IMÓVEL
a imobilidade confunde
o pássaro. Respira a proximidade
entre o predador e a presa ausente.
Corrói passos repisados
sobre idades concluídas. O imóvel
desfazer da oportunidade: correr
significa ficar em espaços
de condução e conversas. O pássaro
distraído em voos.
ESTÁTUA
O rosto da estátua
antefeita face: cinzelada
forma. Na conformidade
o autor
expressa
sua totalidade: harmoniza
a ideia.
A imobilidade da pedra conserva
a expressão deixada ao tempo:
esboroa centenários.
O polimento reflete sua impropriedade
na ausência.
VOCÊ E O PASSADO
Você é passado: imagem
lembrada na solidão. Desconforto
de haver transitado
procuras: antes do anoitecer
formas demonstram
ganância em que se apega.
Antes se apaguem olhares substituídos
no esforço: passos se afastam na rapidez
transmitida pelo silêncio: sua garganta
recortada em pronúncias.
BUSCAR
Anos intermináveis demarcam
buscas pelo mistério
encerrado em recados
criptografados antes
da velocidade. Adiante o encontro
demonstra a perda silenciosa
do retorno. Dias avançam gritos
em anagramas.
Passos cadenciam
relevâncias. Águas
em folhas no fundo da xícara:
de que falam as crianças
com medo.
LEGADO
Culturalmente insólito
meus olhos decompõem o legado
na acumulação de sentidos ignorados
apropriados em estigmas: palavras.
Martelam minha cabeça.
Hidras intervenientes contam
histórias inexistentes: iluminam telas
apropriadas em disparates.
Sou resultante: abusado intelectualmente
minto falta de cuidado. Habito
o que chamo superfície.
FRONTEIRIÇOS
Toda fronteira
trama permanências:
o medo desconversa
pedidos de documentos.
O olhar apátrida recolhe
o caminho em que se desconsola.
Chove sobre a borda
desconsiderada
entre terras
desigualadas. Toda permanência
reconstrói fronteiras
onde se isola.
SOBRE ESPERAS
Minha espera
desperta
em ti
angústia: podemos rearrumar
o quarto antes
anoiteça. Esquecer
mágoas transversas.
O despertar envolve pássaros
antes do tempo: tu dormes
a antevisão
revista
em sonho. Podemos atravancar
o espaço com reclamações e gestos.
Calamos impropriedades e nos deixamos
ficar em desconforto. A espera repete
gestos ante o desgosto.Galeria: Zdenko
Pedro Du Bois, poeta e contista. Passo Fundo, RS, 1947, residente em Balneário Camboriú,SC. Vencedor do 4º Prêmio Literário Livraria Asabeça, SP, com o livro Os objetos e as coisas( Editora Scortecci, São Paulo, 2005). Editor-autor, com diversos títulos publicados artesanalmente, em tiragens mínimas, não comercializáveis. Textos publicados em diversos sites e blogs de literatura. Teve publicado, em 2009, o livro A Criação Estética, poemas, Corpos Editora, Portugal.
Uma resposta
Excelentes, como sempre! Parabéns!!!!