ODES A ODISSEU
… e quilha cortará os oceanos!
E que ilha descobriremos? Disse Odisseu
odes a Odisseu!
Disse eu
aos tripulantes,
odes a Odisseu
que de Ítaca oculta à nau errante
está cá, está cá
destacado por Zeus
para conosco navegar
e guiar Argo
rumo além do mar distante …
O MAPA
Não se alumbra o meu olhar
ao sumiço de Ápacam;e sem
Ápacame Anatnas semiapagada
para quê me serve o mapa?
As manchas não apontarão
meu reino, mas, minha ruína,
e é ruim na hora de ir… olhar ruir
à tempestade o meu império.
Quem o desbotou a águas impuras
doÍston, foste tu, Phostito!
Por isto destituo-te do título
de meu último tutor e te intimo
a meu ritmo estimular um
cálculo marítimo que me indique
Ápacam em um gráfico le
gítimo. Estimo-te, Phostito, mas
foste tu que me levaste a isto…
MEU BARCO ÀS TREVAS
Há sombras ao meu redor
a enredarem os meus enredos.
Barcos sobrados de capítulos
de um épico apacamaico preterido
por Catulo no pretérito epílogo
que em vão eu capitulo,
hospedam fantasmas tolos
que me tolhem os delírios:
meus poemas ordinários como
os laureados lírios que escrevi
aos teus hinários, e as nereidas em exílio
que deixaste neste Aquários.
Querem-me morto, Nesso
e seus centauros, sessenta centauros
que se assentam ao porto de onde
parto rumo ao Porto – cais onde
me instalo no que aporto e
deste aborto, enfim, me aparto.
Sigo astros – mastro hirto
às ostras mostro – e as sereias-monstros
menstruam às águas do rio Íston.
Singra em sangue o meu vultoso barco,
negro casco a deslizar
por veias obscuras d’oceano visto
dos meus surtos vastos.
(Vás tu, agora, hein, rei Odeus
odiar-me à ode que escrevi aos astros?)
Outros monstros me perseguem!
Não mais centauros, mas cem touros
náuticos com cem cornos góticos
me perseguem! Às cegas sigo
e a escuridão me segue, e segue-me
o morcego que a Idmon, bendigo.
Vejo Ítaca neste mapa
destacando-se oculta e conquistada.
Ítaca está cá. Mas Ítaca
não é para a minha estada.
Troia não é para a minha estada.
Nem a grande Tessália…
– Eu perdi-me de Ápacam! –
À deriva a distância e o nada
ampliam-se inexistentes
àmediclina do astrolábio.
Poriclimeno em boto transformado
embota-se às águas desbotadas
a nadar e nada. Nada se vê
neste mar perverso, nem o céu
que a meu verso avesso me
condena às trevas do universo.
Lasso, adormeço e a sonhar
eu meço – me atormentar ao mar
ou me aturdir perante Nesso?
Ou combater os touros náuticos
a golpes de vigorosos versos?
Ou abortar que nem Catulo
os meus infernos quase impressos?
MEU BARCO AVARIADO
A peste tem nos empestado
e a tempestade à têmpora da aurora
não contemporiza-se a dor
da tua âncora aos corais.
Meu barco às pedras encalhado
Posseidon cedo pôs
seu dom a balouçar-te, nem Eufemo
o demoveu de libertar o réptil
para engendrar o nosso rapto
ePoriclimeno o viu decrepito
e eu o nominei, o Crápula!
E Kalipto o chamou de mentecapto.
Ecrepto, o Apto, o deus Apito
optou por abafar os gritos e o ranger
da tua quilha a roçar-se
aArgo naufragada a esta ilha
àoeste do infinito.
A peste tem nos empestado
e a tempestade à têmpora da aurora
não basta ao escamoso mito.
Meu barco com o casco avariado
como chegaremos ao Egito?
MEU BARCO PERDIDO
Com o casco calafetado por Hefesto
e Éolo a soprar as velas
logo singraremos o rio Íston!
Sirvam avelãs para a virgem que Domício
raptou às barbas da píton de Posseidon!
Ela possui o dom da sedução e Posseidon
não a ferirá e aferirá esta nau a não fragar-se
às pedras de Draspe; porém, ao rio Estige
ao estiar da tempestade a lançaremos
às águas como oferenda
as éguas náuticas de Caronte.
Tífis ao timão deparar-se-á
com hierofantes a modelarem-se em nuvens
para amaldiçoar-nos, para marcar-nos a fronte
castigando-nos por nossa afronta
a pureza de Frontai, a virgem de Elêusis,
a que lê-me aos deuses e não se dá aos homens.
A que alinha-se a Vênus e vê nus os homens
e os brinda com venenos.
– A quê nos meteu Domício?
Se a defenestrarmos nem Hefesto
mostrar-se-á a nós solidário
eHades há de suprimir-nos a passagem
às imediações do tártaro e lançar-nos a tortura,
a rota tortuosa que leva às ilhas d’Outrora
para sermos torturados por sereias e seus
cantos pontiagudos de finíssimas alturas
a despertarem modorras de demoras
e fadar-nos à lonjura atemporal do mês vindouro;
o que creio avistar aos seus meados
a nossa ocultaÁpacam.
– Leucósia canta e só eu a ouço
e passa-me a suar a fronte e nada a nossa frente
além de Caronte em seu barco horripilante!
– Não há cadáveres nem moedas ao convés,
não convém afrontarmos o deus…
lancemosFrontaiao rio e pronto, Aqueronte a quer.
– Diga-me Áker, para quê afundarmos ao pranto,
naufragarmos ao choro
deAcadmon, o demo d’água que agua
as mágoas de Frontai?
– Nem Argo manteve-se às bravias lágrimas!
– Mas se lançarmos Domício às águas
e as éguas de Caronte o devorarem
aviltaremos o barqueiro perante Zeus
e dormirá o leva almas à vinda de Selene
e silentes singraremos o Aqueronte ocultos ao olhar
de Argos Panoptes e nada nos verá!
– Domício é vidente e pedante, eu sei:
evidente que sabia desde antes
que o rapto de Frontei criptografado em Alpha
pôr-nos-ia em apuros…
sangro pelos poros e: não mais pares somos impares,
– por isso, impuros – Autólico morreu.
Lancem Domício ao rio! Ou o lanço eu!
Vejam no convés;
as nuvens… Frontai sumiu…
A MULHER-CICLOPE NOS ESPREITA (Chegamos a Ápacam!)
– A mulher-ciclope nos espreita e Selene é o seu olho.
Sôlyo, só a vossa aura a cegará!
Ah mor cego vesgo que esta nau morcegas
e por cegas sendas, são, nos segue…
guie-me agora, vos imploro,
guie-me agora a Guiana Ágora, a nereida moura
que namoro à grande Ápacam.
Penelope aos prados a galope se masturba, eu sei,
e aqui eu traço a ostra incrustada
à carne da sereia que de Zeus surrupiei.
– Mestre, mestre suba ao mastro e veja as luzes,
um monstruoso réptil nos espreita:
é Sofia! Sofia! É Ápacam a se mostrar no horizonte,
veja a vossa casa… e a minha… aquele infante…
(Telêmaco maculado emascula um pretendente)
às portas do palácio, e
a ode a seu feito e ao de Odisseu audível
à lira de Orfeu nos saúda; ponha a vossa capa,
vejaAnatnas: e a frente,
as antenas; já chegaremos a Ápacam, esqueça Atenas!
JOÃOZINHO GOMES: poeta e compositor paraense – radicado no Amapá, – nasceu em 20 de outubro de 1957, na cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará. Iniciou suas atividades poética/musicais na década de 1970. Em época atual, reconhecidamente como um dos mais férteis poetas-letristas da sua geração, Joãozinho Gomes ostenta uma obra que agrega parceiros – compositores e poetas – de várias regiões do Brasil, entre os quais, nomes famosos da música e da literatura brasileiras. A sua produção poética/musical consiste em aproximadamente mil canções e, cinco livros, dos quais, cerca de duzentas canções foram gravadas por seus respectivos parceiros e, apenas um livro fora editado, A Flecha Passa e poemas diVersos; recentemente teve seus poemas editados pela Revista Brasileira n° 84 da ABL Academia Brasileira de Letras e, pela Revista Acrobata, n° 5, periodicidade semestral, editada pelos poetas piauienses Aristides Oliveira, Demetrios Galvão e Thiago E. Assim sendo, somente vinte por cento de sua extensa obra está publicada.
Respostas de 2
Maravilhoso Poeta! obrigada pela música, pelo labor, pelo Tempo que penetra a pele e inunda nossos mundos! Um grande abraço!
Versos belos – muito bem elaborados.