5 poemas de Jéssica Iancoski

 

 

ERVILHA VERMELHA

 

Ontem me perguntaram se eu era uma menina

E eu não soube responder

Esse inferno de pergunta.

 

Não que eu não seja mulher —

Mais que isso

— É que eu sou tantas coisas:

 

Uma garota,

Uma amante

Uma gota,

Um semblante,

Um inverno

Um menino,

Um pingo

E um girino,

 

Um giro de roda

No vento leste que sopra

No ponto final em cada esquina.

 

Uma menina é pouca coisa

Quando eu sou tantas outras

Entre cada ervilha vermelha

Do interno do punho em meu ventre.



SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINAS

 

nos sábados

e nos domingos

o frasco fala

“para homens!”

nas segundas,

nas terças e nas quartas,

a cartela convaqueia

“para mulheres!”

nas quintas e nas sextas

completo com meia

cápsula de cada

 

a vitamina de homem influencia

nos músculos e na energia

a vitamina de mulher influi

nas unhas e na pele macia

 

para o espanto de todos,

não só dos farmacêuticos,

das farmacêuticas e

também des farmaceutiques

nenhuma delas me deixa

mais ou menos homem mais

ou menos mulher mais ou menos

anarco viado comunista

trans sapatona convicta.



SILEPSES

 

Errante

Persigo o silêncio

Como o perigo impregna

Silepses

        Sin,táticas

Sem       tato

   Ou sentido

Há discordância:

O gênero indica o feminino

Mas concordo com o masculino

A concordância não se faz

Com o semelhante

Mas com o outro

                             o oculto,

O Incutido,

Incurso

Indiscutível.

A omissão pressupõem-lhes

O erro.

Errante persisto

Não com,

Mas preso no           sss silêncio

Das minhas     sss silepses.



SENTENÇA

 

a fala não carrega

a frase , só há sentença

a oração é a que mais condena

 

as lutas

as ruas

as tramas

as putas

as bixas

as bruxas

as damas

as nuas

as minhas

e as tuas

 

o período é composto

o terno veste

o termo eclesiástico

o que doutrina sim,taticamente

o discurso é norma, padrão masculino

 

Ele não carrega o A, artigo da frase

o que existe é culpa

sentença imperativa do não.



BE NARY

 

Hello, meu nome is

Nery.

 

I wanted to be a human

but humano não posso ser

 

I can not be.

 

Eu não sei o que é

to be

Me.

 

ser “Eu”

 

Se eu tivesse um

“Eu”

eu seria binário

 

Be-Nary

 

Mas

Humanos

Não são binários

 

010110100

 

Nary is.

Eu sou

humans isent’o.



Jéssica Iancoski é escritora, poeta e artista plástica. Publicou em várias antologias e revistas, nacionais e internacionais. Teve o poema “Rotina Decadente” reconhecido pela Academia Paranaense de Letras, aos 16 anos de idade. É idealizadora do Toma Aí Um Poema – o maior podcast lusófono de declamação de poesias, segundo o Spotify – com mais de 40 mil ouvintes diferentes, ao longo do tempo. Nasceu em Curitiba em 10 de Fevereiro de 1996. É formada em Letras pela Universidade Federal do Paraná e em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Contato www.jessicaiancoski.com | @Euiancoski


 





 


 


 

 


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