espaço
mesmo embaladas a vácuo
memórias
não cabem nos armários
sutiã para
Alice Sant’Anna
Alice Sant’Anna
a câmera do celular tira fotos
para estampar cartazes
em bancas de jornais
mas não consegue fotografar
a lua
imagem que tanto parece não nos bastar
que sacamos fotos do ponto
minúsculo e desfocado
preocupados em salvar
sua imponência
na nuvem que se dissipa
na lembrança
feito a expiração pela boca
quando a temperatura é negativa
a lua reduzida a mais
uma foto
que se apaga
como uma anotação
perdida
perdida
a marca do sutiã
no fim de um dia
citação
para Ana
Martins Marques
para Ana
Martins Marques
não vou falar de nós
vou falar da última conversa
que tive no elevador
que tive no elevador
bom dia
o tempo vai virar
imagina no verão
vou falar dos agapantos brancos e
lilases
lilases
que só dão flor em
novembro
novembro
e morrem rápido
vou falar da nova receita que inventei
com quinoa e passas
aprendi a gostar de passas
não largo mais no canto do prato
para você
vou falar de uma raça nova de cachorro
que vi
que vi
atravessando a rua para não pisar na sua
calçada
calçada
um pelo meio desgrenhado
seu cabelo depois do banho
vou falar da poesia que li no livro que
ganhei de aniversário
ganhei de aniversário
pela idade que você não testemunhou
no jantar que você não foi
e falava sobre uma boa ideia para um
poema
poema
quase te achei uma boa ideia
você, uma
frase que encontrei num caderno antigo
frase que encontrei num caderno antigo
que achei que tivesse escrito
naqueles dias de tantas horas
e tantos beijos
mas era uma citação
que não era
minha
minha
cartomante
tomar decisões
é a melhor forma
de prever o futuro
adivinhações
I
coisas muito fáceis de perder e
difíceis de
ganhar
difíceis de
ganhar
cabelo
sono
confiança
dinheiro
você
II
o peso da saudade?
uma pluma
uma bigorna
os 74 quilos do seu corpo
III
o que há por trás de um sorriso?
saliva
um verde no dente
razão escondida
hoje é sexta
a lembrança de você
IV
que cara teria o amor?
do cachorro quando me vê com a guia nas
mãos
mãos
do surfista olhando o mar
das pintas nas mãos dadas do casal de
velhinhos
velhinhos
da criança olhando o espetáculo
circense
circense
V
quanto tempo a gente leva para
desapaixonar-se?
desapaixonar-se?
segundos
tempo de conhecer um novo amor
a eternidade
Poemas de “Lágrimas não caem no espaço” (7 Letras).
Luiza Mussnich nasceu no Rio de Janeiro, em 1991. É autora dos livros Um dia o amor vai encontrar você (2016), Microscópio (2017) e Lágrimas não caem no espaço (2018). Mais sobre a autora em luizamussnich.com .
Uma resposta
Belíssimos cinco poemas.