6 Poemas Dedicados de Rubenio Marcelo

 

 

POEMINHA A UM DOS FILHOS

ALADOS DE AFRODITE

                           [para Walesca Cassundé]

 

enquanto a ponta dos esmeros

de estéreis tipos

e os berros

e estereótipos

de incertos meros heróis

[de plantão e de aparências]

 apontam erros de eros,

 

brota

na planura

uma plântula

num jogo sem jugo

de uma livre semente…

 

dela

alça voo a ave-palavra

[de plumagem furta-fogo]

 rumo às paragens dos sentidos…

 

– semente genuína,

   o ato erótico

   genuinamente

   é fato heróico,

   não mente!

 

  

ANDARILHANDO A FUGA

                          [para Eduardo Mahon]

 

não, por esta rua não

pois esta rua é mão

de cruzamento único… sombrio…

                sem sede… sem febre…

 

um andarilho original

não solta pipas cores de névoas:

sua visão arranha sóis

e andarilha céus

    além do décimo quarto andar…

precisa da pedra

inoxidável

sem tinta,

sem tanto sal confinado

 

semeia galerias

que pulsam avessas ao sussurro

                         dos cata-ventos…

 

em nubladas alamedas

de chamas e tribulações

não busca decifrar as tubulações

                                  e chaminés

de um distante paço made in usa

– mas apenas o distinto passo

da medusa… de aço!

 

 

O ‘AVIÃO INVISÍVEL’

       [para Raquel Naveira e seu livro]



é um caça RN-2017*

[da força aérea da palavra]

missão: combater com mísseis de primazia

a mesmice do cotidiano…

 

tem a dimensão de um pássaro

e a envergadura do horizonte

num voo de frisson

           sem barreira…

 

possui asas e cauda de ‘essência pura’

e é mais veloz do que o zoom

do tempo presente…

| criação além do sonho? |

 

enfim

perceptível aos radares da sensibilidade

invisivelmente decola

e aterrissa em silêncio

sem trem de pouso

nos trilhos de trigos dourados…

 

e descobre-se

o infinito-em-si

essencial

além do céu… ∞ além do véu!

            

          

“UT PICTURA POESIS”

          [para Humberto Espíndola]

 

É sempre fertilidade…

é fértil idade na arte

destarte

o pulso da sua criação

é ímã e imagem…

 

intui e pinça céus de brasas

            [pincéis de asas

             e versos de volúpia]…

 

do cio e do seio dos segredos da alma

com calma

vêm as dádivas e enigmas

dos gumes da sua essência

aboiando os lumes do enlevo…

 

na fecundidade do tempo-espaço

qual uma boiada de sonhos e senhas

a seiva original da sua arte

 nutre

 gera

 rege

 e regenera…

 

é Pujante de Origem!

 

          

CELEBRAÇÕES

      [para Manoel de Barros]

Aos resolutos voos de um impulso azul,

os segredos dos horizontes

buscam as escadarias tatuadas

pelas vibrações da essência…

Um pendão de silêncio

perfumador de visões

desenvelhece o final da tarde…

 

Indiferentes

ao teorema rudimentar do tempo,

caramujos e rãs

velam os recipientes das nuvens,

regam as estrelas com a seiva das avencas

e reinventam dádivas indormidas

ante o estado de infinito

dos enigmas espelhados

no colo da noite…

 

Das varandas da madrugada

a lua desconhece

edifícios e vitrais

e aos poucos

dá lugar aos lírios…

 

Em seus destinos e acenos,

pássaros, pedras,

árvores, ventos,

bichos e águas

celebram liberdade

com borboletas

que rendilham o alvorecer

e restauram trilhas humanas…

 

Do chão festivo

brota uma harpa em timbre de poesia,

reinaugurando o enlevo

e anunciando o dia…

 

– Teu dia, poeta!

 

 

NU EN/CANTO

        [ao poeta Benny Franklin]

  

nem flautas de bambu

nem alaúdes embalam teu canto…

é amargo e visionário o teu acorde

é qual uivo flamejante

que estilhaça a soberba

                      dos deuses fementidos

e ecoa nos abismos

                      pendurados no tempo…

 

há fúria

transformadora de euforias

na palma da língua do teu verso

         nos grafites da não-espera

na clave do teu cântico

[brado be(at)nnyfrankliniano

     desnudo

        travesso

        agudo

          possesso

            inconfesso

 avesso a tópicos utópicos]

 

com asas de sol

teu livre prelúdio

derrete os anéis de cera dos protocolos

ofusca as sirenes lacrimogêneas

e em consciência

abomina a palavra enferma

que lambe as chagas da hipocrisia.

 

é míssil o teu canto amolado:

mira a glândula pineal dos tabus…

             é verve insurgente

             que embala as vielas

& abala as astúcias…

é translúcido delírio

nu en/canto

– não finge orgasmo:

 deslacra-se do túmulo existencial

 extasia-se plenamente…

 

até o teu silêncio

revigora as trilhas esganiçadas

que fecundam lâminas de liberdade…

Imagens: Max Mitenkov

Rubenio Marcelo: é poeta escritor, compositor, ensaísta e revisor. Membro titular da Cadeira 35 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), da qual é atualmente integrante da Comissão de Cultura e foi secretário-geral (até outubro/2020). Autor de dez livros publicados e três CDs, destacam-se nas suas obras autorais mais recentes, além do CD “Parcerias”, os livros Horizontes D’VersosVoo de PolensVeleiros da EssênciaPalavras em Plenitude (prosa e crítica cultural, Ed. Life) e Vias do Infinito Ser”(poemas, pela Ed. Letra Livre), este – já em segunda edição – indicado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) como leitura obrigatória para o Vestibular 2021/2022 e para o triênio do PASSE. É membro correspondente da Academia Mato-Grossense de Letras (AML). Foi Conselheiro Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul. Reside em Campo Grande/MS. 

Uma resposta

  1. Adoro a poesia do Rubênio. Tenho um poema escrito anos atrás chamado "Ave palavra!"
    É uma expressão muito boa de se dizer. É também um nome de uma página de poesia no Facebook.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *