Imagem de capa: Jorge Felipe Alves de Paula |
verga a noite suas estrelas duradouras
é escura e eterna a consciência.
ARTEFATOS
participo do grande vento das noites frescas de almíscar
e agonia e alegria e magia – o desejo levitado por
arcanjos ou asnos ou arcanos ou artefatos – seduzindo
milagres e ventarolas e flores magras e vermelhas
atônitas da relva e da noite ardida
de uma meia lua de acetona das madonas decaídas
em coro vazio, mas livre na ascensão, enquanto
se move o mundo na nau fragata das arquidioceses
suspensa dos suspensórios sagrados
lua arqueada de espanto
no aéreo vapor das águas.
FUGAZ
momentânea sanidade alongando-se
na promessa de algum encanto
é noite em minha sala e dia no silêncio
movo-me com a sinceridade dos escolhidos
sem fronteiras na lembrança
e alegrias no repouso
reabro o infinito com a agudeza de um mártir
sacrifico a leitura das aves e o esconderijo
de algum deus, sabendo que da sina
o semáforo e o ato são o compassivo brevê
do meu instante
Fugaz……..
ÁGUAS MORNAS
a vida porfia-se de tão poucos acabamentos
restam-nos os dias de águas mornas
que te espezinham
pois não se referem ao teu medo
e não te salvam, já que, não sendo
– suficientemente -ásperos,
te afundam até o outro lado da tarde.
LAMURIOSA
lua ou lamento
lamuriosa
enfática de parênteses
verga a noite
com sua vaidade
de madona celeste.
BIFURCAÇÃO
circunflexo o eixo da morte
acoplado à estrada e ao
fosso das águas
estreitado em bifurcação de anjos
os rosnados das almas calientes
e sonsas de mar e areia
compasso rangido em armas
e faces de contra ventos
os desejos e os favores
que arredondam-se
à beira – de algum caminho –
caminho em vai sem volta
a mesma imagem
um sussurro de prendas e pérolas
um arquivo de fatos e contraltos
um sistema de artigos e frases
o universo girando e contraindo e suspirando e se curvando….
JANDIRA ZANCHI