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Ilustração: Marcel Caram |
I
O poeta Maiakovski viu as flores antes de morrer.
(36 anos. Arma de fogo. Suicídio.) Era primavera.
II
O homem triste – disse-me um anjo – não conhece as flores.
(Se são brancas as flores do lixo, de que cor as flores de minha [estupidez?)
III
Não murcharam as flores que se foram com meu melhor amigo, não murcharam as flores que se foram com a mulher que amei um dia, com o homem que eu amei um dia.
IV
Não murcharam as flores que se foram com aqueles que não amei por falta de coragem, dinheiro, cinismo ou sorte.
V
As flores que se vão com os nossos ficam plantadas em nós. E não há nada além.
(Além das flores há apenas o silêncio: [flor de Deus.)
Walther Moreira Santos é autor dos romances O ciclista (Prêmio José Mindlin de Literatura, Prêmio Cidade de Curitiba e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura) e Um certo rumor de asas (Prêmio Casa de Cultura Mário Quintana e Fundação cultural da Bahia), além de O metal de que somos feitos (contos, Prêmio Pernambuco de Literatura de 2013) e Arquiteturas de vento frio (poesia, Prêmio Cepe Nacional de Literatura de 2016), dentre outras obras.
Uma resposta
Walther e suas flores, até nos poemas… Também não acredito que as flores murchem. Acho que criam raízes dentro de nós, como as pessoas que amamos.