5 poemas de “Caminhos…” de Rubenio Marcelo



ACORDE DE SAL E A COR DE SOL
 
há uma pedrinha no caminho
no caminho há uma pedrinha
uma pedrinha no caminho há
uma pedrinha nesse caminhar…
 
e há na pedrinha um caminho?
– sempre há…
 
entre as linhas
         quais pedrinhas de sal
entrelinhas de sonho-troféu…
 
e  uma diretriz
em cada salto
              solto
sorriso  franco… branco…
 
entre as linhas
quais pepitas de sol
          estrelinhas luzindo…
 
e mil asas num só pé
tecendo a liberdade
[que tem acorde de sal
              e a cor de sol]…
em frente seguindo
mais alto subindo…
 
mesmo entre olhares de pedra
         entreolham-se caminhos…
 
num só pé… mil asas…
e rebanhos de estrelas
num balé
de cantigas de passarinhos…
 
E sempre é preciso
                um novo caminhar…
                pois novo caminho há!
– e que seja em estado de leveza
   [mesmo que rabiscos
    de camelos voadores
    ou pontes de nuvens
    com legendas douradas,
    mas com certificado atual
    de verdade natural,
    com espírito de ver sentimento…
    ou mesmo
                  divertimento]
   como se fosse pintado
          num infante ateliê…
 
como se fosse assim:
 
num só pé…
do sopé do mundo
[sem pisar na linha]
até a casinha de sapê…
                       no céu!
– onde a emoção se sublinha…
   tem viva cor… num voo sem véu…
                                  
                                                        
DELEITE DAS PEDRAS
 
Desde os primeiros tempos
aprendi a não turvar a pedra
                      que me mata a sede…
– ela é pura e precisa.
 
Que este toque de jaspe
habite-me até o fim
quebrando o gelo da insensatez…
 
Ao invés do leite costumeiro
      costumo
      das pedras tirar deleite…


Ao invés de precisar
quantas pedras de gelo precisarei
para que  meus pés não se deformem
ante a minha lápide sepulcral,
                                   aprendi
que em qualquer tempo
os meus passos impuros
                       precisarão das pedras…
                                                  
 
FALÉSIAS
 
Na solitude daquelas falésias
falei tantas vezes
com minhas falanges
em paz com meus dedos
meus pés, minhas mãos
falíveis…
 
Inda sangram naqueles rubros paredões
– beijados de sal e sol –
os talismãs do primeiro verso…
 
E certamente não descansa na praia
aquela jangada branca que dava ritmo
ao azul do silêncio
do meu olhar menino
[nas três pontas da sua vela
 milhões de sonhos abolicionistas
apontam mares
e mitos ressurgentes]
 
Se o abstrato é indispensável
para o contraponto da realidade,
os sortilégios não podem
prescindir do verde cio das manhãs
nem das lágrimas do tempo faminto…
 
Grande parte da súmula
dos meus ais
não está gravada em litogravuras.
– litorais…
                                                                                                 
 
E s p Ǝ l h o
 
ah
este  espelho  reflete-me em cada traço
cada gesto
cada cor
 
na sala, no quarto, no banheiro…
ei-lo sisudo
a
mostrar-me
o semblante
 
de cada dor.


uma dor que me reflete em cada espelho
cada sestro
sem compasso
 
na sanha da refrega, trafega
sobre tudo
a
prostrar-me
invigilante
 
em cada passo.

PARCERIAS
 
O chão pode ser céu no canto alado
que tece o infinito em parceria…
A ave voa e pousa… e, neste estado,
um par sem outro par o que seria?

Asas e pernas traçam sempre um fado
moldando a cor da noite e o sol do dia…
Assim, talvez em tom predestinado,
o passaredo brinca em sintonia…

E cai a tarde… e novamente a noite
vem pra velar do vento o seu açoite:
da paz deixando eventos à mercê…

O mágico pulsar de um cata-vento
o que seria se faltasse o vento?
E a brisa sem o mar seria o quê!?


RUBENIO MARCELO – é poeta escritor, compositor, ensaísta e revisor. Membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), ocupando a Cadeira nº 35, é autor de treze livros publicados e três CDs, sendo que um dos seus livros mais recentes (Vias do Infinito Ser) foi indicado pela Universidade Federal de MS (UFMS) como leitura obrigatória para os vestibulares no triênio 2021/22/23 e também foi indicado ao PASSE UFMS 2024/25. Destacam-se também nas suas obras mais recentes os livros Graal das Metáforas, Horizontes D’Versos, Voo de Polens, Veleiros da Essência” Palavras em Plenitude” Almar – poemas lusitanos… e Caminhos… . Também palestrante e advogado, reside em Campo Grande-MS.

Respostas de 11

  1. Rubenio Marcelo é um poeta extraordinário, que domina as palavras com uma maestria estrelar. Seu texto traz sempre uma reflexão, uma ode a vida e a complexidade dela decorrente, as paixões, as tristezas e alegrias, os caminhos, as batalhas, as vitórias e as derrotas. E o amor, a virtude maior do infinito ser.

  2. Rubenio, As três poesias que você me mandou são como rios diferentes, mas que levam ao mesmo mar, o da tua alma. Em cada verso há um brilho, em cada imagem um universo, em cada silêncio uma verdade. Você não apenas escreve poemas , você os vive, e isso transborda no papel.

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