
cartão- postal
a fruta pede paciência
tem o tempo dela
igual aos dias que passam
lentos no interior
a saudade permanece
na quietude de
coretos azuis
que não vi
nas compotas
de laranja
da venda
nas conversas
ruminadas na tardinha
meus olhos passam apressados
pelo calendário : o contorno da
montanha tão distante dos
prédios do meu bairro
estou no
trânsito da paulista
eu não sou da sua rua
na garganta sinto
o gosto seco
das cartas devolvidas
Doninha
uns olhinhos de
acabar co’o mar
e sotaque de
montanha:
era quimera?
medusou-me
até dizer chega
acontecimento
no meio do caminho tinha seu nome
pichado no muro do terreno baldio
no meio do caminho tinha seu nome
numa tarde antiga de abril
no meio do caminho tinha seu nome
dobrando a esquina das desilusões
no meio do caminho tinha seu nome
quando me arrancaram o dente do siso
no meio do caminho tinha seu nome
nos mantras das manhãs de domingo
no meio do caminho tinha seu nome
nos quintais de caquinho da juventude
no meio do caminho tinha seu nome
no neon gasto do armazém
no meio do caminho tinha seu nome
quando perdi a último ônibus da madrugada
no meio do caminho tinha seu nome
no ventre das noites mais sós
no meio do caminho tinha seu nome
quando o solado da bota caramelo se rasgou
tinha seu nome no meio do caminho
na rotina das minhas íris fatigadas
*
a sua ausência
é lâmpada queimada
de uma pousada
em paraty
teatro de sombras
na parede da sorveteria
hoje não tem
o de pistache e o cheiro
das damas da noite
o carrinho de doces
o brinco azul
o casco quebrado do barco
e as roupas brancas
na estrada da lua minguante

Diniz Gonçalves Júnior: paulistano, autor de decalques (edição do autor) e concha acústica (dobra editorial). Poemas publicados no Suplemento Minas Gerais, revista Cult, Germina, Gueto, Malarmargens, Athena, Casulo .