Coluna Luís Palma Gomes: Esperar não é perder tempo




Aprendi que esperar não é tempo perdido.
Esperar, às vezes, é apenas respirar melhor.

Quando me deixo estar, sem correr atrás do que ainda não chegou, começo a ver as coisas de outra forma:
um gesto discreto de alguém ao meu lado, um parágrafo que me pede para ser relido,
uma lembrança que suaviza o presente.

A paciência, descobri, não é uma fraqueza — nem sequer uma rendição.
É como a seiva de uma oliveira depois do incêndio: invisível, mas ainda viva.
Mais cedo ou mais tarde, a árvore começará a mostrar os seus pequenos rebentos verdes.

É assim comigo também.
A paciência, em dias bons, parece quase uma oração visual — um modo de ver, de acreditar, de não desistir;
o lastro invisível de um navio que o mantém erguido e em curso.

Quando conseguimos ficar quietos, com alguma confiança no recomeço, nasce uma coisa parecida com esperança.
E, nesse instante, ela basta.

A esperança ensina-nos a esperar por algo que não se vê — e, às vezes, nos momentos mais difíceis, por algo improvável, mas que, no fundo, já sabemos que virá.

A esperança, percebo agora, é isso: permanecer no amor.
E não conheço nada mais afável, mais ameno e mais fecundo do que isso.

 
Lisboa, 07 de junho de 2025.


Luís Palma Gomes nasceu em Lisboa, em 1967, e cresceu na periferia, em Queluz — entre linhas de comboio, pequenos quintais e o rumor longínquo da cidade. Engenheiro informático de formação, é hoje professor de Informática no ensino secundário. A escrita, porém, sempre lhe correu em paralelo, como um rio subterrâneo. Começou a publicar nos anos 90 no suplemento DN Jovem, onde os primeiros poemas encontraram lugar. Poeta do intervalo e da fricção, escreve a partir do quotidiano, da contemplação das pequenas coisas, dos gestos que passam despercebidos.  Publicou Fronteira em 2022, e O Cálculo das Improbabilidades em 2025, onde aprofunda uma linguagem feita de tensão entre o visível e o indizível, entre a matéria e o símbolo, entre a casa e o mundo. É também autor de peças de teatro, como A Moura e O Último Castro Antes de Roma, onde a memória histórica se cruza com as inquietações humanas. Escreve e ensina jovens, porque precisa de ver crescer alguma coisa — nem que seja uma imagem, uma ideia, uma manhã, uma vontade. Não tem medo da água fria do mar.

Respostas de 4

  1. Belíssima meditação sobre a paciência e a esperança. Adorei a imagem da oliveira, guardando ainda vida na seiva invisível, mesmo após o incêndio. É uma reflexão serena, mas profundamente humana. Percebi que devo esperar mesmo contra a própria esperança.

    Bea Matos – Porto

  2. Não é a paciência da espera que é uma virtude: é saber esperar, como tão bem descreves, Luís. Gostei muito do texto.
    E apetece-me terminar com um verso do Eugénio de Andrade: É urgente permanecer

  3. Excelente texto!! Gostei imenso. Que bela imagem a da oliveira depois de queimada ainda continua a ter seiva., desconhecia. Continue nao devemos esconder os dons que Deus nos deu.

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