5 poemas de Pedro Du Bois


VIAGEM


Viajo pela arte decomposta: remédios

receitados ao doente (enganado corpo

atravessado em doenças): altero o estado

e fico junto ao corpo (a dor da espera 

multiplicada no repetir do quadro)

na arte recomposta em traços de reconhecimento 

pelo tempo em que fomos jovens

(ao redor do corpo circulam indecisas

orações e lágrimas).

 

 

SENTIR


Árido sentir: seco

                     ressecado

                     assustado do próximo

                     passo na aproximação

 

         abro a porta e permito o ingresso

          do desassossego

        abro as janelas e consinto a entrada

          da avalanche

        solto as amarras e tenho o encontro

          dos corpos.

 


ALÔ

 

Avanço contra o escritório

destroço mesas

e aparelhos telefônicos

 

alô quem fala?

alô que barulho é esse?

alô alô alô…

 

no tempo desperdiçado

aviso ao contratempo

sobre a escalada

            dos aparelhos guardados

            em caixas inofensivas

            na aparência:

 

alô alguém aí?

alô alguém ainda por aí?


ÁPICE

 

No ápice do sucesso

               percebe o apagar

               das luzes

 

         reflete a escuridão

         em que se aventura

         longe do futuro

 

o tempo disponibilizado

no alargar da terra

ao largar a terra

no largo abraço de despedida

 

                o ápice recontado

                prepondera no corpo

estendido: nas cobertas

                  o frio esquecimento.

 


EFEMÉRIDE

 

Na efeméride o fundo falso afasta

o sentido da insegurança

 

 o féretro sai do corpo principal

 fechando a porta da capela: orada

 onde em imagens sou sacralizado

 

o infausto gesto é a briga

de abrigadas desavenças

no obrigatório fundo

falso: inconsentido

 

   no cadafalso cabem penúltimas

   razões: a efeméride se completa 

                em lapsos.



Ilustrações:  Kandinsky Vasily 


Pedro Du Bois foi poeta e contista. Passo Fundo, RS, 1947/2021. Vencedor do 4º Prêmio Literário Livraria Asabeça, SP, com o livro  Os objetos e as coisas( Editora Scortecci, São Paulo, 2005). Editor-autor, com diversos títulos publicados artesanalmente, em tiragens mínimas, não comercializáveis. Textos publicados em diversos sites e blogs de literatura. Teve publicado, em 2009, o livro A Criação Estética, poemas, Corpos Editora, Portugal.

   

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