ERVILHA VERMELHA
Ontem me perguntaram se eu era uma menina
E eu não soube responder
Esse inferno de pergunta.
Não que eu não seja mulher —
Mais que isso
— É que eu sou tantas coisas:
Uma garota,
Uma amante
Uma gota,
Um semblante,
Um inverno
Um menino,
Um pingo
E um girino,
Um giro de roda
No vento leste que sopra
No ponto final em cada esquina.
Uma menina é pouca coisa
Quando eu sou tantas outras
Entre cada ervilha vermelha
Do interno do punho em meu ventre.
SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINAS
nos sábados
e nos domingos
o frasco fala
“para homens!”
nas segundas,
nas terças e nas quartas,
a cartela convaqueia
“para mulheres!”
nas quintas e nas sextas
completo com meia
cápsula de cada
a vitamina de homem influencia
nos músculos e na energia
a vitamina de mulher influi
nas unhas e na pele macia
para o espanto de todos,
não só dos farmacêuticos,
das farmacêuticas e
também des farmaceutiques
nenhuma delas me deixa
mais ou menos homem mais
ou menos mulher mais ou menos
anarco viado comunista
trans sapatona convicta.
SILEPSES
Errante
Persigo o silêncio
Como o perigo impregna
Silepses
Sin,táticas
Sem tato
Ou sentido
Há discordância:
O gênero indica o feminino
Mas concordo com o masculino
A concordância não se faz
Com o semelhante
Mas com o outro
o oculto,
O Incutido,
Incurso
Indiscutível.
A omissão pressupõem-lhes
O erro.
Errante persisto
Não com,
Mas preso no sss silêncio
Das minhas sss silepses.
SENTENÇA
a fala não carrega
a frase , só há sentença
a oração é a que mais condena
as lutas
as ruas
as tramas
as putas
as bixas
as bruxas
as damas
as nuas
as minhas
e as tuas
o período é composto
o terno veste
o termo eclesiástico
o que doutrina sim,taticamente
o discurso é norma, padrão masculino
Ele não carrega o A, artigo da frase
o que existe é culpa
sentença imperativa do não.
BE NARY
Hello, meu nome is
Nery.
I wanted to be a human
but humano não posso ser
I can not be.
Eu não sei o que é
to be
Me.
ser “Eu”
Se eu tivesse um
“Eu”
eu seria binário
Be-Nary
Mas
Humanos
Não são binários
010110100
Nary is.
Eu sou
humans isent’o.
Jéssica Iancoski é escritora, poeta e artista plástica. Publicou em várias antologias e revistas, nacionais e internacionais. Teve o poema “Rotina Decadente” reconhecido pela Academia Paranaense de Letras, aos 16 anos de idade. É idealizadora do Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de poesias, segundo o Spotify – com mais de 40 mil ouvintes diferentes, ao longo do tempo. Nasceu em Curitiba em 10 de Fevereiro de 1996. É formada em Letras pela Universidade Federal do Paraná e em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Contato www.jessicaiancoski.com | @Euiancoski
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