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1968 será uma parábola amarela, profetiza o menino jornaleiro na rua do ouvidor enquanto lima, o de barro, engole penúltimo trago antes de enterrar o pai na curva dormente do trem pra barbacema, evoé. flautas atonais brotam das bocas de meninas kaiowás, swing low sweet chariot entoam em coro para-choques de mercedes verde-cana que singram em balsa de sangue, o rio, o rio, ópio, ouro, áureo pendão pútrido da, ave, canaã onda jorra o fel santíssimo dentro de bochechas aladas pela bolsa de valores. napalm! napalm! e osamas sejam declamadas ao soar de arpanets e címbalos de pus: salve, ó asseclas nuas das urnas. memento mori, arpeja o grafitti à beira da banheira repleta de mercúrio lilás, verso gago do canto que ele nunca soletrou nas pregas malditas de maio do ano, qual, qual o quê?
 
 
 
Artur Ribeiro Cruz nasceu em Sertãozinho, interior de São Paulo, em 1981. Mudou-se para São José do Rio Preto para estudar Tradução na Universidade Estadual Paulista (UNESP), onde também desenvolveu mestrado em Literaturas de Língua Portuguesa. Tem três livros publicados. Em 2009 publicou em coautoria O cineasta e a margem do rio imaginário (Arte e Ciência Editora), resultado
de estudo comparativo entre as obras de Nelson Pereira dos Santos e Guimarães Rosa. Em 2015 lançou Semanário do Corpo (Editora Patuá), sua estreia na poesia. Em 2016 publicou Vagalumes sem noite: contos entre sombra e luz, pela Editora Penalux. 



blog do autor: banalidadesessenciais.blogspot.com.br

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