POEMINHA A UM DOS FILHOS
ALADOS DE AFRODITE
[para Walesca Cassundé]
enquanto a ponta dos esmeros
de estéreis tipos
e os berros
e estereótipos
de incertos meros heróis
[de plantão e de aparências]
apontam erros de eros,
brota
na planura
uma plântula
num jogo sem jugo
de uma livre semente…
dela
alça voo a ave-palavra
[de plumagem furta-fogo]
rumo às paragens dos sentidos…
– semente genuína,
o ato erótico
genuinamente
é fato heróico,
não mente!
ANDARILHANDO A FUGA
[para Eduardo Mahon]
não, por esta rua não
pois esta rua é mão
de cruzamento único… sombrio…
sem sede… sem febre…
um andarilho original
não solta pipas cores de névoas:
sua visão arranha sóis
e andarilha céus
além do décimo quarto andar…
precisa da pedra
inoxidável
sem tinta,
sem tanto sal confinado
semeia galerias
que pulsam avessas ao sussurro
dos cata-ventos…
em nubladas alamedas
de chamas e tribulações
não busca decifrar as tubulações
e chaminés
de um distante paço made in usa
– mas apenas o distinto passo
da medusa… de aço!
O ‘AVIÃO INVISÍVEL’
[para Raquel Naveira e seu livro]
é um caça RN-2017*
[da força aérea da palavra]
missão: combater com mísseis de primazia
a mesmice do cotidiano…
tem a dimensão de um pássaro
e a envergadura do horizonte
num voo de frisson
sem barreira…
possui asas e cauda de ‘essência pura’
e é mais veloz do que o zoom
do tempo presente…
| criação além do sonho? |
enfim
perceptível aos radares da sensibilidade
invisivelmente decola
e aterrissa em silêncio
sem trem de pouso
nos trilhos de trigos dourados…
e descobre-se
o infinito-em-si
essencial
além do céu… ∞ além do véu!
“UT PICTURA POESIS”
[para Humberto Espíndola]
É sempre fertilidade…
é fértil idade na arte
destarte
o pulso da sua criação
é ímã e imagem…
intui e pinça céus de brasas
[pincéis de asas
e versos de volúpia]…
do cio e do seio dos segredos da alma
com calma
vêm as dádivas e enigmas
dos gumes da sua essência
aboiando os lumes do enlevo…
na fecundidade do tempo-espaço
qual uma boiada de sonhos e senhas
a seiva original da sua arte
nutre
gera
rege
e regenera…
é Pujante de Origem!
CELEBRAÇÕES
[para Manoel de Barros]
Aos resolutos voos de um impulso azul,
os segredos dos horizontes
buscam as escadarias tatuadas
pelas vibrações da essência…
Um pendão de silêncio
perfumador de visões
desenvelhece o final da tarde…
Indiferentes
ao teorema rudimentar do tempo,
caramujos e rãs
velam os recipientes das nuvens,
regam as estrelas com a seiva das avencas
e reinventam dádivas indormidas
ante o estado de infinito
dos enigmas espelhados
no colo da noite…
Das varandas da madrugada
a lua desconhece
edifícios e vitrais
e aos poucos
dá lugar aos lírios…
Em seus destinos e acenos,
pássaros, pedras,
árvores, ventos,
bichos e águas
celebram liberdade
com borboletas
que rendilham o alvorecer
e restauram trilhas humanas…
Do chão festivo
brota uma harpa em timbre de poesia,
reinaugurando o enlevo
e anunciando o dia…
– Teu dia, poeta!
NU EN/CANTO
[ao poeta Benny Franklin]
nem flautas de bambu
nem alaúdes embalam teu canto…
é amargo e visionário o teu acorde
é qual uivo flamejante
que estilhaça a soberba
dos deuses fementidos
e ecoa nos abismos
pendurados no tempo…
há fúria
transformadora de euforias
na palma da língua do teu verso
nos grafites da não-espera
na clave do teu cântico
[brado be(at)nnyfrankliniano
desnudo
travesso
agudo
possesso
inconfesso
avesso a tópicos utópicos]
com asas de sol
teu livre prelúdio
derrete os anéis de cera dos protocolos
ofusca as sirenes lacrimogêneas
e em consciência
abomina a palavra enferma
que lambe as chagas da hipocrisia.
é míssil o teu canto amolado:
mira a glândula pineal dos tabus…
é verve insurgente
que embala as vielas
& abala as astúcias…
é translúcido delírio
nu en/canto
– não finge orgasmo:
deslacra-se do túmulo existencial
extasia-se plenamente…
até o teu silêncio
revigora as trilhas esganiçadas
que fecundam lâminas de liberdade…
Imagens: Max Mitenkov
Rubenio Marcelo: é poeta escritor, compositor, ensaísta e revisor. Membro titular da Cadeira 35 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), da qual é atualmente integrante da Comissão de Cultura e foi secretário-geral (até outubro/2020). Autor de dez livros publicados e três CDs, destacam-se nas suas obras autorais mais recentes, além do CD “Parcerias”, os livros Horizontes D’Versos, Voo de Polens, Veleiros da Essência, Palavras em Plenitude (prosa e crítica cultural, Ed. Life) e Vias do Infinito Ser”(poemas, pela Ed. Letra Livre), este – já em segunda edição – indicado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) como leitura obrigatória para o Vestibular 2021/2022 e para o triênio do PASSE. É membro correspondente da Academia Mato-Grossense de Letras (AML). Foi Conselheiro Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul. Reside em Campo Grande/MS.
Uma resposta
Adoro a poesia do Rubênio. Tenho um poema escrito anos atrás chamado "Ave palavra!"
É uma expressão muito boa de se dizer. É também um nome de uma página de poesia no Facebook.