
USUAL
Aqui, onde não há água nem sol
cavamos o substrato da poesia a dente
como velhas raízes revisitadas
que ainda vejo como labaredas ardentes.
REBENTO
Indício de luz
por entre tuas rígidas ancas
e rebenta o berro de vida
e a tua vida
nunca mais será a mesma.
PEQUENO ENSAIO SOBRE O MEDO
Havia um sistema de erros
que agitava o futuro
e o áporo passando dentro do teu quarto
a te acuar contra o escuro
inexiste. O presente é o agora
a brilhar por cima da aurora e dos muros
não temas mais
pois a mera inocência ficou para trás
e o sistema de erros que tanto te atormentava
em dias havidos e dias não havidos
é só um verde musgo a cobrir
a umidade das paredes com seu veludo.
MEMÓRIA
Curva-te à memória
de um silêncio sem demora.
RUMORES
O dia, o poder solar, rumores, zunido, o capitalismo,
nada disso se opõe ao luar desvairado.
***

Daniel Veras Pinheiro nasceu em Teresina, Piauí, em 1981, onde reside até hoje. É autor das obras Varanda de insônia (2025) e Cantiga incendiária, livro de estreia vencedor do Concurso Literário Novos Autores (2013), categoria poesia, promovido pela Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, de Teresina.
Instagram @daniel.veraspinheiro
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Uma resposta
Uma quase dor, porque as possibilidades felizes estão nas sensações que artefatam as aparências exteriores. Como a dizer que a vida não é real, logo, tenhamos nossa parte. Possibilidades é o que não torna a poesia nem romantizada, nem escatológica. O meio termo convidando a ações. Daniel Veras, nestes poemas escolhidos para o Amaité, mostra a força de seus versos & versus, num equilíbrio, numa resposta que ainda não há: quem é poeta e quem é leitor se ambos supõem, desconfiam, insinuam, aproximam, tentam atravessar os poemas numa consideração que se quer alcançar. ‘Varandas de insônias’ me supõe muitos luares desvairados por entre veludos de musgos e indícios de luz. Que enfrentemos a poesia em nós, nossas varandas de insônias.