7 poemas inéditos de Pedro Du Bois


IMÓVEL

a imobilidade confunde
o pássaro. Respira a proximidade
entre o predador e a presa ausente.
               Corrói passos repisados
sobre idades concluídas. O imóvel
desfazer da oportunidade: correr
significa ficar em espaços
de condução e conversas. O pássaro
                            distraído em voos.


ESTÁTUA

O rosto da estátua
                 antefeita face: cinzelada
                 forma. Na conformidade
                           o autor
                           expressa
                           sua totalidade: harmoniza
                                                 a ideia.

A  imobilidade da pedra conserva
a expressão deixada ao tempo:
                    esboroa centenários.

O polimento reflete sua impropriedade
na ausência.


VOCÊ E O PASSADO

Você é passado: imagem
lembrada na solidão. Desconforto
de haver transitado
             procuras: antes do anoitecer
             formas demonstram
             ganância em que se apega.

Antes se apaguem olhares substituídos
no esforço: passos se afastam na rapidez
transmitida pelo silêncio: sua garganta
recortada em pronúncias.



BUSCAR

Anos intermináveis demarcam
buscas pelo mistério
encerrado em recados
criptografados antes
da velocidade. Adiante o encontro
demonstra a perda silenciosa
do retorno. Dias avançam gritos
                 em anagramas.

     Passos cadenciam
     relevâncias. Águas
     em folhas no fundo da xícara:

             de que falam as crianças
                         com medo.


LEGADO

Culturalmente insólito
meus olhos decompõem o legado
na acumulação de sentidos ignorados
apropriados em estigmas: palavras.

     Martelam minha cabeça.
     Hidras intervenientes contam
histórias inexistentes: iluminam telas
apropriadas em disparates.

Sou resultante: abusado intelectualmente
minto falta de cuidado. Habito
o que chamo superfície.


FRONTEIRIÇOS

Toda fronteira
        trama permanências:
        o medo desconversa
        pedidos de documentos.

O olhar apátrida recolhe
o caminho em que se desconsola.

        Chove sobre a borda
        desconsiderada
        entre terras
     desigualadas. Toda permanência
     reconstrói fronteiras
     onde se isola.


SOBRE ESPERAS

Minha espera
desperta
em ti
angústia: podemos rearrumar
              o quarto antes
              anoiteça. Esquecer
              mágoas transversas.

O despertar envolve pássaros
antes do tempo: tu dormes
a antevisão
revista
em sonho. Podemos atravancar
o espaço com reclamações e gestos.

Calamos impropriedades e nos deixamos
ficar em desconforto. A espera repete
gestos ante o desgosto.


Galeria: Zdenko



Pedro Du Bois, poeta e contista. Passo Fundo, RS, 1947, residente em Balneário Camboriú,SC. Vencedor do 4º Prêmio Literário Livraria Asabeça, SP, com o livro  Os objetos e as coisas( Editora Scortecci, São Paulo, 2005). Editor-autor, com diversos títulos publicados artesanalmente, em tiragens mínimas, não comercializáveis. Textos publicados em diversos sites e blogs de literatura. Teve publicado, em 2009, o livro A Criação Estética, poemas, Corpos Editora, Portugal.

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