para eles, e para você, Senhora B.
Saiba: ódio e amor são sentimentos antagônicos.
Essas moças, a quem você chama “vagabundas”,
São tão vagabundas quanto você, Senhora B.
Este corpo,
Morte e vida
Funde-se à terra agora.
Infinitamente.
Não terminará.
Ilustrações : Julia Zi
Tereza Du’Zai, natural de Itajaí, SC, é poeta, contista, cronista e professora de Língua Portuguesa e Literatura. O tempo, a loucura, a solidão e a morte são temas recorrentes na obra de Duzai que, desde 2015, tem se dedicado, também, à literatura fantástica e gótica. Vencedora do III Concurso UFES de Literatura na categoria poesia, a escritora publica em jornais e revistas especializados em literatura, além de participar também de coletâneas publicadas entre 2016, 2017 e 2018.