
O amor é um grito
Encubro a nudez
De meus versos
Com o manto efêmero
Da noite estrelada.
Enxugo as lágrimas
Do desencontro,
Por entre as páginas
Rasgadas.
O enrubescer da face,
Antes fora o pretexto
Para o enlace.
Ontem, contrato de sangue.
Agora, reles tinta lavável —
O amor é só um grito.
Feitiço
Sei que foi fácil
Levantares e ires embora,
Com ilusões quase palpáveis
De um agora que nunca existiu.
Sei que ainda me amas
E pensas nos encantos meus,
Na escuridade sou a musa
Que preenche os versos teus…
Sei que beijas outras bocas
Em teu ritmo aquiescente,
Mas meu retrato te perturbas,
Sou feitiço incandescente.
Sina
Alguns lutam
para encontrar
um amor;
outros,
para acertar
os números do jogo…
Eu, aceito a minha sina —
tenho azar nos dois
e sorte na poesia.
Último adeus
Pálpebras enfim cerradas.
Lábios arroxeados
Desfazem o carmim
Outrora vibrante.
As cortinas se fecham
Em questão de instantes,
Como aves de rapina
À espreita de nosso sangue.
As artérias se retraem,
Sucumbindo em ode à morte —
O último adeus que se dá
É um beijo no vazio.
Desejos póstumos
Quando eu morrer
não quero pranto,
nem desespero —
mas peço
que me tragam
meu livro de cabeceira.
Quando eu morrer
coloquem em meus braços
o porta-retrato da sala
e o cachimbo
que há tempos
esqueci na estante.
Quando eu morrer
não quero discursos prontos,
tampouco crisântemos brancos —
declamem-me
beijos de poesia,
antes que minha carne esfrie.

Patrícia Motta De Meo é paulistana, tradutora de inglês e italiano, bacharel em Letras com habilitação para tradutor/intérprete de inglês-português (UNIBERO), pós-graduada em Tradução Inglês-Português (UNIBERO) e graduada em Língua Italiana com certificação internacional (AEDA). Apaixonada por poesia desde pequena, a caneta sempre foi sua melhor confidente. Ama toda a forma de expressão artística – seja em verso, prosa, música, dança ou pintura.