9 poemas de Bruno Ítalo


O AMOR E OUTROS ÓDIOS


Meu sangue
decantado
em veias mortas
jorrará em pedras
 
lítica
visão
 
as pedras
enegrecidas
se lançarão em arcos
de volta ao solo árido
 
chafariz
paixão
 
cairão
em terra fértil
sementes vivas
pedras do novo templo
 
flores
serão

EXSICATA

Aperto o passo e ainda assim carrego
presa ao sapato
a folha seca e quebradiça
 
arrasto a sola
chuto a porta
dou três pulos…
 
Impávida, resiste
 
De repente, a percebi triste
crepitada ao sol – antes fonte
lançada ao solo – antes forte
tangida pelo vento
que a embalava
 
Veio a mim
buscando novo tronco
nova raiz
orvalho – quem sabe
 
Agora conservo
seu limbo prensado
nos versos de um poema
 
 


ALENTO

Treme o céu de zinco
em lufadas de pensamento
 
o tempo passa lento
cavalgando nuvens
 
espero que se curvem
alma e tegumento
ao belo ornamento
de andaimes e tapumes
 
Da janela do apartamento
                        o tempo
                          passa
                            ale
                             n
                             t
                             o
 

PASSO

Desço a rua
como quem desse a noite
 
olho para trás –
ouço meus passos
passarem por mim
 
piso em memórias
dos últimos dias
 
um cachorro escuro
esguio feito a brisa
vigia a rua
vazia
 
enquanto passo
mais brisa
mais rua
mais vazia…
 
enquanto passo
o animal sem guia
me vigia
 
 
MILAGRE

Sondava o acaso
sutil
do milagre
do impossível e imprevisto…
 
e dentre mil acres
acasos
– doce raro
   aro de sol
um veio me dar azo
 
o mais
límpido raio
com leves mil asas
– naves de luz
pousou
em meu peito ímpio
 
o ocaso cindiu em cacos
ruiu em êxtase
 
se redimiu
 

 

GALÁXIAS

Como me impressiona
o lado negro dos teus olhos…
 
muito me comove o cosmos
na expressão de tua face
luminosa
 
vejo infinitas galáxias
nas espirais dos teus cabelos
caio em buracos negros
quando te sinto respirar
 
e é tudo tão pequeno
tão simples
tão arcano
tão celeste
tão mundano
 
que eu me encontro
suspirando
por tão pouco saber
por tanto mais acreditar
 

 
PATA
 
Um cão de memória curta
lambendo a pata
quer guardar
o sabor dos passos
 
Já o rabo
            balança
      feliz
 
            não
     toca
            o chão
 
                        fica
            para
trás
 
 
TOMBO

A nostalgia é o que me guia
nestes paços vaporosos
 
minha sede é de instantes
eternidades esquecidas
nas sombras de um quintal
 
sinestesias que rugem alto
tacos de madeira
pães e pedras
em tatos vivos fragrantes
cores vagantes de um vitral
 
em cada abrir de olhos
tomba a casa já tombada
para nada além da fachada
e o som dos sinos na catedral
 
em cada voz tombada
o menino ávido por lembranças
e sua baladeira de palavras
alvejando a cabeleira branca
e suas taças de cristal
 
 
VÍRGULAS
 
À beira do infinito
desenho vírgulas na areia
como quem ainda quisesse
cavar pausas
no vazio
 
vidro olhos nos rastros
arruinados
pelo tempo
 
parece mesmo
tão bonito

o que o mar destruiu


Ilustrações: PhotoartBK

 

Bruno Í. S. Pinto. Nascido em Teresina/PI (1985). Servidor público federal. Bacharel em Direito. Poeta e músico. Publica seus poemas regularmente na rede social Instagram (perfil @bispoesias). 

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