Qual o seu desejo secreto? : Solange Firmino para poema de Luís Palma Gomes

Ilustração: Jacek Yerka


Pedido de Natal

Ouves o tempo,
cínico e claro
clepsidra de vento
perdendo a razão
porque a loucura é
e será sempre
a melhor desculpa
para quem deixou de acreditar.

Ouves o tempo,
fio que conduz
fio de cem pontas inenarráveis
serpenteando por lugares, olhares
que pareciam ter a certeza
ou medo talvez disfarçado
de penas e asas,
levantando em voo
num bando de incontáveis sensações.

Seremos uma cápsula engolida por um gigante
e regurgitada depois numa galáxia distante?
Que ele nos engole é certo.
Se nos regurgita depois
jovens e intactos
numa praia do sul,
é o nosso desejo secreto, sereno,
a primeira prenda que pedimos em cada Natal.


Luís Palma Gomes

São usadas no poema várias imagens cativantes, como “clepsidra de vento” e “fio de cem pontas inenarráveis”. Vejamos outras:


– O tempo é personificado como “cínico e claro”, sugerindo uma curiosa dualidade que pode refletir a complexidade das experiências humanas.

 

– O tempo é descrito como algo que pode perder a razão, adicionando uma dimensão filosófica à sua representação.


– A loucura é apresentada como uma desculpa para aqueles que deixaram de acreditar, talvez indicando uma fuga da realidade.


– A referência ao Natal sugere uma conexão com sentimentos de esperança, típicos dessa época do ano.

 

– A metáfora de sermos “uma cápsula engolida por um gigante” propõe uma reflexão sobre a nossa existência.

 

– A imagem final de ser regurgitado numa praia do sul representa um desejo secreto, que evoca a ideia de novas possibilidades, talvez a jovialidade seja o desejo de renascimento.

 

 

 

Luís Palma Gomes (1967) – Lisboa – Estudou Engenharia Informática e Ensino da Informática na Universidade de LisboaDurante a sua juventude, escreveu e publicou poesia para coletâneas, suplementos e jornais. Pertence ao Teatro Passagem de Nível da Amadora onde foi ator, sendo atualmente autor/dramaturgo residente do grupo, tendo levado a palco três peças suas: A Moura, Desnível Bar 2 e o Último castro antes de RomaVenceu o 7º Concurso de Poesia Santo António da Charneca e 4º Concurso de Haicai de Toledo – Kenzo Takemori. Atualmente escreve, sobretudo poesia e teatro, aventurando-se também como contista. Publicou dois livros de poesia, uma peça de teatro e um livro de contos. Alguns deles podem ser encontrados na Amazon.comÉ professor de Informática na Escola Profissional de Imagem.

 

 

Solange
Firmino
(1972) – Rio de Janeiro – Tem Licenciatura em Português e Literatura pela UERJ. Trabalhou com Jardim de Infância, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Sala de Leitura em Escolas Municipais e Estaduais do Rio de Janeiro. Venceu o Prêmio Literário da Fundação Cultural do Estado do Pará com um livro de haicais e o 2º lugar no Prêmio da Biblioteca Pública do Paraná, na categoria Literatura Infantil. Possui 7 livros de poesia publicados.

 

 

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