O AMOR E OUTROS ÓDIOS
Meu sangue
decantado
em veias mortas
jorrará em pedras
lítica
visão
as pedras
enegrecidas
se lançarão em arcos
de volta ao solo árido
chafariz
paixão
cairão
em terra fértil
sementes vivas
pedras do novo templo
flores
serão
EXSICATA
Aperto o passo e ainda assim carrego
presa ao sapato
a folha seca e quebradiça
arrasto a sola
chuto a porta
dou três pulos…
Impávida, resiste
De repente, a percebi triste
crepitada ao sol – antes fonte
lançada ao solo – antes forte
tangida pelo vento
que a embalava
Veio a mim
buscando novo tronco
nova raiz
orvalho – quem sabe
Agora conservo
seu limbo prensado
nos versos de um poema
ALENTO
Treme o céu de zinco
em lufadas de pensamento
o tempo passa lento
cavalgando nuvens
espero que se curvem
alma e tegumento
ao belo ornamento
de andaimes e tapumes
Da janela do apartamento
o tempo
passa
ale
n
t
o
PASSO
Desço a rua
como quem desse a noite
olho para trás –
ouço meus passos
passarem por mim
piso em memórias
dos últimos dias
um cachorro escuro
esguio feito a brisa
vigia a rua
vazia
enquanto passo
mais brisa
mais rua
mais vazia…
enquanto passo
o animal sem guia
me vigia
MILAGRE
Sondava o acaso
sutil
do milagre
do impossível e imprevisto…
e dentre mil acres
acasos
– doce raro
aro de sol
um veio me dar azo
o mais
límpido raio
com leves mil asas
– naves de luz
pousou
em meu peito ímpio
o ocaso cindiu em cacos
ruiu em êxtase
se redimiu
GALÁXIAS
Como me impressiona
o lado negro dos teus olhos…
muito me comove o cosmos
na expressão de tua face
luminosa
vejo infinitas galáxias
nas espirais dos teus cabelos
caio em buracos negros
quando te sinto respirar
e é tudo tão pequeno
tão simples
tão arcano
tão celeste
tão mundano
que eu me encontro
suspirando
por tão pouco saber
por tanto mais acreditar
PATA
Um cão de memória curta
lambendo a pata
quer guardar
o sabor dos passos
Já o rabo
balança
feliz
não
toca
o chão
fica
para
trás
TOMBO
A nostalgia é o que me guia
nestes paços vaporosos
minha sede é de instantes
eternidades esquecidas
nas sombras de um quintal
sinestesias que rugem alto
tacos de madeira
pães e pedras
em tatos vivos fragrantes
cores vagantes de um vitral
em cada abrir de olhos
tomba a casa já tombada
para nada além da fachada
e o som dos sinos na catedral
em cada voz tombada
o menino ávido por lembranças
e sua baladeira de palavras
alvejando a cabeleira branca
e suas taças de cristal
VÍRGULAS
À beira do infinito
desenho vírgulas na areia
como quem ainda quisesse
cavar pausas
no vazio
vidro olhos nos rastros
arruinados
pelo tempo
parece mesmo
tão bonito
o que o mar destruiu
Ilustrações: PhotoartBK
Bruno Í. S. Pinto. Nascido em Teresina/PI (1985). Servidor público federal. Bacharel em Direito. Poeta e músico. Publica seus poemas regularmente na rede social Instagram (perfil @bispoesias).
Respostas de 7
Ótima escolha de poemas, Bruno.
Muito obrigado pelo espaço, Jandira. Especial agradecimento também à poeta Solange Firmino, pela amizade e incentivo.
Bem vindo, Bruno, o espaço vai estar sempre aberto para você.
Bruno, seus poemas são nutrientes para minha alma!
Parabéns, meu amigo. Que você conquiste cada vez mais espaços. Uma alegria enorme ver sua poesia passeando.😊
Parabéns, meu amigo. Que você conquiste cada vez mais espaços. Uma alegria enorme ver sua poesia passeando.��
Agradeço imensamente pela leitura e gentileza, Maria