
INVENTO
Não navego em vento achado
mas sim
em vento que invento…
− in vento inventado!
a Arte é o estilete…
e o poema
a imagem recortada dos brados
essencializados do silêncio!
VERTENTES
num ventre
vertendo vértebras
aveludadas de surpresas
há um corpo-caminho
de entes em movimentos
e de liberdades reinventadas…
silêncios vertem olhares e passos
que mesmo tecendo linhas transversas
aninham-se ao mesmo sol
ao mesmo sal… ao cio das palavras…
no êxtase desta luz que une destinos
renovam-se a fonte e a sede
[e assim
intuições inadiáveis
desentranham-se eriçando as nuanças
pulsantes da linguagem]
nas retinas dos versos há seiva e suor
sempre assim:
arde um eco carmim
em vivas ausências e senhas de partidas
[idas e chegadas ávidas de voos
em rumo da sala de estar da alma].
DE ONDE VEM A POESIA…
de um ponto infindo
vindo e indo
em contraluz
ou de uma infinita mira
que gira e gera
estações de chão e fogo…
vem do instante vertical
da ausência e da urgência
perto-distante da espera
vestida de manhãs…
vem em silêncio
sobrepaira
e vira pássaro
celebra horizontes…
GAIVOTAS
Na barca veleira
dos meus sentimentos
gaivotas pousam cansadas,
como a procurar as luzes efêmeras
das pálpebras do tempo…
Em revoadas, tecem auroras
no vértice das chegadas e partidas
que me eternizam lembranças…
Estas gaivotas
me ardem palavras matinais
e, à noite, confundem-se
com as estrelas irrequietas
do meu espaço mental…
Deixam-me insone
para vigiar as minhas intenções
e o sarcástico segredo
do fogo dos desejos
ante as dádivas das direções anunciadas
pelos anjos sem trombetas…
Estas gaivotas
emprestam-me suas asas
para que eu sinta
|por entre as sombras das realidades caolhas|
a leveza de um novo olhar
no claro-azul das mutações circundantes…
Estas gaivotas
reinventam rotas nas minhas retinas…
Adornam a minha solitude:
entendem as certezas dos meus desalentos
e equilibram o voo
das minhas incertezas…
GLOBO DA VIDA
o mundO é um glObo…
ou um jogO Online.
nele, estamOs tOdOs
– ao vivo – em vAiVéNs…
e hoje tem espetáculo?
– tem, sim senhor! É preciso girar.
e amanhã? – o trem já passou…
e depois de amanhã?
– não tem mais rOda para se brincar.
o script e a vida
hão de continuar;
não se pode cessar
de buscar a saída…
o real pode disparar e rOdar…
abrir o jOgO… ou abrir fogo
num abrir e fechar de OlhOs…
o mundO não vai reparar a espera
o tempo não tem jogo
de cintura.
faz jogo de empurra
em pura aventura
às vezes se esturra e joga à vera.
o vento do mundo quer tudo assanhar…
entretanto o show
não pode parar
nem por um segundo.
e o sonho
ah, o sonho há de continuar…
a Sonhar… a Sonhar… a Sonhar!…
RELENTO
Mais uma noite chega de repente…
E uma imagem trêfega, franzina,
Procura o seu descanso de rotina
Na rispidez do chão indiligente.
Logo adormece na calçada ardente,
Cumprindo a compulsão da sua sina;
Mas sonha que uma chuva repentina
Está molhando o seu corpo indolente…
Acorda e vê que o sonho é verdadeiro;
Levanta-se, buscando um paradeiro,
E sai cambaleando em desalento…
Jogada ao léu na rua da amargura,
Aquela desditosa criatura
Sabe de cor as leis do sofrimento.

RUBENIO MARCELO – é poeta escritor, compositor, ensaísta, revisor e advogado. Membro efetivo da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), ocupando a Cadeira nº 35, é autor de treze livros publicados e três CDs, sendo que um dos seus livros mais recentes (Vias do Infinito Ser) foi indicado pela Universidade Federal de MS (UFMS) como leitura obrigatória para os vestibulares no triênio 2021/22/23 e também foi indicado ao PASSE UFMS 2024/25. Destacam-se também nas suas obras mais recentes os livros Graal das Metáforas, Horizontes D’Versos, Voo de Polens, Veleiros da Essência, Palavras em Plenitude, Almar – poemas lusitanos…, e Caminhos…. Reside em Campo Grande-MS.
Respostas de 5
Parabéns pela bela poética
Parabéns ao poeta Rubenio Marcelo pelos belíssimos poemas! Destaco “GAIVOTAS “ pela riqueza de imagens poéticas que discorrem emoções, saudades, sonhos e toda beleza contemplada! 😍😍👏👏👏
Parabéns, amigo poeta, Rubenio Marcelo
Encontro nestes poemas algum diálogo estilístico com a poesia da Jandira Zanchi. Gostei de os ler. Abraço!
São poemas da oscilação da vida assim hesitante, vaivém que quase pousa ou pousa para seguir e retorna para o destino volúvel, flutuante, incapturável, vivível. Poemas deste encontro que não se pode terminar, para que haja encontro.