estuário
poesia
uma insatisfação
pausa que pulsa por detrás
do mundo lâmina de alta precisão
contraventora de palavras
fuga da minha imaginação
destino que me alucina
rupestre inscrição
incêndio controlado
em minhas mãos anti
às vezes o tempo alucina
parte de minhas vértebras
conheço mais beijos selvagens
que suaves segredos
a noite pousa na braguilha
das fêmeas famintas
só há um norte para libido
um pássaro que não quer partir
do rigoroso inverno
me compreende mais que tudo
às vezes uma pausa me basta
bioque mesito’s series
aos poetas couto corrêa filho,
sotero vital e sebastião ribeiro
0 – 22
no abandono do sangue
o útero árido de fome
na cantilena sem paz
geme o corpo da mulher
1
a vida é troca
moeda inútil
câmbio do destino
2
eu resumiria nosso romance em poucas linhas
uma borboleta solta do casulo em órbita da lua
3
amigos são psicólogos que sonham
4
o sonho ignora o crepúsculo
neve e flor em música
os dias que partem
5
enquanto a fé não migra
o coração acredita
em migalhas
6
ao mais incrédulo homem
o tempo lhe concebe
uma cruz em seu nome
7
dentro de cada um
deve sorrir um demônio
à procura de espelhos
8
se despia do corpo em carnívoros desejos
na cama sombras projetavam precipícios
orgasmos ao som das molas do colchão
9
não quero rimar xoxota
com chocolate alienar-me
entre pulos e grunhidos
10
estrelas em pares
na solidão da noite
sentem-se ímpares
11
as ancas de uma mulher
me fazem dormir melhor
numa noite de chuva
12
enquanto bambus boiam
um homem desce o rio
a vida segue o sol
13
aos que não se deram
bem no inverno da cama
um minuto de silêncio
14
nos olhos dos meus filhos
poesias cores músicas
a singularidade do caminhar
15
a gente ama quando não se é capaz
de ignorar o café da manhã a novela
o sorriso pelo retrovisor dizendo volta
16
de fato fadas
não fodem com príncipes
encantados
17
o nobel ainda
não inventou
o prêmio vilão
18
poemas nos ensinam
o não mensurado
alguns censuram-nos
outros como um tango
19
sentimentos nas nuvens
entre tuas trilhas poeta
cabedal de musas
20
deus é azul
a vida não é
21
toda poesia é um não pensamento
a mesma química
a nara ferreira
ao caminhar sozinho
aprendi que o amor
é uma simbiose de bocas
o que amamos gruda em nós
felicidade me parece
uma revoada de interrogações
lembro que saudade
não é uma escolha
abre fronteiras em meus amanhãs
meu destino
é beijar as flores
da planta de teus pés
Imagens: Gilad Benari
Bioque Mesito é poeta, nascido sob o sol de aquário em 3 de fevereiro de 1972. Colaborador em diversos jornais de São Luís e, em especial, do Suplemento Literário Guesa Errante (no qual integrou a equipe de redatores durante seis anos). Participante do cenário poético/literário da Ilha de São Luís, desde os anos de 1990, onde integrou o Grupo Curare, um grupo de amigos e de literatura, que demarcou seu espaço na literatura maranhense com exposições, performances, prêmios e livros, em meados da década de 1990. Possui vários prêmios em concursos de poesia em âmbito local, regional e nacional. É autor dos livros de poesia A inconstante órbita dos extremos (Editora Cone Sul-SP, 2001), A anticópia dos placebos existenciais (Edfunc-MA, 2008) e A desordem das coisas naturais (Editora Penalux-SP, 2018).