sob nome falso

publico meus delírios
e devaneios.

ao me olhar no
espelho percebo,

falso não é o nome,

mas meus eus.

 

∞

 

pensamento pensa?

penso, e no pensar

a cabeça pesa,

 

e cheia de pensamento,

nem sempre pensa

o pensar do pensamento

 

mas pensar o que penso

se o pensamento pensa

só me deixa tenso

 

∞

 

não sou escritor

não sou poeta

não sou cineasta

não sou artista

não sou nada

o que sou?

letras

afirmando palavras

 

∞

 

aqui

ali

acolá

juntava palavras

que se embaralhavam

e se perdiam.

um velho aconselhou

− aprenda a copiar.

agora,

aqui

ali

acolá

copia palavras

que se perdem

 

palavras paralice

 

palavras existem

para tudo

para

tudo

para tudo

palavras

existem

até para copiar alice

numa outra toca

onde não tem coelho

nem sorriso de gato

mas tem palavras que
servem

para tudo

 

tudo

 

menos na hora h

quando elas faltam…

aí

aí vem o silêncio…

palavras impressas

no branco do papel

nenhum silêncio

 

∞

 

se a gente
veio

d´algum
lugar

é bom
lembrar

inda que
nada resolva

mas é bom
lembrar

a gente
veio de algum lugar

e vamos a
lugar algum

nesse
caminhar

que é o
nosso lugar

 

∞

 

BLUE AIS

 

eu estava ali

parado

ela puxou o tapete

me jogou no fogo

ah essa dor que não
vejo

 

∞

 

a
poesia salva

o poeta morre

a palavra vive

 

 

Ilustrações: Juan Genovés

 

Cesar Augusto de Carvalho é escritor e poeta. Com três livros de poesia publicados, Proesia (Ed. Independente, 2013), Lavras ao veto, pá (Benfazeja, 2017) e Curto-circuito (Patuá, 2019), lançou neste ano o livro de contos Histórias de Quem (Desconcertos, 2020). Dirige o Canal do Poetariado, programa mensal sobre poesia e vida literária do convidado, veiculado pelo Youtube (https://www.youtube.com/c/canaldopoetariado). Divide a curadoria do Sarau Gente de Palavra Paulistano e o Sarau da Paulista com Rubens Jardim, saraus atualmente suspensos devido à crise do coronavírus.