
Há ousadia no cinema de Eisenstein; há profundo humanismo no cinema de Ozu; há risos e lágrimas em Chaplin e há um universalismo atemporal na arte de Mário Peixoto.
Brasileiro, nascido em Bruxelas em 1908, Mário Rodrigues Breves Peixoto foi um cineasta que deixou uma obra que se tornou emblemática na história do cinema brasileiro e até mundial. Tal obra, seu único filme Limite, pouco celebrada e entendida em sua estréia em 1931 reveste-se de um forte simbolismo, de uma estética arrebatadora e vanguardista, mas que celebra uma beleza rara, criadora de uma unicidade orgânica fluente, onde personagens flutuam em meio a uma natureza que se faz também protagonista, em meio a elementos dramáticos de seres a beira de limites, que extravasam suas vivências passadas numa jornada alegórica através de memórias e de diálogos com os elementos que o cercam, criando uma dimensão cósmica, cuja dança de movimentos também quebram limites, flutuando além das margens do convencional, numa Avant-garde que funde o consciente com o inconsciente, numa expressão de um belo que constantemente se dissipa e se renova.

Limite situa-se na transição do cinema falado para o sonoro, e referencia as principais correntes do modernismo europeu, buscando uma raiz no impressionismo, na fotografia, até chegar as vanguardas que fervilhavam em todas as artes nas primeiras décadas no século XX. Elementos e conceitos que 10 anos antes o Brasil recolhia e transfigurava em seu poderoso modernismo, celebrado na semana de 22.
Peitoxo também era escritor e roteirista, mas foi com este filme que deixou uma marca preciosa e duradoura na história da arte e do cinema brasileiro.
Limite jamais foi exibido comercialmente, mas ganhou status de obra-prima, objeto de estudos e comentários, tendo sido eleito em 2015 o primeiro entre os 100 melhores filmes feito no Brasil.
Como Eisenstein e Ozu, Peixoto cravou com Limite o profundo e o atemporal, ao retratar a condição humana e o tempo, o fluir incessante de uma beleza que pode ser tocada no Momentum, e as reverberações nas criações que priorizam o belo, para romper limites, e redimir assim a eterna criação e recriação do existir.
Andrey Luna Giron é poeta, músico, maestro, artista plástico, fotógrafo e budista. Tem 5 livros publicados de poesia – Cósmicas pela editora Protexto, Claritas, Mistério Aceso, Do Fundo Da Palavra e Terra Celeste pela editora Insight. Participou das Coletâneas 100 Anos da Semana de Arte Moderna e Amazônia em Prosa e Verso da AIAP Brasil. Gravou CD de música clássica contemporânea com composições próprias com o grupo Ethos Fractallis realizando concerto de lançamento no Museu Guido Viaro e distribuído nas mediatecas de Paris. Fez trilha sonora para cinema e tem várias composições orquestrais e para piano. Trabalha no Museu Guido Viaro onde faz recepção, monitorias e palestras semanais sobre cinema no Cineclube Espoletta deste Museu.
