
No batismo, a ciência conduz a cerimônia.
O padre excomungado, agora cientista de jaleco, ergue uma mão enquanto segura o tratado de medicina com a outra:
Eis aqui um corpo real, não metafísico
Construído por material biológico e sensato
Lhe conduzo à academia desde já
Pois só assim será salvo e poderá salvar o mundo da tolice do pensamento não racional
Sua matrícula em medicina será garantida
Os ouvidos sangrarão diante sua voz que será lei
Diante o método científico, te conduzo e te blindo dos hereges emocionais
Livrai-nos de toda psicanálise e homeopatia, amém.
Anticristo por diversão, faz de seu instagram o seu melhor currículo
Vai de bike trabalhar
Mora no Sumaré
Salva o mundo na Av. Paulista
Sexta não trabalha
Veste sua camisa desenhada por uma artista da periferia do Rio — privilegiado, finge culpa de sua consciência de classe
Procura o boné verde militar que comprou na feirinha do Bixiga
E com a bolsa sustentável do MST, vai à Pinheiros falar de política nos bares.
As atitudes, invisíveis, dão lugar ao poderoso discurso que conduz à fama
É hora de um novo batismo:
Eis aqui um camarada
Devendo este ter seu linguajar ancorado nas políticas de esquerda
Evitar roupas de marca
Preferir as de brechó gourmet
O insta, seu território, sua exposição, sua lei para ser amado
Ser discursivamente potente
As virtudes devem ser amigas do marketing:
Falar de feminismo pode ser o melhor marketing para sua virtuosa ereção,
Para isso, diga que lê apenas escritoras mulheres.
Referenciar-se pelas ovelhas do Orwell:
Políticas de direita ruim, políticas de esquerda bom.
Livrai-nos de todo Nietzschiano, amém.
Enquanto isso, no consultório de Fernanda as 3 da tarde, dentista infantil adorada pelas mães e crianças, a doutora recebe sexo oral de seu recepcionista na poltrona de espera até seu outro paciente chegar.
Luk veio de Ubatuba e reside em São Paulo. Encontrou na leitura um vício precoce, cortesia da mãe. Futuro psicólogo, estuda os mistérios da mente humana. Autor do livro de poesias “O Instante que me Habita” (Ed. Patuá) lançado na FLIP 2025 e Tempo de Clarisse, finalista do Prêmio Sesc de Literatura 2025. Dizem que Paulo Leminski e Bukowski sussurram em seu ouvido nos momentos de inspiração, mas ele jura que é só o vento do litoral. Sua escrita é um reflexo dessa mistura: maresia, asfalto e uma boa dose de “não me leve tão a sério”.

Uma resposta
Pqp Lucas Cunha o que é isso meu garoto!!!!! Tu tá mandando bem demais. Cada conto, poesia, romance eu tô vibrando aqui do outro lado ansiosa para ler e aplaudir vc irmão! Parabéns pela inteligência e sensibilidade. Para cima !!!!