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Ilustração: Francisco Van-Dúnem |
O dia já entardecia, o sol despedia com sorriso ameno e o vento morria no bolor de um nunca mais. Então vestia tranquilidade o silêncio. Gonçalo, de fome e isolamento que os dias lhe ofereciam, decidira ir visitar senhor Nvumbi, primo e amigo de seu falecido pai.
Antes do nascimento do Gonçalo, na altura. Senhor Nvumbi, foi um apaixonado sem dimensão de uma bela jovem na comunidade, mandava cartas de amor e alguns presentes do campo e da caça, para assim conquistar a sua amada, mas o coração da menina era pedra com misturas de ferros e mármores não se amolecia com o romantismo do Nvumbi.
O coração é água que não ferve por qualquer fogo. Ate um dia a jovem conhecer o primo do Nvumbi que derrubou por completo o coração dela. Ate gerar o nascimento do Gonçalo.
Então a partir desta data a amizade dos primos quebrou, o sol deixou de iluminar e o fogo deixou de ser intenso; viveu-se a amizade misturada de sal e açúcar; mas não demostrando aos olhos da comunidade e das pessoas próximas.
O amor fluiu que gerou a existência do Gonçalo, que vezes chamado de Ngo, nome de um animal forte. E como qualquer amor tem seus problemas, o casal também não fugia destas regras. Momentos há que a jovem se sentia demasiada casada como alguém que fazia amor intenso nas madrugadas, acordava com humidade excessiva e com muita estranheza no corpo. E vários outros sonhos que perturbavam a vivência do casal, ate surgir a morte dos dois.
Um dia o Gonçalo, resolve visitar senhor Nvumbi, amigo antigo do falecido pai. Mas na primeira noite tudo estava calmo e sereno, ao entardecer do dia, o Ngo, nome querido dos pais e habitualmente (era) assim chamado ao senhor Nvumbi. Juntos em conversa com o neto do senhor Nvumbi sobre os mistérios que acontecem no bairro e em casa onde vivem. Foi assustador e admirável quando contaram-lhe da filha do senhor Nvumbi que tinha nascido uma bebé com cabelos nas axilas e toda vila sabia que era uma senhora renascida, e sobre o jovem que na sua barriga gasalhava um cabrito.
Na segunda noite, eram já três da manhã. Gonçalo ouviu um ruído de boi, farejava tangerina o quarto todo, assustado. Porque todos estes bizarros vinham de um estranho animal com cabeça de boi e chifres e corpo de pássaro, produzia seus corcovos em direção ao rapaz como quem parecia devora-lo. Apavorado ele gritava e ninguém o ouvia, apenas estava uma caçadeira no canto do quarto e sem hesitar, matando o animal com um só tiro.
Seis horas da manha, desperta-se assustado e ouvindo gritos, levantou rápido da cama e vendo as pessoas na sala em choro desesperado e alguns não acreditavam, estático com a mente ao ar tentando saber o que se passava, olha no quintal admirados e outras em lamentos. Estava uma senhora lamentando sobre uma morte já mais vista e chinguilava evocando o nome do senhor Nvumbi.
Chamou o rapaz que lhe tinha contado sobre os mistérios do bairro, informando-lhe admiradamente, chorando sobre a drástica e mística morte de senhor Nvumbi.
Uma morte nunca vista, alguém morrer com corpo feito uma criança e nu. Vertendo muito sangue na boca e nariz.
Daí percebeu o Gonçalo sobre o animal que ele matou a noite. Era apenas um sonho e que na verdade quem se vestia do aquele pesadelo era o senhor Nvumbi para lundular as pessoas.
Ficou ele apavorado por ter matado alguém, mas tranquilo por ter ele acordado vivo.
Ema Nzadi, pseudónimo do poeta angolano Emanuel Vieira Cambulo, natural da Província do Zaire, municipio do Tomboco, escritor. Membro do movimento Litteragris. Livro publicado: Pintura dos Ecos, vencedor do prémio literário António Jacinto 2019. Textos publicados: Antologia Nós e a Poesia, Revista amaitepoesias.blogspot.com, Coletânea lusófona de poesia e prosa poética ( Delírio de Inverno), Antologia Entre Palavras. Revista Palavras & Arte.