3 poemas de Perspectivas da Escarpa de Estêvão Machado



transeunte
 
trouxe em mim 
nenhuma bagagem.

trouxe em mim
na verdade – a bagagem possível :
gotas minerais do tempo
umedecidas nos olhos.
 
trouxe em mim
uma mentira – a bagagem se carrega
feito coltre, enfeite, brinco
 
bagagem é um túnel que entro
sem caminho, nem desafio ou cidade.
 
 
as terras vazias
 
exploramos terras vazias
no cerne de nossas transformações
 
na íntima especulação
de nossas glebas sanguíneas
loteamos tabulas rasas
em coordenadas erráticas
 
em um preservar preciso
arcamos arqueologias de mãos
finas frágeis inseguras
no mover areias de mudanças
 
nossas terras sem horas
sem sorgos sem hectares
senhoras dos próprios ares
são fortunas vagas em seus vazios tensos
 
terras vazias de ocupação e destino
por onde pessoas vagueiam
quando não as vemos envelhecer
 
 
pompéia
 
a sujeição à lava
é a revolta do homem
revela sua leva
diminuta
ao esplendor da natureza
 
a sujeição à poeira
é o presídio do homem
insere sua força
às remissivas cinzas
da vida
 
cortina de fumaça
não esconde
não disfarça
o ar cinza de sua superioridade
debela abala asfixia e estanca o homem
em lâminas de argila e pedra
que conformam a cidade
 
que só perdura no tempo
por que não a pertence


Estêvão Machado (1979) é arquiteto, recifense, pai de Bento. Cresceu em Olinda-PE. Publicou o livro de poemas, O liceu das vozes (2023 – Ed.Urutau) e colaborou em revistas literárias como Sucuru, Piparote, Ruído Manifesto e no Diário de Pernambuco. Teve poemas editados na Antologia do Concurso Nacional de Novos Poetas (2013), obtendo menção honrosa, como também na Antologia Conexões Atlânticas (2018), com poetas de países lusófonos, este último editado em Portugal.
Perspectivas da Escarpa (2025 – Ed.Urutau) é uma reedição com novos poemas do primeiro exemplar editado de maneira independente pelo autor em 2021.
Instagram: @eestevaom

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *