5 poemas de Jandira Zanchi

 

CARIADOS

 

dias inteiriços encadeiam noites seminuas
seus cardumes de proféticas interferências
amálgama suave/colírio de perdizes
permanentes fronteiras
estribilhos possuídos (cariados)
alterados azuis e damas  como as

franjas – veludo – desse outono.

 

OÁSIS

 

Espumar como cristais de degelo
amotinados frente ao verso

versante malefício/benefício

escrutinado no mosaico

 (algumas vezes claro)

atuado e pontilhado como motins

no esquadrão de asteroides

 versante malefício/benefício

escrutinado no mosaico (algumas vezes claro)

atuado e pontilhado como 

motins no esquadrão de asteroides

 

a realidade, pasmem, é múltipla caótica esdruxula 

e reflexo de muitas provisões da matéria energia, 

filosofia ou entropia (enfim a porcaria que se queira) 

mas, ainda que imprevisível a olhos nus e nubentes, 

o mundo das cenas e das águas e das aves 

é tão simples como todos os entre muros

 

oásis  ou frescor é um
rigor um debate e 
uma

inevitável consequência química

aprendida (ou não) dos fosseis acumulados

no que parece s er o espaço/tempo

 

algum contravento? um senhor ou uma senhora, 

uma penhora antes deste

inevitável congelar da sopa cósmica?

 

 

 

 

FRONTEIRAS

 

serão lisas essas madrugadas

                               sem outono

virgens iniciadas da penumbra das formas

armadas dos vãos
e véus do movimento das asas

 

rubras como um deus

cálidas e férteis do nada – amantes do alcance ascese

bravias e fúteis membranas de cada eu

 

cozidas ao fogo dos tempos

misturadas/obtidas de fervilhantes maiúsculas

arrancadas (quase nuas)

dessa terra ou de suas fronteiras

 

luminares e lascivas

           quase piedosas

unas e ermas.

 

 

CORDAS

 

a noite, reflexo em ondas,

caí como vitrine e útero

– aliciada e sem pranto

virgem de desdém –

é mágoa e ternura na nitidez

de espelho rubro (e sem cor)

movimento e percepção

 

moldura de fragmentos de eternidade

deslizada no vapor (almíscar)

horizonte profundo e pacífico 

inúmeros motivos sem melindres

em cordas e cardumes (quase satisfeitos)

 

pranto/lembranças/prodígios e

vagalumes do estar/ser

 

                        adestrado o modo e o contínuo do olhar.

 

 

PÓDIO

 

nudezas que se
vestem mudas

são de uma crueza
metálica

escassos mecanismos
sem defesa

              –
hostilidades
acuadas

ornadas de duetos e
pós-verdades –

crueldades –
prisões do instinto ou vaidade?

 

o poder riscado
de meteoros corrompidos

envolvido no sonho

 quase cinderela

de uma noite magra

ou de uma vitória
amarga

 

crueza indigesta de
tantos recantos

nessas redondezas
frias de sonhos

imperfeitos
desfeitos rasurados

deserdados de deus
e do pai

 

amém amenizados

a tiara da fada
perdida é qualquer jardim

nesse tempo que
desmonta/reconstrói e

não são teus os
olhos

lince de pedra e
perfídia

 

o pódio e o carro

e todas as mesuras
timbradas

dos outros que
também

não ou serão

o sonho e a véspera

 

…que se fez tarde.

 

 

JANDIRA ZANCHI

 

Ilustrações: Remedios Var

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