
Junto com Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi e Mikio Naruse, Yasujiro Ozu (1903 – 1963) compõe o quadro dos quatro grandes cineastas japoneses. Ozu tem a característica da poesia e do humanismo nas relações familiares, nas relações humanas em um mundo tradicional que faz a transição lenta para o mundo moderno, onde muitas vezes as tensões e os conflitos surgem com mais agudeza, e são transformados pelo olhar poético do cineasta, com um aprofundamento sutil e forte de tais conexões que ganham uma dimensão estética e poética inigualáveis.
O Japão é um país milenar que possui uma arte e cultura únicas. Por ser uma terra insular, nem sempre se deu bem nas relações de intercâmbio com o ocidente, tendo desenvolvido por isto uma forma ímpar de tradição, que abarcou um modus vivendi característico, arraigado em uma profunda filosofia e espiritualidade, que por vezes também conflitou com o período imperialista e feudal, mas que gerou uma autenticidade de cultura, de comportamento e arte, que tornou-se admirada no mundo inteiro, fornecendo as bases educacionais para a futura revolução tecnológico e ética que o país desenvolveu.
Por tais circunstâncias a arte tendeu para a valorização da vida quotidiana, para as relações dos trabalhos, para a estética da natureza imediata, para a síntese na escrita com os Haiku, para as belezas das gravuras que inspiraram o impressionismo e pós- impressionismo europeus e nas representações das forças míticas e expressivas dos teatros Noh e Kabuki.
O cinema de Ozu também é um rico paradigma desta singularidade da cultura japonesa. Um cinema que poetiza o momentum do dia-a-dia, sem buscar um idealismo utópico, mas redimindo a condição humana através de elos de conexões que se aprofundam em humanidade, gerando poesia e empatia nos personagens, mesmo em meio as dores e perdas, e em meio as dificuldades sociais onde seus personagens fatalmente se inserem.
A valorização humana com suas singularidades, sua virtudes e fraquezas são trazidas a tona em belos e complexos momentos dramáticos, mas sempre com um tom de um realismo luminoso, sincero em sua simplicidade, que faz o apreciador de seus filmes se identificarem e trazerem imediatamente de seu interior algo que a obra intuitivamente desperta.
Dono de uma consistente filmografia, Ozu sempre trouxe a infância, as relações humanas e familiares, sempre ligadas a geografia imediata das cidades, da natureza com seus símbolos de poesia incrustada, das perdas e distanciamento de personagens, também de mortes que acarretam dores e amadurecimentos.
Era Uma vez em Tóquio de 1953 é considerada sua obra-prima, e está na lista dos melhores filmes de todos os tempos. Pai e Filha, Ervas Flutuantes, e A Rotina tem seu Encanto são também belíssimos filmes.
Em 1984, Wim Wenders filmou Tokyo-Ga, um documentário sobre Ozu, onde o realizador viaja até ao Japão para explorar o mundo desse cineasta.
Muitos diretores contemporâneos também o celebram como o seu conterrâneo Hirokazu Koreeda que segue criando obras também poéticas de rara beleza inspiradas no grande mestre.
Andrey Luna Giron é poeta, músico, maestro, artista plástico, fotógrafo e budista. Tem 5 livros publicados de poesia – Cósmicas pela editora Protexto, Claritas, Mistério Aceso, Do Fundo Da Palavra e Terra Celeste pela editora Insight. Participou das Coletâneas 100 Anos da Semana de Arte Moderna e Amazônia em Prosa e Verso da AIAP Brasil. Gravou CD de música clássica contemporânea com composições próprias com o grupo Ethos Fractallis realizando concerto de lançamento no Museu Guido Viaro e distribuído nas mediatecas de Paris. Fez trilha sonora para cinema e tem várias composições orquestrais e para piano. Trabalha no Museu Guido Viaro onde faz recepção, monitorias e palestras semanais sobre cinema no Cineclube Espoletta deste Museu.
