CARIADOS
dias inteiriços encadeiam noites seminuas
seus cardumes de proféticas interferências
amálgama suave/colírio de perdizes
permanentes fronteiras
estribilhos possuídos (cariados)
alterados azuis e damas como as
franjas – veludo – desse outono.
OÁSIS
Espumar como cristais de degelo
amotinados frente ao verso
versante malefício/benefício
escrutinado no mosaico
(algumas vezes claro)
atuado e pontilhado como motins
no esquadrão de asteroides
versante malefício/benefício
escrutinado no mosaico (algumas vezes claro)
atuado e pontilhado como
motins no esquadrão de asteroides
a realidade, pasmem, é múltipla caótica esdruxula
e reflexo de muitas provisões da matéria energia,
filosofia ou entropia (enfim a porcaria que se queira)
mas, ainda que imprevisível a olhos nus e nubentes,
o mundo das cenas e das águas e das aves
é tão simples como todos os entre muros
oásis ou frescor é um
rigor um debate e uma
inevitável consequência química
aprendida (ou não) dos fosseis acumulados
no que parece s er o espaço/tempo
algum contravento? um senhor ou uma senhora,
uma penhora antes deste
inevitável congelar da sopa cósmica?
FRONTEIRAS
serão lisas essas madrugadas
sem outono
virgens iniciadas da penumbra das formas
armadas dos vãos
e véus do movimento das asas
rubras como um deus
cálidas e férteis do nada – amantes do alcance ascese
bravias e fúteis membranas de cada eu
cozidas ao fogo dos tempos
misturadas/obtidas de fervilhantes maiúsculas
arrancadas (quase nuas)
dessa terra ou de suas fronteiras
luminares e lascivas
quase piedosas
unas e ermas.
CORDAS
a noite, reflexo em ondas,
caí como vitrine e útero
– aliciada e sem pranto
virgem de desdém –
é mágoa e ternura na nitidez
de espelho rubro (e sem cor)
movimento e percepção
moldura de fragmentos de eternidade
deslizada no vapor (almíscar)
horizonte profundo e pacífico
inúmeros motivos sem melindres
em cordas e cardumes (quase satisfeitos)
pranto/lembranças/prodígios e
vagalumes do estar/ser
adestrado o modo e o contínuo do olhar.
PÓDIO
nudezas que se
vestem mudas
são de uma crueza
metálica
escassos mecanismos
sem defesa
–
hostilidades
acuadas
ornadas de duetos e
pós-verdades –
crueldades –
prisões do instinto ou vaidade?
o poder riscado
de meteoros corrompidos
envolvido no sonho
quase cinderela
de uma noite magra
ou de uma vitória
amarga
crueza indigesta de
tantos recantos
nessas redondezas
frias de sonhos
imperfeitos
desfeitos rasurados
deserdados de deus
e do pai
amém amenizados
a tiara da fada
perdida é qualquer jardim
nesse tempo que
desmonta/reconstrói e
não são teus os
olhos
lince de pedra e
perfídia
o pódio e o carro
e todas as mesuras
timbradas
dos outros que
também
não ou serão
o sonho e a véspera
…que se fez tarde.
JANDIRA ZANCHI
Ilustrações: Remedios Var