4 POEMAS DE “A SEXTA HORA” DE JANDIRA ZANCHI

 

ETC

caminhos oxigenados de dissonâncias

                   alternâncias e silêncios

pavimentados de estreito vernáculo

vidente em nova florada ao deus danificado

 

incorporado no carmim carmesito de vestais e moldes

casuais e pequeninos moldes em seres seriais

 

(ato contínuo um flerte da lua em constipação com saturno)

 

vácuos e self-service na servida sevícia mesa da antessala

da corrida do poder (modos tão métricos e medidos em tempos

de infinito) e o que segue o que crê e as efusões a noroeste

e o fluxo a anima e o aéreo do sol e sua sombra de muita luz e etc e etc e etc ….

 

 

ARRANJOS

 

permaneço – entre o plano e o aéreo

seguindo, por entre curvas , o traçado rasteiro

de raízes vivas da mata e  ar

 

é volátil e vertical o assobio que reclama

um mergulho cinza e consciente

mareado de ruídos rarefeitos comprimidos – quase astutos

regrados na medida débil debilitada

                                               apagando-se no ósculo

recriando-se por um lampejo

 

miradas oniscientes de marujos de longa estrada

– extraviada no arco amplo e inclinado dos palmos

agrilhoados das munições e arcanjos –

 

viadutos ao longo da cúpula recitam vinhedos e rochedos

calmaria ventania esperanto de luz e dor

dormente dual de muitos renascimentos

 

e morrentes e morredouras e ápices alongados de cruz e arranjos.

 

MEIO CÉU

 

na releitura de cada passo ainda o viés sofisma

– dúvida em um aprendizado de vogais vacilantes

estremecidas no púlpito fugidio de alguma certeza

 

qual compasso desafinado emerge o cântico sem soberba

– e sem espanto – dos 9000 estigmas entrelaçados

alvoroçados abonados de suspiros e suspirantes hinos

lançados a bordo do primeiro voo que se encrespa de pudor

nas primeiras sílabas de entendimento

 

conhecimento esse sem redondos e arestas que não se atomiza

em teses reflexões ações ou perdões

é só um item de terno espanto enfim é outro modo

metáfora rútila aberta a novos rompantes (condicionantes)

 

fresco andor de planar contínuo em um meio céu de formas sólidas

ou cambiantes ou não se expõem – ainda – aos teus modos e santos

repete-o em cada cinco pontos enquanto se enfia tua mente

para a fogueira mais lúcida e cabisbaixa desse encontro.

 

 

A SEXTA HORA

 

o umbral escamoteia a feroz multiplicidade

invasiva e tenaz – talvez alheia, talvez disforme

em sua conexão sem fábulas ou heróis

 

                a sexta hora ou o beijo sem cálice

 

interno novamente o esmalte que se decompõem

ou vivifica ou petrifica esse voo (lúcifer?)

paradoxal esperança de continuidade

 

que se ajoelha e notifica o vetor giratório

de algum novo deus ainda crucificando a vítima

 

tua mortalha espalhada no espelho do primata

 

mito e razão no carro que não é teu, apenas segue o atrator.

JANDIRA ZANCHI (A Sexta Hora, Urutau)

Ilustrações: Leonor Fini

Respostas de 2

  1. As imagens sonoras é de fato uma liberdade dominante na poesia de Jandira Zanchi. A conivência entre significados e significantes numa frequência neo
    – simbolista sem atalhos para o preciosismo. O leitor de movimenta no recurso imagético – visual, sente dançar a percepção auditiva e percebe discursos que a poesia insinua em seu poema – canção. Isso, pois, em tempos de rápida e mutante racionalidade virtual, a poética quer afinar e desafinar o coro dos contentes.

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