4 poemas de Bioque Mesito


estuário

poesia                         
uma insatisfação

pausa que pulsa por detrás
do mundo lâmina de alta precisão

contraventora de palavras
fuga da minha imaginação

destino que me alucina
rupestre inscrição

incêndio controlado
em minhas mãos 



anti

às vezes o tempo alucina
                                parte de minhas vértebras
                                                     conheço mais beijos selvagens
                                                                                      que suaves segredos
                                                   
                                               a noite pousa na braguilha
                                      das fêmeas famintas
                                                                   só há um norte para libido
            
um pássaro que não quer partir
                                                                                       do rigoroso inverno
me compreende mais que tudo
                                                                               às vezes uma pausa me basta




bioque mesito’s series


                                                  aos poetas couto corrêa filho,
                                                 sotero vital e sebastião ribeiro



0 – 22

no abandono do sangue
o útero árido de fome
na cantilena sem paz
geme o corpo da mulher


1

a vida é troca
moeda inútil
câmbio do destino


2

eu resumiria nosso romance em poucas linhas
uma borboleta solta do casulo em órbita da lua


3

amigos são psicólogos que sonham


4

o sonho ignora o crepúsculo
neve e flor em música
os dias que partem


5

enquanto a fé não migra
o coração acredita
em migalhas 


6

ao mais incrédulo homem
o tempo lhe concebe
uma cruz em seu nome


7

dentro de cada um
deve sorrir um demônio
à procura de espelhos


8

se despia do corpo em carnívoros desejos
na cama sombras projetavam precipícios
orgasmos ao som das molas do colchão


9

não quero rimar xoxota 
com chocolate alienar-me
entre pulos e grunhidos 


10

estrelas em pares
na solidão da noite
sentem-se ímpares


11

as ancas de uma mulher
me fazem dormir melhor
numa noite de chuva


12

enquanto bambus boiam
um homem desce o rio
a vida segue o sol


13

aos que não se deram
bem no inverno da cama
um minuto de silêncio


14

nos olhos dos meus filhos
poesias cores músicas
a singularidade do caminhar


15

a gente ama quando não se é capaz
de ignorar o café da manhã a novela
o sorriso pelo retrovisor dizendo volta


16

de fato fadas
não fodem com príncipes
encantados


17

o nobel ainda
não inventou
o prêmio vilão


18

poemas nos ensinam
o não mensurado
alguns censuram-nos
outros como um tango


19

sentimentos nas nuvens
entre tuas trilhas poeta
cabedal de musas


20

deus é azul
a vida não é


21

toda poesia é um não pensamento


a mesma química

                      a nara ferreira


ao caminhar sozinho
aprendi que o amor
é uma simbiose de bocas

o que amamos gruda em nós

felicidade me parece
uma revoada de interrogações

lembro que saudade
não é uma escolha

abre fronteiras em meus amanhãs

meu destino
é beijar as flores
da planta de teus pés


Imagens: Gilad Benari


Bioque Mesito é poeta, nascido sob o sol de aquário em 3 de fevereiro de 1972. Colaborador em diversos jornais de São Luís e, em especial, do Suplemento Literário Guesa Errante (no qual integrou a equipe de redatores durante seis anos). Participante do cenário poético/literário da Ilha de São Luís, desde os anos de 1990, onde integrou o Grupo Curare, um grupo de amigos e de literatura, que demarcou seu espaço na literatura maranhense com exposições, performances, prêmios e livros, em meados da década de 1990. Possui vários prêmios em concursos de poesia em âmbito local, regional e nacional. É autor dos livros de poesia A inconstante órbita dos extremos (Editora Cone Sul-SP, 2001), A anticópia dos placebos existenciais (Edfunc-MA, 2008) e A desordem das coisas naturais (Editora Penalux-SP, 2018).

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