Cinco postais floridos: Walther Moreira Santos

Ilustração: Marcel Caram


I
O poeta Maiakovski viu as flores antes de morrer.
(36 anos. Arma de fogo. Suicídio.) Era primavera.


II
O homem triste – disse-me um anjo – não conhece as flores.
(Se são brancas as flores do lixo, de que cor as flores de minha [estupidez?)


III
Não murcharam as flores que se foram com meu melhor amigo, não murcharam as flores que se foram com a mulher que amei um dia, com o homem que eu amei um dia.


IV
Não murcharam as flores que se foram com aqueles que não amei por falta de coragem, dinheiro, cinismo ou sorte.


As flores que se vão com os nossos ficam plantadas em nós. E não há nada além.
(Além das flores há apenas o silêncio: [flor de Deus.)



Walther Moreira Santos é autor   dos romances O ciclista (Prêmio José Mindlin de Literatura, Prêmio Cidade de Curitiba e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura) e Um certo rumor de asas (Prêmio Casa de Cultura Mário Quintana e Fundação cultural da Bahia), além de O metal de que somos feitos (contos, Prêmio Pernambuco de Literatura de 2013) e Arquiteturas de vento frio (poesia, Prêmio Cepe Nacional de Literatura de 2016), dentre outras obras.

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