Jandira Zanchi: Basilicos + 3 poemas

Ilustração: Giorgio de Chirico


BASILICOS
 
luz difusa (quase nudez) no supercílio da tarde
afronta e permissão – ainda que obscura – de passagem
 
a aragem do dia já não geme tanto
não perfila sóis e verticais (deus ou deuses) ou miragens
ou voos de asas brandas e/ou arriscadas
porcelana avulsa de corações
couraças manivelas manipuladas
ao ar ao vento ao desespero
 
ao fugaz enlevo do arrulhar doce de crianças e folhas
caídas do outono da calejada empreitada
de cada (um ou uma ou variáveis sem nexo e pranto)
amordaçadas pelos passos lentos (lentilhas e arremessos)
 
degraus decaídos e permanentes
ascese aspirada dos meandros que ainda sussurram
na terra afastada de alguns bentos, basilicos
e beatos ainda prestes ao movimento.


VALENTINAS
 
cores e andores
desço a décima – penúltima – casa
a esperada menção do altar
ou fogo ou andor, lisimaco e liso
latente em lastro envergado nas
beiradas (sonho sonífero batida
musical de algum deserto)
 
perfumes que enxugam densidade
dízimo durante três ou quatro degraus
esmaltados de fluentes fluídos tão ardentes
e vagarosos como as tessituras tímidas
 
valentes valentinas prostadas purificadas
 
as palavras que não induzem
vez ou outra traduzem
verbos e vertigens no caos quase clarificado
expoente exposto de todas as juras e perjúrios
 
encosta livre acima e abaixo
os sentidos não são permanentes
permanecendo, antes, o movimento
o poente e o purificado senso do jamais.


OUTREM
 
sem oráculo e sem a borrada facilidade dos falsos cumprimentos
curvo-me ao ato de fomentar uma espera no esperanto
da vivacidade (criadagem) culminada no foro e na fábula
 
crescente nota de dissonância alternância com o fato rasgado
corrompido das muitas faces entraves de sobejos factoides
(afinal nada se aproveita do corrompido sistema de sutura
da velha razão e sua barafunda de desejos e prevaricações)
 
na corte ou na arte ou na recomposta babel que não se afina
afunila no deposto déspota sem razão
arrazoado tempo de milimétricas vontades diversificando
para todo não e abrindo parcialmente o fim
 
funesto e fúnebre das ameaças amedrontadas de vias e vielas
e vícios e viciantes e vítimas/vitimismo nanismo narcótico
desfile de mais um ou algum ou outrem – entraves.


BÁLTICO
 
denso e permeável
entrópico instante
navegado, ainda, com
véspera e leveza
 
quase nu
báltico em sua estreita
berlinda de beija-flores
 
odores de temperança
ataviados do febril esquecimento
do ponto, do servil encanto
do mergulho no olho- quase brandura.



Jandira Zanchi é poeta, ficcionista e editora. Tem nove livros publicados: os livros de poesia, A Sexta Hora, Fronteiras,  Luas de Maçã,  O Vapor da Noite, Área de Corte, Gume de Gueixa, A Janela dos Ventos e Balão de Ensaio, o livro de contos, Egos & Reversos. Atua há catorze anos em revistas literárias virtuais e participa da antologia 101 poetas paranaenses

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