
APÓS
Nos encontros além da sepultura
descobriremos pureza total. Também a ausência do mar
e nos olhos a completa
extinção do sal.
***
IMENSIDÃO
No firmamento fausto há sempre canção. O coração
nas estrelas é vestígio e me anuncia.
Para toda essa imensidão apenas uma travessia…
vastidão. Mais que um lamento, refúgio
da esperança quando convém. Nesse universo
em alguma pedra precipício é sempre propício haver
nova manhã, daquele tipo que ninguém nunca viu,
sem o flagelo ordinário do tempo, esse lugar no corpo
desprovido de compaixão.
***
GRÃOS
Por todos os lados, cores. Nas aves no vento, liberdade.
Em cada gole de paz uma vida sem pressa.
Sem maldade depois das flores sementes deram os seus sinais.
Sobre a terra nos grãos germinando
é que minha vida em sossego prossegue.
***
VIDA
Tão fina se inclina a água sem mágoa
no seio dela. Sua doçura tem riso de rio distante da areia,
casa alheia estreitamente alongada no meio do caos.
De tudo se abstém para ser apenas ela,
água e mais ninguém.
Percurso inocente… abraço.
Canção descida… regaço.
Dentro de mim buscar o rio é alento.
Pena que hoje o vento ao contrário suspira.
***
SENDA
Cada criatura à sua altura.
No rumo do mundo, trajetória. Cada história
é extrema viagem. Cinco são os sentidos que gemem
sobre as asas firmes
desse movimento sem fim.
***
AMANHECER
Auroras que encobrem o mundo num orvalho
favores do vento destilam. O grito que há na flor
a vida na gota e na cor do horizonte novo
me arrebatam.
Repor a sombra não me convém.
Amanhecer é tudo para mim.
Pena que acaba e é sem saída o tempo que escorre
pelas veias, pelas teias do universo que um dia
há de ir e nunca mais voltar.
Pena que as manhãs não cabem todas dentro de mim
senão eu mesmo as esconderia aqui em meu peito
e jamais haveriam de ser desprezadas outra vez.
***

Respostas de 5
O cuidado para com conteúdo e forma é, na minha limitada percepção, ponto fulcral do poema pertinente, elegante e funcional.
Óbvio, isto, talvez. Porém muito pouco praticado. Seja pela ignorância quanto à sua importância essencial, seja pela incapacidade, em maior ou menor grau, para levá-lo a efeito.
Eu, por exemplo, me vejo na segunda condição. Poucas vezes logro êxito.
O poeta de escol Renato Melo alcança plenamente, mediante hábil cuidado, o que deve ser relevante, adequado; nas expressões bem elaboradas; na ciência de compor sobre fundamentos necessários e suficientes.
Os poemas que li, sobre os quais deitei minúcia, firmam a posição do autor em não fazer concessões. Não no sentido de tender ao hermético, longe disto. Mas, sim, em exigir do leitor que este faça sua parte: leia com redobrada atenção e saiba compreender.
Prezado, Léo Mittaraquis; saúde!
Eu, poeta insipiente, recebo com indizível satisfação, seus comentários a respeito de meus poemas. Não estou acostumado!
Abraços.
🍷🍷
Meu amigo e irmão em Yeshua, estou demasiado feliz com os poemas que acabei de ler. Aliás, desde a sua publicação de Eu, o Cosmo e o Caos, venho observando seu desenvolvimento, e hoje, passado por Um nó na garganta desde o princípio do mundo, além de O Sol posto no rosto, que tive o prazer de ler antes de sua publicação. Enfim, sua jornada declara que uma voz singular está surgindo, a sua voz poética, o seu jeito de dizer as coisas em poesia, e creio que a prova se concretiza mais uma vez com o seu mais novo livro, com título belíssimo, Íntimo das Aves. Agora sei que você, caro Renato, cujo ministério da palavra se bifurca em duas frentes, tendo a poesia também como um sacerdócio, que está voando sozinho, voando alto, tão íntimo dos céus, como as aves de grande envergadura. Que D’us continue o abençoando.
Obrigado, caro amigo e mestre, Mateus Machado!
Tenha certeza que nesse meu percurso que mencionou estão as suas “mãos”. Foram muitos de seus conselhos e orientações que me fizeram encontrar esse caminho. Espero permanecer nele! Agradeço por seus conselhos e gentileza de sempre!
Abraços!