
O homem que ainda viverá mora dentro de meus olhos.
Ele só existirá porque brilha minha esperança.
Bebo do sol para entregar-lhe meu sumo.
Assim como sorvi líquidos sobre mim derramados.
A vida é feita de cascatas circulares.
***
Evanescidas glórias e agruras,
Pulverizadas as certezas, ignoradas as dúvidas,
O ser se acalma. Tudo perde urgência.
Paira no horizonte uma bruma incerta,
Onde vagamos de olhos fechados sem temer tropeços,
Mas há luzes que nos atravessam as pálpebras,
E geram sorrisos difusos, como a lua que paira sobre aquele que dorme.
***
Sou acionista minoritário das vidas alheias,
Assim como nada é meu por inteiro,
O que sinto ou penso, os segredos e desejos,
Tudo nasce ou deságua naquele que não sou eu.
Reconheço no espelho traços estrangeiros,
E eles fazem entender que dores ou prazeres,
São montanhas dúbias, parte feitas de pedra, e outra de ilusão.
***
Sou impressões: A tarde espalhando amarelos pelo chão.
O sorriso da mulher idosa diante da flor.
O suspiro daquele que perdeu as esperanças.
Nasço da mistura dessas sombras,
E da luz que as fez brotar.
***
Sou essa ínfima extensão entre terra e céu,
Antena aberta captando dois mundos.
Tempos-nuvem soprados, aceitando formas,
Inspirando olhos que as contemplam,
Para então construir outras riquezas,
Perceber que sou também as duas portas que uno,
E cada uma delas é todos os caminhos e destinos.
Guido Viaro é um escritor, cineasta, administrador cultural e palestrante nascido em Curitiba em 1968. É autor de 22 romances dentre eles o livro O Cubo Mágico, premiado com o primeiro lugar na categoria romance no Concurso Biblioteca Digital 2020, da Biblioteca Pública do Paraná. É também autor do ensaio filosófico O Labirinto Espelhado e de quatro filmes entre ficção e documentários. Desde 2009 administra o Museu Guido Viaro, entidade cultural que tem por missão divulgar e preservar a obra de seu avô, o pintor italiano Guido Viaro. No museu as atividades artísticas não se atém à pintura, mas englobam música, cinema, literatura e teatro.
