modus operandi
recomendamos um certo ar blasé.
nenhuma gentileza explícita
nenhum olhar condescendente.
os cabelos muito bem alinhados sempre.
nenhuma felicidade aparente.
nenhum vestígio de solidariedade.
de preferência
recomendamos um semblante hostil.
que seja frio, qualquer indício de sorriso.
que seja hábil em ironia e sarcasmo.
recomendamos maus tratos
e indelicadezas.
que sejam ingratas e desconfortáveis
as horas a esperar
sentadas nas lustrosas cadeiras.
que seja farto o calor
a provocar suor.
em nenhum instante, prazer.
nenhuma gentileza explícita
nenhum olhar condescendente.
os cabelos muito bem alinhados sempre.
nenhuma felicidade aparente.
nenhum vestígio de solidariedade.
de preferência
recomendamos um semblante hostil.
que seja frio, qualquer indício de sorriso.
que seja hábil em ironia e sarcasmo.
recomendamos maus tratos
e indelicadezas.
que sejam ingratas e desconfortáveis
as horas a esperar
sentadas nas lustrosas cadeiras.
que seja farto o calor
a provocar suor.
em nenhum instante, prazer.
[nenhuma cruzada de pernas provocante].
Outras Carolinas -Mulherio da Bahia (Editora Penalux/2017)
impressões
a farpa do meu contentamento
não resvalará no osso – exposto –
não fincará dente na rebeldia
no déjà vu que invento e proclamo.
qualquer engano tomará a curva
da esquina. suspiros e ais já estão
na cartilha linda que diagramei toda
em versos. só pra impressionar.
vou viajar naquela canção escrita
naquele livro não lido – mas que lerei
um dia. nos filmes todos vistos. nos teatros
lotados de tantos espetáculos. a mala pronta
é só delírio. a foda inesquecível campeia
a casa. (será na escada?). o vulto que se move
é só cortina, centelha e perfume. saudade
é bicho besta que a gente puxa pelo rabo
arrasta e doma.
não resvalará no osso – exposto –
não fincará dente na rebeldia
no déjà vu que invento e proclamo.
qualquer engano tomará a curva
da esquina. suspiros e ais já estão
na cartilha linda que diagramei toda
em versos. só pra impressionar.
vou viajar naquela canção escrita
naquele livro não lido – mas que lerei
um dia. nos filmes todos vistos. nos teatros
lotados de tantos espetáculos. a mala pronta
é só delírio. a foda inesquecível campeia
a casa. (será na escada?). o vulto que se move
é só cortina, centelha e perfume. saudade
é bicho besta que a gente puxa pelo rabo
arrasta e doma.
De foro íntimo (Editora Penalux/2018)
das ilusões
fosse o primeiro
esse desejo insone
de povoar teus dias
beijaria a fonte do impreciso
esse desejo insone
de povoar teus dias
beijaria a fonte do impreciso
viajarias comigo
luas e luas de arrebatamento
e sorririas contente
ao ver teus olhos nos meus.
luas e luas de arrebatamento
e sorririas contente
ao ver teus olhos nos meus.
eu te diria que amo
e me dirias
: eu muito mais.
e me dirias
: eu muito mais.
fosse verdade
(não esse tolo sonho)
seria vertigem
(não esse tolo sonho)
seria vertigem
[e paz].
ocupação
como entrará esse homem
nessa casa sem espaço?
como se dará o encontro
nesse corpo ainda atado
ocupado até o pescoço?
há de ser um tremendo alvoroço
a novidade.
aparecer assim no fim da tarde
esperar janta e regaço.
ai meu deus, o que é que eu faço?
se não desamarrei ainda aquele laço
se não tirei do criado-mudo
o retrato?
quando mais tarde no colchão estendidos
volúpia e cansaço.
tateará no escuro
um ménage à trois esquisito.
lá pelas entranhas carrego
o outro [ainda escondido].
De foro íntimo (Editora Penalux/2018)
ponderações
quase certo
que a oficina de risos
fechará as portas
ás três.
[o expediente será quebrado]
se o senhor das lágrimas insiste
em implantar seu feudo
em arrolar escravos
aliciar as dores.
o que fazer
pra se manter imune
dono do seu próprio reino?
como bater altivo no peito
e gritar bem alto
– sou dono do meu latifúndio?
quase certo
que resistirão os fortes
guardarão os bosques
enfeitarão os lagos com mágicas estrelas.
quase certo
que a fúria implacável de monstros
não resistirá aos anjos.
[haverá plena colheita]
e
se não assola a fome, os homens
a festa será plena.
todos os moinhos girando
todas as portas abertas.
até as seis.
De foro íntimo ( Editora Penalux/2018)
Ilustrações: Salih Güler
Lia Sena: poeta baiana, publicou quatro livros: Pedaços ( 1988, Editora Interbahia); Por Todo Risco (2013); Lume dos Anseios (2014, Edições MAC, Coleção Vinho e Poesia) e De foro íntimo (2018, Editora Penalux). Ao longo dos anos, participou de diversas Antologias. (Antologia do Sesi, Antologia Cidade, Adegaria e outras); em 2017, participou como poeta, revisora e organizadora da Antologia, Outras Carolinas – Mulherio da Bahia (Editora Penalux) e da Antologia, Nas Teias de Eros (Editora Darda). Foi finalista do segundo Prêmio Sosígenes Costa de Poesia (2017), ficando com a Menção Honrosa, pela segunda colocação. Compositora de algumas canções, tem alguns poemas musicados por outros artistas. Está na Antologia Conexões Atlânticas II e participa da Antologia do Mulherio das Letras 2018. Vencedora do III Prêmio Sosígenes Costa de Poesia (2018), com o livro, Na Veia da Palavra que será publicado pela Editus.