4 poemas do livro Um nó na garganta desde o princípio do mundo, de Renato Melo

Foto de Eduardo Ocampo

FÓSSEIS REMOTOS
 
mergulho
na garganta do tempo
adormecido
em qualquer regaço
 
como alguém vencido
pelo odor do momento
caminho sobre estas pedras
 
são fósseis remotos…
 
meus sentimentos
            ultra
            passados.
 
***
 
 
MOLDURA
 
montanhas longínquas estampam na paisagem
                                          mensagens contemplativas
mesmo longe dos olhos, suas alegorias nada usurpam
sua sapiência, sem manipulações
exibe uma moldura todas as manhãs
nem mesmo os ilustres mármores
dariam ao expectante
poemas tão mansos, com doçura tal
que se tentássemos dar-lhes nome
não conseguiríamos
 
montanhas longínquas existem para nos ensinar
                      a fazer de toda paisagem
                      um refúgio para os olhos
                      sempre sem nenhum labirinto
                      ou enigma, ou dilema
                      aos sentidos.
 
***
 
 
RAÍZES NUAS
 
a fúria do vento
sepulta o choro
 
na orla do tempo perfura-se a vista
 
aqui só me vejo
de raízes nuas
 
esperando pelo solo
que sempre me falta.
 
***
 
 
HARMONIAS
 
harmonias
alastrando-se
 
numa música
que perfuma o ar
espelhos surgem
e por toda parte
me enxergo
como nunca
 
uma aura
perambula suavemente
 
pássaros livres
tornam tudo
mais intenso
meus horrores
são assim desfeitos
 
sinto o infinito
dentro de mim
e ao som
de águas calmas
meus olhos afago
sobre o lago
sinto que enlevos
me purificam
 
tudo isso
num dia de primavera
tudo isso
num silêncio que quero
sempre comigo
em harmonias
que calam
os ruídos do mundo
por todo lugar
 
dentro
e fora de mim.

***

Renato Melo nasceu em Queimados, RJ, no ano de 1978. Ainda em seu primeiro ano de vida, a família se muda para Minas Gerais, e após curtas passagens por algumas cidades do estado mineiro, se estabelecem em Juiz de Fora no ano de 1984. Em 2011, já casado, se muda para Rio Pomba, MG, onde, em 2021, inicia sua carreira literária publicando pela Caravana Grupo Editorial sua primeira obra poética Por tudo o que é mais sagrado. Em 2022, pela Mondru Editora, publica seu segundo livro Eu o cosmos e o caos. Em 2023 vence seu primeiro concurso literário, promovido pela Arte Impressa Editora. Sua obra Um nó na garganta desde o princípio do mundo foi vencedora na categoria poesia, sendo publicada no outono de 2024.

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