G2
Despertei
ciente do sol entre
terrores que nem
o gene compreende
pus então rédeas em
um dos poucos sonhos
um dos que é preciso
lembrar
fora das linhas de
pesquisa
das pedagogias dos
motes
envelhecidos de
novidade
daqueles noutro país
mas as paredes os
medos
a alegria que espia
os mesmos daqui
contigo
inteiro
sorrindo
se expandindo
fora do gesso
trincado
por trás do coração
ao fígado
dos que me perdoam
por continuar fugindo
sem chorar
dos que me alcançam
como não te colhi
um fio d’água
seguindo meus dedos
a fome através das
eras
em que tudo se deseja
pousa e carimba
a vida: é isso
Ao menos hoje
assim
entre fogos e mães
brigando com os
filhos
não é triste aguardar
faz sentido
cutucar o chão
com pés esquecidos
sento e miro
azuis que me engolem
amanheci
uma flor
estourada
do sal
***
EPÍCULO
Neste 2º domingo
de mês apressado
aguardo socos no ar
implosões, sequestros
sem cartilha ou saída
de emergência
penso
como negociar
despretensões
se trago o ego em
contêineres
a noite
não pode ser apenas
noite
a lua que cresce
nunca um descanso
como
nos desenhos
registro o caminho
entre grilos
o teclar me absolve
de
algum erro também
me esfrega a fuça
contra o espelho
um lampejo me eleva
do senso de
apartamento
me revela as
empreitadas
que traio
quando ignoro o rosto
de quem passa
a quem interesse
talvez seja simples
mas a um preço
enquanto o feijão
esquenta
determino o sentido
dos vários nadas
comburindo
feito estrela ao ver
as coxas dele num
moletom
***
TRUÍSMO
Serei mesmo isso
que se conforma
em não se importar
que se basta fugindo
resolve a vida
des-
viando os espelhos?
Guardo domingos
sigo estrelas nos
poemas dos mortos
que não sabiam mas
hoje me decifram
sigo estrelas nos
poemas dos mortos
que não sabiam mas
hoje me decifram
***
Sebastião Ribeiro (São Luís, MA) é poeta e professor de língua inglesa, graduado em letras pela UEMA. Premiado com o 2º lugar do 23º Festival Maranhense de Poesia Sousândrade (Poemará 2010), organizado pela Universidade Federal do Maranhão. Publicado em antologias, diversos espaços virtuais e revistas literárias, como Macondo, Samizdat, Mallarmargens, 7faces, entre outras. Componente da obra Acorde (Scortecci, 2011), com Igor Pablo Dutra e Wesley S. S. Costa, é autor de & (Scortecci, 2015), Glitch (Scortecci, 2017), Memento (Penalux, 2020), Ménage – Antologia Trilíngue de Poesia (Helvétia Éditions, 2020), com Antonio Aílton, Outro (Penalux, 2022) e Solo (Litteralux, 2024), obra premiada com o 2º lugar do Prêmio Claudio Willer de Poesia 2023, realizado pela UBE-SP.
Respostas de 6
Uma das maiores capacidades de Sebastião Ribeiro é trazer ao mesmo tempo uma linguagem aparentemente simples, mas repleta de imagens desconcertantes, diárias, mas de ranhuras insólitas. Essa é a água do poço que todo poeta deve cavar, em vez de querer beber dos outros. Original, portanto. Esse livro SOLO é, com certeza, o mais maduro formalmente, ganhando uma linguagem mais incisiva e lapidada. Parabéns, meu amigo, não à toa foste laureado com ele. Você é admirável!
Descobri a revista ao fazer pesquisas de site sobre literatura. Tô encantada com tudo por aqui. Lindos poemas
Acompanho a poética de Sebastião Ribeiro desde o primeiro livro. Sebastião harmoniza ponderações refinadas com o ultracotidiano. O talento identitário está em expor na superfície do texto roteiros da vida comum concomitante à densidade poética na disposição dos versos. As 'pequenas coisas' e o olhar para além do lugar – comum é, para mim, a expressão maior na poética desde ludovicense escriba de seu mosaico Paço do Lumiar . Todavia, não há o maniqueísmo de praxe. Parece que as duas vias da existência se cruzam e se unem numa só, mão e contramão, freios e colisões. O poeta não nega o olhar diante de qualquer virada de chave, e não há desespero ao pensar as situações. E não há passividade, mas concordância ativa, o que supõe construir, desconstruir, porém, indiferente a um um ideal dos resultados. Há proporções em que a vida se esparge, e então o poeta se situa com surpresas e mistérios a compor o dia comum. Solo é uma coletânea de poemas em que a vida sem enfeites surge para as perplexidades de que a poesia é refém, porta – voz e ela mesma. 'Senso de apartamento', 'mães brigando com os filhos', 'gesso trincado,' essas são algumas dos muitos nudismo do real sem prévia estetização. Nesse intervalo, Sebastião vem com as nuances, as imagens, o que a poesia é capaz de proporcionar diante dos fatos, das constatações. Como juntar as peças de uma apurada obra de arte, espalhadas, agora enganosamente meras exposições, pequenas engrenagens bem negociadas com a inventividade.
Agradeço imensamente essas palavras, querido Aílton! Vindas de você são um incentivo e tanto a continuar! Obrigado!
Um prazer figurar entre tantos autores que admiro e tanta literatura de potência , aqui na Amaité! Obrigado Jandira, Francisco e Geovane!
Nós que te agradecemos pela poesia, pela colaboração.