Ilustraçao: Marc Chagall |
Nuvens gordas
Cavalos inflam
engolindo a vida
até o limite dos átomos
Incham de vento
nutrindo cada veia
A vida vai e vem
sem que se possa prever
O momento certo
do rompimento
da aorta
estufada de ar
Cavalos
seres de outro mundo
Autorizados pelos deuses
a transitar
entre o mágico
e o ordinário
A vida começa
nos dentes
e morre
nos rabos dos cavalos
Gigante coração
gigante pulmão
abarrotados de desejo
Irresponsáveis
Cavalos
cruzam planetas
chupam a vida
até sua ruptura
entre
acervo
de órgãos
pulsantes
da arquitetura
metafísica
Sua ingenuidade
não detecta
o instante
em que seus enormes torsos
perdem a vitalidade
Minguam
deuses equinos
pesando os vapores
que caem do prasempre
plano de fundo
da humanidade
A morte instala-se
na robusta estrutura
Magníficos cavalos
sacrificados
por amor
a velocidade
Galopam
entre nuvens
a cada trote- o céu cai uma polegada
ApOTEOSE
Descer
dedos em ponta
a sinuosa linha
do frescor
(código II- Prazer LTDA)
carimbo meu DNA
em cada polegada
na pele
quente
toda carne arde por uma via
rodovia
encruzilhada
uma parte do corpo
estendido no meu território
pós-motim de 2
que chama sexo*
Outra parte
(mesmo corpo)
no campo minado
de amor-granada
o amor que começa
na fadiga da semana
e é fervido nos feriados
que suam carnaval
Um gato
Tremenda inveja dessa languidez
que escorre até as garrinhas
Meu caro Carlos
carinho que esfola
é lei na terra
solar de leão
que bebe leite em pires de porcelana
Se quem ronrona
orquestrando a noite
abre fendas no meio do céu- me leva contigo, fera.
Raquel Zepka (Porto Alegre, 1990) é atriz, diretora teatral, dramaturga, poeta. Formada em Teatro pela Universidade Federal de Santa Maria, pós-graduada em linguagem audiovisual e mestranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente pesquisa dramaturgias que radicalizem barreiras entre o real e o ficcional.