México — Cidade Blues: Paraísos Artificiais não geram videntes, ensaio de Mateus Machado

Jack kerouac se aproxima de um rádio para se ouvir em uma transmissão, 1959 (John Cohen/Getty Images)




DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
 
A poesia de Jack Kerouac em Mexico City Blues é, especificamente, um experimento de improviso jazzístico, mas toda experimentação, grosso modo, não tem a necessidade de funcionar como planejado, sequer resultar em algo positivo. Experimentação é tentativa; é a busca de algo novo, sem ter a certeza do resultado final. O que conta é o processo, o ato de experimentar.
 
Mas a influência jazzista em Mexico City Blues se limita à estrutura rítmica, no encadeamento de palavras e versos, deixando o conteúdo para os elementos místico-existenciais. E toda crise existencial é, no seu cerne, uma crise espiritual. Kerouac viveu com o peso dessa crise pendendo na balança de sua vida; dividido entre a liberdade total e a busca por segurança. A busca pela segurança reflete a dimensão familiar, suas raízes mais profundas, a influência visceral de sua mãe dominadora e a sombra luminosa de seu irmão Gerard, falecido aos nove anos. Essa dimensão familiar, e tudo o que ela implica, abrange o cristianismo através da tradição católica e os valores conservadores herdados. 
 
Mexico City Blues é, sobretudo, o peso antagônico; no outro prato da balança, há uma busca pela liberdade, sua experiência, seus desdobramentos e suas consequências; não podemos deixar de lado a receita rimbaudiana descrita na Carta do vidente, incansavelmente repetida por poetinhas modernosos: “O poeta se faz vidente por um longo, imenso e pensado desregramento de todos os sentidos, todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele busca a si mesmo, ele exaure em si mesmo todos os venenos, para então guardar apenas as quintessências”. O perigo está justamente na interpretação do “desregramento dos sentidos” através do consumo de drogas regado de promiscuidade. Qualquer mané “baladeiro” passa por esse processo de desregramento, nem por isso torna-se poeta, tampouco vidente.
 
Mexico City Blues foi escrito sob o efeito das diversas drogas disponíveis. Kerouac, morfinado, seguiu escrevendo e esvaziando garrafas de vinho barato e maconha mexicana. Letárgico, buscava apurar os seus sentidos para captar tudo o que pudesse do ambiente ao seu redor: o ruído das ruas de Orizaba e Colima, as conversas aleatórias, o latido de um cão, o rádio tocando jazz ao fundo ou a TV ligada em algum canal; além dos ruídos dentro da mente de Jack: as lembranças, os traumas, as dores, os arrependimentos, os sonhos e as desilusões. Tudo ao mesmo tempo, gerando um sumo extraído do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O poema que abre Mexico City Blues, intitulado 1st Chorus, é um vislumbre dos seus ruídos internos, das velhas “estradas ásperas”.
 

1st Chorus
 
Butte Magic of Ignorance
Butte Magic
Is the same as no-Butte
All one light
Old Rough Roads
One High Iron
Mainway
       Denver is the same
 
“The guy I was with his uncle was
the governor of Wyoming
“Course he paid me back
        Ten Days
Two Weeks
Stock and Joint
 
“Was an old crook anyway
 
The same voice on the same ship
The Supreme Vehicle
S. S. Excalibur
Maynard
Mainline
Mountain
Merudvhaga
Mersion of Missy


Canto 1
 
Mágico Monte íngreme da Ignorância
Mágico Monte isolado e íngreme
É o mesmo não-Monte
                  Toda uma Luz
                  Velhas Estradas Ásperas
                   Um Orgulho de Ferro
                   Estrada Principal
 
                   Denver é a mesma
 
    “O garoto com quem eu estava
era sobrinho do governador de Wyoming”
    “Ele pagou minha passagem de volta”
    Dez Dias
        Duas Semanas
           Suprimento e Baseado
 “Era um velho trapaceiro de qualquer modo”
 
A mesma voz sobre o mesmo navio
O Supremo Veículo
         S.S. Excalibur
                Maynard
                Metalinha
                Montanha
                Merudvhaga
                     Menina Imersa

No primeiro verso, a imagem de um “Mágico Monte íngreme da Ignorância” pode ser interpretada como a mente humana em seu estado natural, antes da busca pelo conhecimento. O poeta passa por uma jornada de descoberta e transformação.
 
A ideia de Kerouac era escrever um “livro musical”, jazzístico, cuja preocupação estaria centrada no ritmo, na musicalidade, mais do que no conteúdo. Kerouac desenvolveu seu interesse pelo budismo principalmente através do poeta Gary Snyder, daí que seus escritos autobiográficos e sua poesia foram profundamente influenciados pela filosofia budista, em especial Mexico City Blues, muito mais do que o seu catolicismo. Fascinado pelo jazz, Kerouac acreditava piamente que esse gênero musical era a expressão da liberdade budista; músicos como Charlie Parker seriam os bodisatvas, os iluminados. Os poemas são uma série de coros; prefiro chamá-los de refrões ou cantos, que mais se parecem com os haicais ocidentalizados inseridos e agrupados em um poema maior. Seguem exemplos de “haicais” kerouaquianos inseridos no 2nd Chorus: “Homens selvagens/Quem mata tem carmas/de assassino”; outro exemplo: “Homens bons/Quem ama tem carmas/de amor”; para finalizar, versos sob a influência de Bashô: “Atravessando a grama alta/Até a face do tanque/de claras rãs”.
 

2nd Chorus
 
Man is not worried in the middle
 
Man in the Middle
Is not Worried
He knows his Karma
Is not buried
 
But his Karma,
Unknown to him,
May end —
 
Which is Nirvana
 
Wild men
Who kill
Have Karmas
Of ill
 
Good men
Who love
Have Karmas
Of dove
 
Snakes are Poor Denizens of Hell
Have come surreptitioning
Through the tall grass
      To face the pool of clear frogs


Canto 2
 
O homem não é angustiado em seu meio.
 
O homem no seu meio
Não é preocupado
Ele conhece seu Carma
Não é sepultado
 
Mas seu Carma,
Ignorado por ele,
Pode acabar
 
Que é Nirvana

Homens selvagens
Quem mata
Tem Carmas
De assassino
 
Homens bons
Quem ama
Tem Carmas
De amor
 
Serpentes são Pobres Habitantes do Inferno
Tem vindo sub-reptilianas
Atravessando a grama alta
         Até a face do tanque de claras rãs.
 
A ideia do carma, da lei de causa e efeito que rege a vida, é explorada no poema. O contraste entre “homens selvagens” e “homens bons” ilustra a dualidade da natureza humana herdada pela queda; uso o termo judaico-cristão “queda” apenas para ilustrar essa dualidade, aproveitando a influência cristã do autor que aparece na última estrofe. A imagem das “serpentes” como “Pobres Habitantes do Inferno” representa a tentação e o pecado.


PARAÍSO PERDIDO
 
Baudelaire acreditava que o motivo que leva o ser humano a se refugiar nas drogas, era uma noção de saudade de, um dia, ter experimentado os prazeres sublimes do Paraíso antes da queda do homem, ou seja, trata-se de um desejo metafísico pelo prazer de um tempo de inocência. Em uma experiência pós-queda, o homem é obrigado a viver os antagonismos prazer e dor, amor e ódio, guerra e paz. O uso de elementos que possam dar um vislumbre, ainda que ilusório, do paraíso perdido é um chamariz para fugir da dor da existência pós-queda, mesmo que esse prazer seja apenas fugaz.
 
 É preciso ressaltar que o relacionamento do homem moderno com as drogas, inicialmente as ervas alucinógenas e depois as sintéticas, foi paulatinamente tirado do contexto ritualístico dos xamãs e demais culturas primitivas, em que o uso dessas ervas era ritualístico para a cura pessoal ou da comunidade. Ao mesmo tempo em que o uso dessas ervas era relativizado no contexto hedonista, a busca do homem moderno pelo “prazer pelo prazer” se tornou fim em si mesmo. A questão ritualística, que é parte importante da religião dessas culturas arcaicas, é trocada por uma busca da expansão da mente, todavia, ornamentada pela estética psicodélica, que ficou muito em voga na década de sessenta. A indústria farmacêutica ajudou a estruturar a epidemia do vício, junto com a política e os conceitos da arte moderna.

Mesmo a tentativa de agentes como Timothy Leary, na expansão da mente através das viagens de LSD, não devolveu o homem ao centro do contexto ritualístico dos povos arcaicos. O resultado foi grotesco: criou-se uma costura mal remendada, alimentando gerações de alucinados, que desaguou no mar de viciados nas cracolândias espalhadas pelos grandes centros urbanos — vide São Francisco e Filadélfia, com as epidemias de xilazina e fentanil. Os “paraísos artificiais” do indivíduo se tornaram o inferno coletivo aqui na Terra. Afinal, onde estão os videntes de Rimbaud, poeta estimado por Kerouac? “Paraísos artificiais” não geram videntes, mas zumbis.
 

THE WEST IS THE BEST
 
Conhecer a biografia de escritores como Jack Kerouac, ainda que minimamente, torna-se uma chave essencial para maior compreensão de sua obra. Durante a primeira metade do século XX, o México se tornou um refúgio para uma geração de escritores americanos que buscavam abrigo na capital por razões diversas. Entre esses escritores, Jack Kerouac se destacava como uma figura fundamental, que chegou ao Distrito Federal seguindo o caminho de William Burroughs.
 
Kerouac começou a escrever esses poemas que se tornaram Mexico City Blues na época em que morava com Bill Garver, um viciado em heroína e amigo de William S. Burroughs, na Cidade do México, em 1955. O livro é uma reunião de 242 cantos, podendo ser chamados de refrões ou estrofes; estilhaços de poemas que aparentemente parecem não ter ligação entre si, mas o intento de Kerouac era que cada um desses estilhaços formassem uma paisagem completa, sendo cada poema uma parte do quebra-cabeça que, isoladamente, não se consegue ver o panorama completo da paisagem externa e superficial nem da paisagem interna, mais profunda, obscura e complexa. E a liga que uniria esses fragmentos seria a cola de improvisos do jazz. Tais peças se concatenam não linearmente, como ele bem explicou em sua nota, no início do livro:
 
“Eu quero ser considerado um poeta do jazz
Soprando um longo blues em uma Jam session
Domingo à tarde. Anotei 242 canções;
Minhas ideias mudam e algumas vezes rolam
de canção para canção ou para terminar
na metade do caminho de uma canção
para entrar na metade da próxima.”
 
Em 1959, o poeta Gary Snyder disse que Mexico City Blues era: “a maior peça de poesia religiosa que já vi”. A colocação não só exagerada, mas desbaratada, de Snyder, me força a dizer que Mexico City Blues é carregado, sim, de um sentimento religioso sincero, porém transgressor em sua experiência e que, no final, pode se tratar de uma profissão de fé no mínimo duvidosa. E nesse caso, sou mais favorável à opinião do poeta Anthony Hecht, que fez uma resenha sobre a obra na The Hudson Review, declarando que “a maneira correta de ler este livro é de uma só vez, sem pausa”. Para Hecht, a aspiração de Kerouac de se intitular um “poeta do jazz”, alimentada por seus editores, era mera jogada de marketing, e que o livro era na verdade muito mais “literário”, assemelhando-se ou inspirando-se no trabalho de Ezra Pound, William Carlos Williams, e. e. cummings e James Joyce. Hecht conclui que “há algo valioso e cativante por trás da poesia, que é tão curiosamente difícil de alcançar como se o livro fosse traduzido de outra língua. Mas o que parece emergir no final é uma voz de notável bondade e gentileza, um humor bom e modesto e uma sinceridade espiritual genuína”.
 
Você pode encontrar muito de Ezra Pound e até Joyce em Mexico City Blues, mas dificilmente encontrará ecos de Kabir, Rumi ou São João da Cruz. Certamente, algo da poesia zen-budista. No entanto, o budismo em Kerouac não excluiu, de forma alguma, o seu cristianismo; nos últimos anos de sua vida, deixou a estrada, se casou e voltou ao catolicismo. É preciso dizer também que havia poetas, amigos de Jack, que tinham uma pegada muito mais jazzista; o próprio Lawrence Ferlinghetti escreveu Mensagens Orais, um conjunto de poemas feitos exclusivamente para serem lidos como acompanhamento jazzístico. Creio que Jack era muito mais jazzista em sua prosa; não apenas em On the Road, em sua versão original, do “rolo”, mas em Os Subterrâneos e, especialmente, em Visões de Cody.
 
A extensão dos poemas — ou cantos, no sentido poundiano — era definida e limitada pelo tamanho da página do caderno de anotações de Kerouac. Os cantos 52, 53 e 54 são transcrições do discurso de Garver.
 

52nd Chorus
 
I’m crazy everywhere
Like the guy sailed on that ferry
            for 3 years
Between Hong Kong & China –
 
The British shoulda given him
            temporary residence in Hong Kong;
            but they didnt want any part
            of him first place he didnt
               have any money
 
Citizen somehow
          of a country behind the Iron Curtain
          Ex-Spy from Skid Row
 
I’m crazy everywhere
                like Charlie Chaplin
               dancing in moral turpitude
               playing Bluebeard killer
                on satin asskiss couches
                with itchy mustache
                so well known to dreamers
                of Choice’s Century
 
Every one of us Roman Circus
            sacrifices, every one,
Returned for payment
            In America Madhouse
 

Canto 52
 
Estou louco por toda parte
como o cara que navegou naquela balsa
                por 3 anos
Entre Hong Kong & China
 
O britânico deveria ter-lhe dado
         residência temporária em Hong Kong;
         mas eles não queriam nenhuma parte
         do seu primeiro lugar ele não
         tinha nenhum dinheiro
 
De algum modo Cidadão
              de um país atrás da Cortina de Ferro
              do Gueto Ex-Espião
 
Estou louco por toda parte
                    como Charlie Chaplin
                    dançando na moral torpe
                    jogando com o Barba Azul assassino
                    em sofás de cetim beijando bunda
                    com bigode sarnento
                    tão bem conhecida pelos sonhadores
                    do Século da Escolha
 
Cada um de nós Circo Romano
dos sacrifícios, todos,
Devolvidos para pagamento
                 No Hospício América
 

53rd Chorus
 
Merrily we roll along
Dee de lee dee doo doo doo
Merrily merrily all the day
 
Roll along, roll along,
O’er the deep blue sea
            “Yes, life woulda been
           a mistake without music
          Most primitive thing we know
          About man is music, drums –
          first thing we hear – drums,
          fifes, reed instruments –
          naturals – catgut violins
          and heavenly lyres
          and along that line
          what the hell’s the name
          of that instrument
          the Aeolian Lyre
          by the Sea
 
The Organ they made too —
Demosthenes listened by the sea
            with a rock in his teeth
And complained when he spent
            more on bread than wine —
S h h h says the Holy Sea
 

Canto 53
 
Alegremente nós rolamos
Dee de lee dee doo doo doo
Alegremente alegremente o dia todo
 
Rolar junto, rolar junto,
no mais profundo mar azul
             “Sim, a vida teria sido
               um erro sem a música”
            A coisa mais primitiva que sabemos
            sobre o homem é a música, tambores
            primeira coisa que ouvimos tambores,
            pífaros, instrumentos de palheta
            naturais violinos de intestino de gato
            e liras celestiais
            qual é a porra do nome
            desse instrumento
               a Lira Eólica
               pelo Mar
 
O Órgão que eles também fizeram
Demóstenes ouviu pelo mar
         com uma pedra nos dentes
e reclamou quando gastou
         mais em pão do que em vinho
S h h h diz o Mar Sagrado
 
 
54th Chorus
 
One night in 1941 I was a kid
And ran away from college
And took a bus to the South
Where bedbugs got in my hair
In the Heatwave Night
And all I saw on the long
Avenue were Negroes
Once I went to a movie
At midnight, 1940, Mice
And Men, the name of it,
The Red Block Boxcars
Rolling by (on the Screen)
     Yessir
                    life
                          finally
                                    gets
                                          tired
                                                 of
                                                    living —
On both occasions I had wild
Face looking into lights
 
Of Streets where phantoms
Hastened out of sight
Into Memorial Cello Time
 

Canto 54
 
Em uma noite de 1941 eu era uma criança
E fugi da faculdade
E tomei um ônibus para o Sul
Onde os percevejos entraram no meu cabelo
Na Noite da Onda de Calor
E tudo o que vi ao longo
Da Avenida eram Negros
 
Uma vez fui ver um filme
À meia-noite, 1940, Homens
E Ratos, o nome dele,
Os Vagões do Bloco Vermelho
Rodando (na Tela)
       Simsenhor
                        a vida
                                finalmente
                                                fica
                                                     cansada
                                                                de
                                                                   viver
Em ambas as ocasiões eu tinha o Selvagem
Rosto olhando para as luzes
De Ruas onde fantasmas
Apressados fora de vista
No tempo do Violoncelo Memorial
 
Enquanto outros poemas buscavam transcrever sons e outros pensamentos de Kerouac, incluindo referências a figuras reais, como Burroughs, Ginsberg e Gregory Corso, além de figuras e temas religiosos.
 

3rd Chorus
 
Describe fires in riverbottom
sand, and the cooking;
the cooking of hot dogs
spitted in whittled sticks
over flames of woodfire
with grease dropping in smoke
to brown and blacken
the salty hotdogs,
and the wine,
and the work on the railroad.
 
$275,000,000,000.00 in debt
says the Government
Two hundred and seventy five billion
dollars in debt
Like Unending
Heaven
And Unnumbered Sentient Beings
Who will be admitted —
Not-Numberable —
To the new Pair of Shoes
Of White Guru Fleece
O j o!
The Purple Paradise


Canto 3
 
Descrever fogos ao longo do areal
do rio, e a cozinha:
cozinhando cachorros quentes
transpassados em varetas talhadas
acima das chamas do carvão
com gordura gotejante na fumaça
marrom e enegrecida
os cachorros quentes salgados,
e o vinho,
e o trabalho na ferrovia.
 
$275,000,000,000.00 em débito
           diz o Governo
Duzentos e setenta e cinco bilhões
           de dólares em débito
Como Céu
           Eterno
E incontáveis seres sensíveis
         Quem será admitido
          Não-Numerável
Para o novo Par de Sapatos
De Branca Lã do Guru
             O l h o !
   O Púrpuro Paraíso
 

4th Chorus
 
Roosevelt was worth 6, 7 million dollars
He was Tight
 
Frog waits
Till poor fly
Flies by
And then they got him
 
The pool of clear rocks
Covered with vegetable scum
Covered the rocks
Clear the pool
Covered the warm surface
Covered the lotus
Dusted the watermelon flower
Aerial the Pad
Clean queer the clear
blue water
 
AND THEN THEY GOT HIM
 
The Oil of the Olive
Bittersweet taffies
Bittersweet cabbage
Cabbage soup made right
A hunk a grass
Sauerkraut let work
      in a big barrel
Stunk but Good
 

Canto 4
 
Rooselvet custou 6,7 milhões de dólares
Ele era rigoroso
 
Sapos esperam
Até que as pobres moscas
Voem próximas
E então eles as pegam
 
O tanque de claras pedras
Cobertas com espuma vegetal
Cobrindo as pedras
Claras             o tanque
Cobrindo a superfície aquecida
Cobrindo o lótus
     A flor de melancia pulverizada
Almofada aérea
      A clara estranheza límpida
                  da água azul
 
 E ENTÃO ELES AS PEGAM
 
O Óleo de Oliva
Balas agridoces
Repolho agridoce
Sopa de repolho feita do jeito certo
Deixe preparar
       em um grande barril
um pedaço de verde chucrute
     Fedorento, mas Bom
 

5th Chorus
 
I am not Gregory Corso
The Italian Minnesinger —
Of the Song of Corsica —
Subioso Gregorio Corso —
The Haunted Versemaker
King
Of Brattle Street.
In streets of snow
He wove the show
And worried in tunnels
And mad dog barked
 
KIND KING MIND
Allen Ginsberg called me
 
William Burroughs
Is William Lee
 
Samuel Johnson
Is Under the sea
 
Rothridge Cole parter
Of Peppers
Is Numbro
Elabora
If you know what I
p a l a b r a
 

Canto 5
 
Eu não sou o Gregory Corso
O trovador italiano
Da canção da Córsega
Subioso Gregorio Corso
O Rei Fantasma
   Versificador
De Battle Street.
Nas ruas de neve
Ele faz o show
Inquieto nos túneis
O latido do cachorro louco
 
AMÁVEL REI DA MENTE
Allen Ginsberg me chamou
 
William Burroughs
É William Lee
 
Samuel Johnson
Está sob o mar
 
Rothridge Cole separador
De Pimentas
É o Entorpecidirmão
E labor a
 
Se você sabe o que Eu
           p a l a b r a
 
Depois de finalizar o que se tornaria o seu livro de poemas mais emblemático, ainda na Cidade do México, Kerouac também escreveu a pequena novela Tristessa.

Mexico City Blues é caracterizado por uma linguagem fragmentada, versos livres e improvisados que refletem a espontaneidade do jazz. O uso de imagens e metáforas cria uma experiência sensorial rica para o leitor, apesar de alguns poemas se apresentarem mais herméticos. Os temas abordados ao longo do extenso poema são universais e atemporais, como a busca pela verdade, o significado da vida e a natureza da realidade.
 
Tais poemas (cantos ou refrões) são o reflexo psicológico profundo e, por isso mesmo, perturbador, do poeta andarilho. Cada poema é um espasmo ricocheteando na sua emaranhada teia mental. Mexico City Blues é o autodiagnóstico de um “estranho e solitário católico, louco e místico”.
 
 


Minha tradução de Mexico City Blues — 242 Choruses (México Cidade Blues em 242 Cantos)

Mateus Machado é anti-poeta, escritor e ensaísta, formado em gestão ambiental pela Faculdade Prof. Luís Rosa (Jundiaí). Em 1997 foi cofundador e diretor de cultura da AEPTI (Associação dos Escritores, Poetas e Trovadores de Itatiba-SP). Participou em antologias e na revista literária Beatrizos (Argentina), vencedor de prêmios literários, entre eles, Ocho Venado (México), e um dos finalistas do Mapa Cultural Paulista (edição 2002). Entre 2017 e 2018, foi aluno de música clássica indiana com o citarista, escritor, tradutor e poeta Alberto Marsicano. Autor dos livros publicados Origami de metal (poemas, Editora Pontes, 2005), com prefácio do poeta Thiago de Mello; A mulher vestida de sol (poemas, Editora Íbis Líbris, 2007); A beleza de todas as coisas (poemas, Editora Íbis Líbris, 2013), com prefácio de Alberto Marsicano, onde finalizou sua primeira etapa como anti-poeta; As hienas de Rimbaud (romance, Editora Desconcertos, 2018); 17 de junho de 1904 — O Dia que não amanheceu (ensaio, Editora Caravana, 2022), sobre a obra do escritor irlandês James Joyce, e Nerval (poemas, Editora Caravana, 2022), um livro de transição. Em 2023, iniciando uma nova fase no seu trabalho, publicou o primeiro livro da trilogia Poiesis Religare, intitulado YHVH, pela UICLAP, através de autopublicação. Agora, em 2025, está publicando o novo livro de poemas O Evangelho segundo as HQs, pela Editora Mondru, iniciando a sua segunda trilogia poética. Atualmente está finalizando o livro Um bode para Adonai — outro para Azazel. É autor do canal de literatura Biblioteca D Babel no YouTube.

Canal YouTube Biblioteca D Babel
E-mail mateusmachadoescritor@gmail.com
Instagram @poiesis_religare

Respostas de 2

  1. Algo de visceral e de improviso. Diria que este algo é o todo.
    O sentido com tom jazzístico, acordes da solidão.
    O autor que versa sobre o autor diz de si a partir das leitura que leva a efeito quanto ao outro.
    Firma-se poeta, ensaísta, crítico…
    Mateus Ma’ch’adö ao produzir este ensaio, registra um momento único, o qual é composto por nuances existenciais e estéticos.
    Mateus é firme e crítico com o objeto, sem abrir mão da gentileza para com este e para com o leitor.

    1. Obrigado, meu nobre amigo, pela leitura do texto e pelas generosas palavras, que são estímulos para o nosso trabalho. É sempre uma honra tê-lo como leitor e comentarista. Fraterno abraço.

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