A névoa dentro da nuvem II – Marcelo Ariel

A criação do mundo segundo o esquecimento (germinação)
 

domingo:

O que é criado pelo espírito é mais vivo que a matéria.Mas em nossa época o espírito está doente, ele sofre de arte e prostituição ou seja de amor, mais cedo ou mais tarde ele será derrotado pela ferocidade? Creio que não.Assim como a música perfura o espaço e atravessa o tempo, o espírito agirá como um ácido sobre tudo o que não for muito abstrato. E a cultura das drogas?

Buracos finos no mundo do espírito cavados por gerações de cigarras… hoje entregar-se a Satã é igual a nada, é o mesmo que fumar um cigarro ou tomar um café.o mesmo triunfo da vaporização e centralização do eu que está em tudo.

Como o crime ou a glória pessoal, que não é mais do que o resultado da acomodação de um espírito à imbecilidade de um povo. A ferocidade dos homens é engenhosa e indestrutível e só a estupidez pode ser comparada a ela porque é absoluta. A ferocidade nos une mais do que o amor, que não passa de um jogo para escondê-la.

Quem será capaz de sair de si mesmo e trepar com esse fantasma invisível?A incapacidade de sair de si é o que faz o artista. Por isso quando ele fala não existe o outro lado.Por isso esse fantasma se dissolve no vento…”

domingo:

Porque a autenticidade mais pura que prescinde até da nossa presença nasce da experiência da exclusão absoluta e convoca a destruição da vida controlada, essa que cantava como uma máquina a árvore do paradoxo apenas para completar em nós a falsa-paralisia do simbólico nome das coisas. homem e mulher reféns desse irremediável tentáculo. A vagueza e a dispersão ofuscam os raios daquilo que podemos chamar de ‘linguagem do real’ ou ‘afeto’ onde existe um limite, uma fronteira, uma linha de opaciamento que só os mais raros atravessam, envolvidos por todos os raios, esses raros são aquilo que podemos chamar de ‘aqueles que estão no centro de um deserto’ o espanto aumenta a intensidade dos raios e a distância os torna visíveis, os limites diminuem a intensidade dos raios

domingo:

Matisse: A luz é um filtro

John Cage: dos silêncios?

Matisse: Quase sempre

John Cage: de um tipo específico de silêncio

Matisse: A não-música?
John Cage: Sim, a música da não-música.

MARCELO ARIEL

Extraído de “A névoa dentro da nuvem” (Lumme Editor, 2017).

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