
POENTE
a linha
do horizonte
é um tênue fio
a sustentar
o sol
a limitar
as águas
a anunciar
que se põe
o dia.
DA ESCASSEZ
a simetria
dos dias
angustia
a passividade
das mentes
também
novidade
alguma
sobre a cidade
obras inacabadas
a continuidade
do desigual
nada a repartir
sobre a terra
apenas
acumular
o gozo
dos outros
que não é meu.
CANTO OUTONAL
céu
outonou-se
vestiu-se
de gris
o vento
solfeja
melodias
o sol
faz pálidas
aparições
peço
um café
e observo
o vaivém
das almas
& coisas
& o fluxo
intenso
dos pensamentos.
TERCEIRIDADE
a esposa
quase
adiposa
nódoas
brancas
no alto
da cabeça
o ronco
estereofônico
os juros
impagáveis
do cartão
de crédito
tudo
tão cotidiano
tão despido
de possibilidades
a terceiridade
sem retoques
ou adereços.
FIGURA & FUNDO
o olhar
enviesado
do poeta
sobre
a tarja escura
dos abismos mentais
gera
a transfiguração
de nomes & coisas
sensações
introvertidas
extrai linguagem
fabrica códigos
intensos
cifrados.

Ricardo Mainieri é poeta e prosador gaúcho. Publicitário de profissão, funcionário público, aposentado. Autor dos livros de poesia: A travessia dos espelhos, 1990, Mínimo animal poeta, 2021, Emoções em trânsito, 2022, Assemblage, 2023. e Ciclos (im)perfeitos, 2024
Respostas de 2
Grato, Jandira. Obrigado, pela oportunidade.
Sempre bem vindo, Ricardo, grata eu.