
Os vivos estranham esse fato, esse bizarro oceano feito de consistências até então desconhecidas, e em que subitamente são mergulhados. O mesmo deve acontecer com os mortos, de supetão transferidos para um reino cujas regras de funcionamento lhes são completamente estranhas. Tanto uns quanto os outros levam tempo até aprenderem como os mecanismos funcionam, e principalmente, como devem se comportar em relação a eles. Tudo acontece gradualmente, e ao mesmo tempo em que nasce no ente, esteja ele mergulhado na vida ou na morte, uma segurança sobre sua própria condição e sobre a maneira como interage com o meio, cresce também, sem que ele perceba, o esquecimento sobre tudo que não é essa condição. Secam-se as dúvidas e os questionamentos mais característicos das fases em que o espírito ainda não estava totalmente integrado à sua realidade presente.
O morto, ou o vivo, passam a construir rotinas, que se transformam em pequenos oceanos particulares feitos com águas represadas dos oceanos de vida ou morte que os envolve. Mas, ao contrário desses oceanos, essas águas não possuem movimento, dentro delas não vibra qualquer traço de vida ou flutuam resquícios de morte, são águas nem vivas nem mortas, substância inerte que mantém confortos, mesmo que ele sirva apenas para conduzir ao sofrimento. A partir do instante em que isso ocorre, apenas um novo nascimento ou morte conseguirão libertar o ente que está excessivamente confortável dentro de sua condição. O desconforto, em doses corretas, é a máquina propulsora de qualquer situação, e o ente, deve possuir a sabedoria de aceitar as gotas de chuva que o ambiente asperge sobre ele.
A queda da macieira me ensinou que as coisas não eram exatamente como imaginava, que elas eram, de fato, imensamente mais ricas e complexas do que imaginaria em meus sonhos mais ambiciosos. A partir dessa constatação, que ocorreu bem no início de meu Grand Tour, propus-me a narrar meu dia-a-dia de descobertas, utilizando-me, na medida do possível, da nova estrutura de construção do universal e da realidade que descobri depois de minha queda. Desejei transformar essa estrutura em linguagem, portanto iniciei a narração dos eventos pelo último deles, quando a viagem estava prestes a acabar. Iniciei esse novo capítulo com uma analogia que falava de iniciantes, mortos e vivos aprendendo seus afazeres e finalmente se acomodando em suas rotinas. Comecei pelo final porque depois da queda, o valor concreto do mundo em que vivemos que me pareceu mais frágil, foi o tempo. Não propriamente ele, mas a maneira com que nos afeta. Passamos a acreditar que o encadeamento de acontecimentos é a única realidade possível, que não há outras maneiras de os fatos acontecerem, nada de tempos laterais, profundos ou salteados, nenhuma camada alternativa de construção da realidade temporal. O tempo a partir daí, pelo menos para os vivos, transforma-se em nossas represas de águas sem vida nem morte, na razão pela qual nos rendemos a um imobilismo que nos afasta da verdadeira existência, que nos faria sermos completamente vivos.
Devem os mortos terem também estranhas e passivas relações com o tempo, que em seu reino deve se comportar de outra maneira e gerar diferentes consequências, mas tudo, no fundo talvez seja menos diferente do que aparente, e as piscinas de águas paradas se acumulem da mesma forma ao redor do morto, que torna-se tão preguiçoso em sua condição, quanto um vivo.
O que faço aqui é confessar minha incompetência, e em parte justificá-la em razão de minha falta de experiência. Iniciei pelo caminho mais fácil, o que demonstra ao mesmo tempo parcimônia e falta de coragem. Há iniciantes que de cara cometem grandes erros que no futuro se transformarão em suas melhores qualidades. Não é o meu caso, comecei pelo óbvio. A mera inversão de tempos é apenas a camada mais superficial de uma nova maneira de narrar, que por si só ajude a demonstrar a complexidade oculta de toda a realidade. É preciso mergulhar mais fundo, pontos de vista, percepções ocultas, símbolos que brotam sem serem semeados, descobertas que nos chegam através do caminho da intuição, tesouros desenterrados pelo poder do olfato, ou sonhos tateados em horizontes desconhecidos, e que nos conduzem ao reino sem fim da linguagem, onde as infinitas combinações de palavras podem construir um universo quase tão complexo quanto o que descobri ao cair da macieira.
A verdadeira linguagem do universo atravessa tempos e indivíduos, perfura camadas de pensamentos esquecidos e sonhos sepultados pela rotina, risca distâncias quase sem fim, escutando consciências diluídas no eterno. Essa linguagem é a soma de todas as somas, e também o resultado de qualquer operação matemática, é ainda o zero, em todo seu esplendor. É lágrima de todas as cores e origens, é também o nada impregnado no coração de tudo aquilo que existe, e ampliando espaços, até que o hóspede torne-se maior do que aquele que o hospeda, para então sucumbir ao próprio crescimento. A linguagem universal é feita de todos os nadas, que fundidos enfrentam a existência, e colaboram para o equilíbrio. Ela é, finalmente, todos os estágios intermediários entre o ser e o não ser, as sombras mal feitas, esquecidas em séculos anteriores ou que ainda não se realizaram por falta de luzes.
Dada essa definição, que é como uma gota em um oceano sem bordas, pois a linguagem universal, por ser tão ampla, não consegue ser definida com meras palavras, minha missão é conseguir extrair de lá, talvez não uma gota, mas uma mera molécula de água, e a partir dela, utilizando-me de sua estrutura, narrar os acontecimentos de meu Grand Tour.
Vamos lá:
Caminhava ao redor do lago de Genebra quando um estranho estado de humor apoderou-se de mim. Sobre as águas cinzentas repousavam as nuvens, feitas de um chumbo de cor parecida. Mas sobre o céu, opaco e mesquinho, não havia águas. Sentei-me à beira do lago e assisti ao movimento do reflexo das nuvens, sem nada disso deduzir, mas percebendo que uma estranha melancolia, que cheirava como os peixes arrastados pela maré, e que encalhados ficam assim até se transformarem em esqueletos, alargava seus domínios em meu peito. Não muito longe dali havia carruagens luxuosas carregando o fino da burguesia genebrina. Não sei se a carruagem possuía outra cor, mas talvez a espessa camada de nuvens tenha conseguido transformar tudo o que havia abaixo delas nesse tom que misturava um prateado envelhecido, com outros sopros sem vigor em forma de tonalidades.
O cheiro de fim de peixe aumentava, e as nuvens que se moviam sobre as águas pareciam provocar todos aqueles que não possuíam as mesmas habilidades. Voltei meus olhos para a rua, onde carruagens disputavam com cartolas, broches e vestidos volumosos, a hegemonia prateada em que estavam embebidas aquelas vidas. Minha visão turvou-se e só o que enxerguei foi um borrão colorido que pulsava e vivia, escutei conversas, choro de crianças e relincho de cavalos. A imagem havia se transformado em som, e as palavras que escutava pareciam ansiosas por uma fusão, talvez desejassem migrar para outra realidade: uma ideia.
O mundo então emudeceu. A ideia nascia. Mas ainda era um bloco de mármore onde o martelo do artista não fez muitos estragos, os contornos eram de difícil definição. Sabia que caberia a mim o esforço de encontrar na pedra as formas escondidas, enquanto isso precisaria conviver com o cheiro e a melancolia que pareciam mais fortes do que nunca. Aceitei o desafio, que talvez fosse mais um pedido, de um outro que não eu, que talvez não fosse ninguém, um habitante do nada com direito a voto em minha assembleia interna. Trabalhei com afinco sem medo de ferir minhas mãos, talvez tive toda essa coragem, por desconfiar que as mãos não me pertenciam. Depois de muito suor, e de algumas gotas de sangue que não me custaram qualquer dor, contemplo a obra: uma ideia pronta para ser exposta:
Talvez a acumulação de dinheiro seja a maneira mais simples de responder às incógnitas impostas pela vida. Como nada consegue concluir do fato de perceber-se vivo e saber-se finito, a mais comum das escapatórias é comparar-se ao semelhante. O homem tenta descobrir em seu vizinho, referências que o ajudem a se localizar, e saber se a estrada pela qual trafega, o conduzirá a algum lugar. Ele então compara-se, mede, analisa, desconta diferenças, mas a imensa quantidade de fatores em análise dificulta a chegada a um veredicto preciso. Falta um parâmetro universal que sirva de base para esse julgamento. Então, uma camada de homens que nunca esteve muito atenta a reflexos, ou misturas de cores em horizontes poentes, estabelece que a grandeza econômica é indicativo de que o indivíduo escolheu o melhor dos caminhos. Essa medida passa então a se tornar referência para os outros. As certezas ganham solidez, na mesma medida em que minguam quaisquer inquietações existenciais. Isso porque a resposta foi dada, o mistério acabou. Convencido por essa solução, o homem doravante só terá olhos para tudo que a envolve, esquecendo-se de qualquer espaço vago que não representar substância concreta cujo valor possa ser traduzido em moeda corrente.
A ideia termina, e os céus, apesar de continuarem plúmbeos, mostram seus intestinos, feitos de muitas camadas de movimento, que dançam sobre as águas, agora um pouco mais agitadas. A melancolia e os odores pútridos, parece que em parte também foram arrastados pelo movimento. As carruagens e seus ocupantes desapareceram no horizonte, engolidos por prédios e igrejas. Genebra é encoberta por uma bruma que talvez seja uma nuvem preguiçosa, e que atenua qualquer tonalidade mais vibrante. Um convite açucarado a um grande sono coletivo. Mas meu espírito não quer dormir, está inquieto, e entre fragmentos de outras ideias, borbulham perguntas de toda ordem, nenhuma delas consegue formar-se por completo, e são expelidas como fetos, que não conseguiram viver, mas que sobrevivem na dor causada por não nascerem.
Tenho olhos selvagens que devem iluminar a noite recém-chegada, talvez o dia que acontece em outra parte do mundo ilumine meus passos. As angústias se acumulam como água de enxurrada, e percebo que não há como escapar a seus efeitos, entretanto decido que não ficarei parado, aceitando a gota que lentamente escorre pela espinha. Genebra que durma, eu viverei. E o farei sobrepujando entusiasmos a dores, talvez o mais importante dos ensinamentos humanos. Mergulharei em piscinas vazias repleto de um otimismo juvenil, que não perderá forças nem com os ferimentos de minha queda. Imediatamente após me levantar, e ainda escorregando em sangue, estarei pronto para novo salto. Salto agora para dentro do tempo presente. Sou esse instante pulsante ao qual a imensa corrente humana que me antecedeu, não tem mais acesso, por isso preciso honrar meus privilégios.
Sentado em um café fixo meus olhos em algumas pessoas que passam, por mais diferentes que sejam todos têm em comum o fato de parecerem estar carregando o fardo da vida. Para as crianças ele é feito de plumas, para os velhos de chumbo, mas ninguém parece imune a algum peso, lastro esse que ao mesmo tempo em que diminui a mobilidade do indivíduo, o alimenta de forças. Mergulho sobre os ombros de algumas pessoas escolhidas ao acaso, esperando que elas me conduzam a outros raciocínios mais profundos do que esse. Mas o ser humano me escapa, deixo que vá embora antes de que alguma falta de esperanças enrole suas raízes na figura humana. Retorno aos céus feitos de chumbo e movimento, depois de meia hora o movimento me contamina e percebo que existe algo solto em meu peito. Uma nova ideia pede passagem, desconheço sua origem:
Tudo aquilo que passa a existir, tem como primeira consequência, a criação de uma consciência que toma ciência desse fato. O universo, portanto, assim que surgiu, tornou-se consciente de que existia. Uma consciência difusa, espalhada entre migalhas de tempo e espaço. Essa consciência etérea possui seu tempo de maturação, para então multiplicar-se em consciências de segunda geração, dentre as quais o ser humano é uma delas. Mas essa força fluida não se contenta com hospedeiros eternos, e está sempre buscando novas maneiras de se manifestar, novas gerações, maneiras de existir, espelhos que refletem essências, e que produzem imagens cheias de possibilidades de interpretação. A consciência é consequência da existência, mas simultaneamente ela é causa, fazendo brotar outras formas de existir que só nascem por que há algo ciente. Isso porque a primeira consequência de uma consciência é a geração do desejo.
O desejo é a semente, que plantada na terra da consciência, germina novos existires. E o universo é uma floresta feita do abrir e fechar de olhos, de sóis apagados que já não mais mancham águas de riachos, de explosões magníficas que são a realidade inteira para algumas consciências, e totais desconhecidos para outras. O universo é também a negação de si mesmo, porque não há desejo ou consciência que sejam eternos, o que faz com que o tapete do existir seja simultaneamente desenrolado nos dois sentidos, fazendo com que tudo que deseje, cesse seus anseios, aquilo que é consciente, perda essa capacidade de saber-se separado do todo, para finalmente o que existe, deixe de fazê-lo.
E é por isso que qualquer tomada de posição é importante, porém inútil. Escolhemos o objeto, mas nos esquecemos de sua respectiva sombra, e também de uma infinidade de outras conexões, que alteram rumos e modificam destinos, dentre as quais o objeto selecionado é também uma delas. A opção é, portanto, frágil, mas mesmo a abstenção não nos liberta do peso da escolha. Para onde quer que apontemos, e mesmo se mantivermos nossas mãos fechadas, para onde quer que olhemos, e mesmo se nossos olhos nos forem arrancados, e até se permanecermos mergulhados em um eterno silêncio escuro, nem assim conseguiremos escapar da escolha, e da condenação que ela representa. Somos condenados a incompletude. Para cada caminho eleito, mil outros abandonados, caminhos alguns piores, mas outros iguais e melhores ao de nossa escolha. E então nos amarramos àquelas pedras e curvas, amamos a lama e a chuva que nos molha, as descidas e o esforço de nossas pernas em vencer os aclives, aquele é o nosso caminho, e diante de nossa consciência, o melhor e mais importante de todos os caminhos possíveis.
Essa constatação me conduz a duas conclusões possíveis: a primeira é que nossos sentidos clássicos, e até mesmo a intuição, acompanhados pela capacidade de desenvolvimento de raciocínios, são ferramentas frágeis demais para que consigamos nos libertar de uma prisão, cujas paredes parecem se alargar ainda mais a cada movimento que fazemos. A segunda conclusão se refere à constatação de que a maior força do universo é o acaso, e pouco importa se há ou não outra força que o discipline, organizando a aleatoriedade, pois esse eventual poder também está subordinado ao acaso.
Eis-nos, portanto, frágeis, imensamente frágeis, singrando mares sem bordas desprovidos de portos. Procurando desesperadamente algo, um mínimo detalhe que nos distinga de nossos semelhantes, uma vírgula que os torne menos semelhantes a nós. Precisamos acreditar em nós mesmos, mas a eternidade dificulta a tarefa. Então o ressentimento nos empurra na direção do próximo, dele nada desejamos a não ser, em primeiro lugar, nos distinguirmos, e em seguida, utilizando de parâmetros que já não possuem a largueza dos oceanos, mas sim a mesquinhez de braços e pernas esticados, superá-los em números e tamanhos. E esse é o cimento fresco sobre o qual assenta-se aquilo que chamamos de sociedade. Material que endurece aos nossos pés limitando os movimentos de nossos corpos e almas.
A caminhada me conduz novamente à casa que alugamos por um mês. Já vejo a carruagem e Cunningham, que não importa a temperatura, sempre dorme nela e recusa a oferta de quartos aquecidos. Encontro também aquilo que já se tornou uma marca registrada dessa viagem desde que partimos da Inglaterra há oito meses. São os galhos esculpidos por Cunningham, mulheres com as pernas abertas que ele invariavelmente destrói assim que termina o trabalho. Sempre arranca uma das pernas e atira longe. O que sobra é um rosto caricato, com cabelos compridos riscados na madeira, um esguio tronco onde dois seios redondos parecem ser a parte onde ele dispendeu mais energias, um sexo bem marcado por estocadas profundas e violentas, e que normalmente também arrebenta assim que ele arranca uma das pernas, e uma longa perna fina, mas que contém alguma graça.
Logo no início da viagem perguntei porque ele destruía aquilo que produzia, e se ele se incomodaria em dar-me suas obras antes de destruí-las. Ele apenas me olhou sério sem nada responder. Desde então não toquei mais no assunto e enquanto se ocupa de esculpir saio de perto para evitar constrangimentos. Que espécie de lagoa de água escura é aquele homem? Talvez elas encubram cidades fantasma, esqueletos de todos os tamanhos e origens, ou então peixes fosforescentes jamais catalogados pelo homem, e que transformam a escuridão em uma dança colorida. Ou então pode ser que as águas escuras não encubram nada, apenas um vasto buraco sem cores ou significado.
Apesar das poucas palavras que pronuncia, e de seu semblante sempre fechado, não consigo identificar em sua figura nada como uma melancolia profunda ou um desdém pela vida, ao contrário, ele parece bastante vital e pouco interessado em alegrias fugazes. Talvez obedeça a algum regulamento interno imposto por si mesmo, ou então essas mesmas ordens lhe sejam ditadas por alguma voz que apenas ele escuta. Já o observei de longe e percebi que muitas vezes passa longos períodos de tempo apenas mirando o horizonte. Pode ser que então esteja refletindo sobre assuntos aprofundados, mas há uma chance de igual tamanho que ele apenas esteja confortavelmente mergulhado em uma piscina vazia e usufruindo dos prazeres que elas costumam nos trazer. De qualquer maneira ele é um homem de difícil definição, e para mim, essa característica aproxima-se mais de uma qualidade do que de um defeito.
Quanto a seu lado profissional não tenho do que reclamar, se ocupa de todos os detalhes da viagem sem que precisemos nos preocupar com nada além de entrar na carruagem para depois desembarcarmos no destino que escolhemos. É cuidadoso com os cavalos, e em noites frias sempre consegue algum celeiro para abrigá-los. Durante as refeições nunca aceita nossos convites para compartilharmos a mesa, sem recusar formalmente, sempre arruma alguma desculpa para comer ao ar livre. Outro dia estava prestes a perguntar-lhe sobre sua história, mas percebi que os constrangimentos gerados poderiam deixar raízes, que no final da viagem estariam transformadas em árvores frondosas, árvores plantadas nas estradas que percorremos, e que só serviriam para atrapalhar.
A partir daquele dia uma ideia vigorosa se apoderou de mim: iria escrever a história da vida de Cunningham, começando pelo presente e regredindo até descobrir as razões que o transformaram em quem é. Selecionaria seus traços de personalidade e elencaria possíveis causas para aquelas consequências. Como as causas sempre poderiam ser mais do que uma, então aquilo que eu via era apenas uma das pontas da raiz, que seguiria se bifurcando até, talvez, abranger todo o gênero humano. O que faria com que eu escrevesse um livro não sobre Cunningham, mas sobre todas as possibilidades humanas. E essa mudança já seria a primeira das bifurcações. Meu entusiasmo cresceu, mas alguns dias depois começou a murchar depois que contei meus planos a Waterfall. Segundo ele eu apenas perderia meu tempo, livros para serem escritos precisam obedecer a um planejamento minucioso, devem ser projetados como palácios, e concluiu “imagine se Luís XIV durante a construção de Versalhes, dissesse a seus trabalhadores, deixem-se se levar pelo acaso, construam o que bem entenderem”.
Percebendo meu desânimo, ele sorriu e tocou meu ombro: “É claro que a indeterminação é um fator importante em qualquer obra de arte, mas ela deve ser o tempero do cozido, jamais o principal ingrediente.” Ele então abriu o bau de livros e espalhou alguns sobre a mesa, Dante, Shakespeare, Cervantes, e com o auxílio de um castiçal e de seu monóculo, folheou páginas em busca de trechos que confirmassem sua teoria. Eu me afastei da cena, apesar de meu corpo permanecer ao seu lado, olhando para os livros e fingindo escutar o que ele dizia.
Viajei ao país das bifurcações, teias de possibilidades que se estendem além de qualquer horizonte, e depois retornam, encaixando pés exatamente sobre as marcas de pegadas impressas na terra, fazendo com que tudo, até mesmo o não acontecido, encontre seu complemento, mas logo em seguida, novamente, floresça em um leque de possibilidades. Então voltei para onde estava meu corpo, escutei alguns trechos de Hamlet e percebi que a indeterminação não era o tempero daquele cozido, mas o principal ingrediente. Era claro que tudo havia sido muito bem trabalhado e acondicionado em uma embalagem luminosa, mas o que inicialmente despertou em Shakespeare o desejo de escrever a peça, não foi as certezas que possuía, mas as que lhe faltavam.
Então parei de ouvir o que era lido e mergulhei dentro da figura de Waterfall, que a princípio, parecia de muito mais fácil interpretação do que a de Cunningham.
Os livros eram os depositários da verdade absoluta, a arte uma maneira alegórica de falar sobre as grandes questões humanas. Mas, segundo ele, as grandes questões humanas, eram como monólitos em mármore negro e imunizados contra a ação do tempo. Não cabia a nós, reles mortais, questionar, escavar em busca de materiais ainda mais perenes, ou, ao contrário, completamente perecíveis. A nossa ação deveria ser muito mais a de contempladores, talvez perquiridores, encontrando os diamantes da eternidade e apenas lapidando-os, revelando aos céus a vermelhidão de rubis, sem entretanto, questionar a origem e o sentido daquelas cores e brilhos.
Reparei na ação do tempo sobre seu rosto, talvez ele ainda tivesse uns bons anos de vida pela frente, mas as pálpebras pesadas, os tons amarelados da pele, a farta papada e os grãos de barba salteados e esbranquiçados eram uma clara declaração de seu corpo, de que o processo de término havia sido iniciado. Se ele, o corpo, pudesse dizer algo, talvez soasse como algo assim: “divirta-se enquanto é tempo”. E era o que ele parecia fazer, divertir-se à sua maneira, acreditar em suas verdades e repeti-las até afogar qualquer dúvida que tentasse tirar a cabeça para fora d’água. Então sentenciei: para Waterfall, a ferramenta era mais importante do que a tarefa que com ela deveria ser executada, ou os meios mais importantes do que os fins, um erro filosófico clássico que se não inutilizava tudo o que ele desejava me ensinar, pelo menos me obrigava a filtrar o material bruto, extraindo apenas o que me seria útil, e que eu calculava ser a menor parte.
Ele ficou em pé e revirou o baú em busca de novos livros, voltou com dois volumes pesados ricamente ilustrados, então iniciou uma complexa explicação em que relacionava textos clássicos com reproduções de gravuras e de mapas. Havia informações e ideias interessantes rasgadas por longos parêntesis tediosos e confusos, onde por vezes ele perdia o fio da meada e recomeçava com outro assunto. Falava até quase perder o fôlego e depois interrompia o monólogo apenas para beber água. Aos poucos, sua tez amarelada foi ganhando tonalidades vermelhas e as grandes veias que ladeavam o pescoço, cresceram, e podia-se ver através da pele um pouco do azul claro com que deveriam ser feitas. Mesmo assim ele prosseguiu, respirando com dificuldade, mas sem diminuir a velocidade das palavras. Em consideração a seu esforço, fingi uma concentração que não existia, até que finalmente ele fechou os livros. Faltava-lhe ar, e agora a vermelhidão da pele havia sido invadida por uma palidez açucarada. Guardei os pesados livros no baú, agradeci pela palestra e sugeri que fosse descansar. Ele sorriu, parecia contente por haver cumprido uma missão, e lentamente escalou os degraus que davam acesso a seu quarto.
Assim que fechou a porta senti por ele uma onda de piedade bem maior do que a simpatia que o dedicava. Aquele homem envelhecia, e isso acarretava o inevitável aparecimento de problemas de saúde, mas não era essa a origem de minha pena. O que me fez sofrer foram o envelhecimento e os males correlatos de suas ideias. Males dos quais talvez se orgulhasse, por considerá-los partes de suas melhores qualidades. E, provavelmente, no tempo que ainda lhe restava, tentaria semear, em um maior número possível de mentes, suas verdades ultrapassadas. Caminhei pela sala até cruzar com um espelho, então sorri, um riso cheio de desdém, amarelado, substrato feito para o nascimento de uma pergunta: Não serei eu, quando atingir sua idade, também um semeador de minhas verdades envelhecidas? Não seremos todos? Não serão as verdades maçãs mordidas, que em pouco tempo escurecem seus miolos até se decomporem por completo?
Levantei-me, precisava de ar, uma caminhada para assentar as ideias antes de dormir. Um vento frio começava a limpar o céu, empurrando nuvens que deixavam aparentes grandes espaços polvilhados por pontos luminosos. A rua estava deserta, quase escura, as poucas luzes que desafiavam a noite eram como homens comparando-se a montanhas. Caminhei até me afastar do centro da cidade, as casas começaram a rarear, segui por um caminho que desconhecia e que terminava em um pequeno lago. Deitei-me embaixo de uma árvore onde pude acompanhar o movimento das nuvens, e a enxurrada de estrelas que pareciam lutar para que alguém testemunhasse suas existências. Senti o cheiro vivo de uma natureza que gritava, a brisa assoprava meus cabelos, e percebia na penumbra, a luta das margaridas para permanecerem em pé. Fechei os olhos e continuei experimentando as sensações que vinham não apenas através de meus sentidos, mas também por outras vias cuja origem desconhecia. Parecia que estava imerso em uma banheira sensitiva que, mesmo se não quisesse, não conseguiria deixar de ouvir tudo aquilo que a noite tinha a dizer.
Escutei com resignação, até que percebi que se continuasse ouvindo nada diria. E eu queria falar, ou melhor, perguntar, então esqueci-me de nuvens e cheiros, desprezei os primeiros reflexos do céu aberto afundando suas estrelas nas águas translúcidas do pequeno lago. Se até mesmo as verdades envelheciam, então quais seriam os materiais e o terreno adequado para construirmos nossas moradas? A noite se calara, o grilo silenciara e a brisa dera uma trégua, talvez o mundo estivesse refletindo, e logo simbolizaria uma resposta para minha questão. Mas talvez o silêncio significasse justamente o oposto, uma fuga covarde por falta de respostas. Não havia materiais ou terrenos que representassem solidez, apenas um grande pântano escuro que, em silêncio, tudo engolia. As maiores ideias, Catedrais, livros, ou esperanças, tudo, a seu tempo, tragado pela lama que soterra sem deixar vestígios.
O grilo voltou a se manifestar. Talvez o mundo tenha percebido que eu descobrira seu segredo, e agora, para despistar, fingia que não se importava com isso. Então foi minha vez de fingir, eu é que não me importava com o mundo. Suspirei fundo, alheio a quaisquer belezas noturnas. Se tudo não passava de um imenso pântano que deglutia todos os esforços humanos, por mais nobres ou mesquinhos que fossem, então, de um ponto de vista filosófico, só restavam duas atitudes possíveis: a ilusão ou o escárnio. Uma ilusão induzida pelo próprio indivíduo em busca de anestésico para suas dores, ele admiraria suas construções, se orgulharia de sua solidez e, assim que elas começassem a afundar, fecharia os olhos e continuaria imaginando-as intactas e imunes a ação do tempo. A outra possibilidade é o escárnio, já que não há nada perene, e tudo, o bem e o mal, o grande e o pequeno, o inteligente e o medíocre, desaparecerão da mesma forma, então nenhum esforço vale a pena. A atitude mais sensata é a passiva. Sentar-se à beira do pântano, comprazendo-se com os afundamentos alheios e inundando a madrugada com uma gargalhada irônica, que apenas cessará com seu próprio naufrágio.
Caminhei até a beira do lago e aproveitando-me da presença passageira de uma lua cheia que conseguiu mostrar o rosto por entre nuvens, enxerguei meu reflexo nas águas. Talvez, se a cena fosse testemunhada por um bom pintor, ele conseguisse representar meu estado de espírito, que provavelmente combinaria com a paisagem ao redor. A escuridão impenetrável da noite, que naquele instante era rasgada pela substância branca que, de maneira respeitosa, deixava suas marcas sobre o lago, e que eram suficientes para retirar minha figura da completa escuridão. Ao mesmo tempo, minha juventude oscilava entre trevas e luz, e isso deveria se refletir na expressão de meu rosto. Uma alma dividida que duvidava das duas opções que se ofereciam, pois suspeitava se tratar da mesma estrada, que após muitas voltas, aparentemente segue em direções opostas.
A juventude quando não encontra perspectivas no horizonte, transforma-se em material volátil e explosivo, que a qualquer instante pode se desfazer em pedaços, arrastando junto tudo o que está ao seu redor. Antes da chegada do pintor a lua foi encoberta pelas nuvens e eu mergulhei em uma escuridão maciça, o estado duvidoso dissipou-se dando espaço a uma melancolia adulta com sólidas raízes plantadas em terra firme. Minha condenação era absoluta, e a juventude um fardo que me obrigava a usufruir da pena por um número maior de anos. A sentença estava publicada em minha mente, em letras garrafais eu lia: Escolherás a ilusão até que ela desmorone, para então viveres em meio a escombros.
Não consegui evitar o derramamento de uma lágrima. Sequei-a com a ponta dos dedos, para então receber novo golpe: A outra opção é não se iludir e não arriscar o pescoço com a queda de detritos. Nascer em meio ao nada e morrer no exato mesmo lugar.
O peso da noite tornara-se insuportável, precisava caminhar para perto de alguma luz, mesmo que essa fosse do tamanho de um suspiro tímido diante dos ventos que antecedem uma tempestade. Na metade do caminho fui atacado por batalhões de dúvidas que se comportavam como vespas assassinas: O nada em seu estado mais puro, o não existir, não possuir nenhuma espécie de consciência, esse não-lugar, não seria melhor do que a condenação a que todos nós estamos sujeitos?
De longe avistei as primeiras velas balançando dentro de caixas de ferro penduradas em postes. Essa visão inocente encheu meu peito de uma alegria injustificada, que foi o suficiente para que eu conseguisse responder à pergunta: Não. A não existência é sempre mais pobre do que a mais humilde das existências. O existir é uma vitória sobre o nada, e a dúvida, a maneira mais rica de continuar existindo. Nesse instante, assim como aconteceu com a lua, ou com as nuvens, a melancolia foi embora. Mesmo encoberto pela noite sentia-me iluminado, uma unanimidade que exalava por meus pulmões, e que poderia me fazer continuar caminhando durante a noite inteira sem que me cansasse. A cidade parecia ainda mais adormecida do que quando parti, um galo solitário caminhava buscando entre as pedras do chão algo para comer, parecia ansioso para anunciar o novo dia, mas a escuridão pesada era sinal de que a noite ainda não envelhecera, e os espíritos vadios poderiam perambular em suas histórias incongruentes por mais algum tempo.
Lembrei-me do monólogo de Hamlet, que Waterfall havia me lido há alguns dias. De todo o texto, a parte que mais me intrigara havia sido justamente uma rápida menção aos sonhos. Essa maneira alternativa de existir da qual não podemos escapar, ou exercer qualquer controle. E que, pensando bem, possui mais semelhanças com a vida do que aparenta. Da vida também não podemos fugir, e o controle que sobre ela conseguimos exercer, é muito pequeno, ou talvez até completamente ilusório. A solidez dos objetos, e o jogo de causas e consequências, aparentemente mais fácil de ser decifrado, pode não passar de uma armadilha de nossa mente, pois, de fato, talvez a realidade última se pareça muito mais com aquilo que vivemos enquanto estamos adormecidos, e que ao que tudo indica, parece sofrer influência do que experimentamos durante o dia.
O que me leva a deduzir que a inteligência que nos aprisionou, pensou em diversas camadas de segurança, se conseguimos abrir caminho entre as grades, damos de cara com um precipício inviolável, se mesmo assim, tivermos sucesso em atravessá-lo, o que nos espera é um fosso sem fundo repleto de feras carnívoras.
Assim que me aproximei de nossa carruagem ouvi o ronco assustador de Cunningham, que parecia uma máquina mal regulada pedindo ajuda para que fosse colocada no bom caminho e pudesse realizar as tarefas para as quais fora projetada. Mais que ao mesmo tempo demonstrava toda a potência daquele homem, que nem dormindo deixava de demonstrar sua força. Aliás, suspeitava que Cunningham poderia ser um daqueles homens que ou são muito fortes, ou estão mortos. Seres que não conhecerão a diminuição gradual de suas capacidades. Se me fosse dada a escolha entre esses dois caminhos, confesso que a opção seria difícil. Acho que antes da viagem não titubearia em escolher a juventude perpétua e a morte gloriosa. Mas esses meses de viagem, e o contato quase diário com objetos de arte e ideias de pensadores, me mostraram que há alguma poesia no derretimento, e que essa decadência, pode ser a energia que chamamos de juventude vestindo-se com outras roupas, e descobrindo novas formas de brilhar.
Waterfall está adormecido em sua poltrona com um livro entre as mãos. Os restos de uma vela derretida ainda emitem sopros de uma luz cansada. Retiro o livro de suas mão e apago a vela. Escuto um quase imperceptível ronco, uma energia que parece domada, e que por nunca exercer arroubos intempestivos, conhecerá a decadência física, aceitando-a sem grandes revoltas. Deitado em minha cama permiti com que tudo aquilo que vivi na última hora desfilasse diante de meus olhos fechados. Meus lábios moviam-se em todos os sentidos, até que finalmente, a paciência do galo solitário acabasse e ele anunciasse a chegada do novo dia. Permaneci de olhos fechados tentando escapar da aurora, que costumava me trazer pensamentos melancólicos. Tentava ser surpreendido por um sono que, aparentemente, sente-se mais à vontade em ambientes escuros. Pois parece que os sonhos trazem consigo toda a luz que necessitam.
Há também outra lei não escrita quando o assunto é o reino de Morfeu. Quanto mais perseguimos o sono, mais ele se afasta de nós. E foi o que aconteceu, cansei do escuro e aceitei a chegada do novo dia. Mas uma noite não dormida transforma o dia em uma mistura de vigília e sono. Um estado interessante se você não possui muitas obrigações a cumprir. Antes mesmo que Waterfall acordasse, vesti-me e fui caminhar. Encontrei Cunningham trabalhando em uma das rodas da carruagem que costumava vibrar mais do que o normal. Disse a ele que iria caminhar e pedi para que avisasse Waterfall que não voltaria antes do almoço.
Voltei à beira do mesmo lago que havia descoberto na noite anterior. O lugar continuava vazio, mas a luz do dia transformara tudo, o mistério derretera e sua substância condensou-se em cores, que eram sólidas declarações de existência, e que depois de se fundirem com outras, compunham uma sinfonia cujo coro repetia sempre a mesma palavra: Existir. E esse existir era belo, construía harmonias que, como notas musicais bem posicionadas, contavam ao mundo suas verdades provisórias, da maneira mais atraente que se consegue imaginar. Então tudo mudava, outras notas anunciavam sombras, discursavam novas verdades, com belezas diferenciadas, os cinzas e brancos misturavam-se e manchavam o verde com uma tonalidade que a princípio, parecia atenuar a vida em seu gritos agudos, mas que, de fato, era apenas outra maneira de ser belo, de viver e de gritar.
Assisti a esse espetáculo mergulhado em uma satisfação que anteriormente definiria como alegria, mas que hoje, creio necessitar de outra nominação. Ela era mais parecida com uma paz cheirando à eternidade, dentro da qual eu flutuava despreocupado. As luzes e cores me atingiam e eram como os nutrientes dos quais necessitava para continuar existindo, e existir era algo tão leve quanto colorido. Então minhas pálpebras pesaram anunciando que o corpo necessitava atravessar a barreira, mergulhar em outro substrato. Misturei-me, entre cores e objetos sem peso, um fluir sem bordas cujo enredo flutuava entre a própria paisagem onde havia adormecido, e algumas das sensações de ausência de tempo e estranhamento no espaço que experimentei quando caí da árvore.
O cochilo só foi interrompido pelas pesadas gotas de chuva. Refugiei-me embaixo de uma árvore grande, e lá, quase imune à água que caía, desejei novamente a presença de um pintor que pudesse retratar o panorama que me rodeava. As torrentes desciam do céu e mergulhavam nas águas do lago, fazendo com que vapores se levantassem, o mundo era prateado e os objetos perdiam a solidez, dançavam entre brumas e luzes. Talvez os vapores fossem grandes afirmações sobre a existência, escritos em um idioma que não domino, declarações que em sua estrutura, misturam perguntas a respostas e que, em razão disso, talvez se transformem na maneira de pensar dos séculos futuros. Mas isso era apenas uma hipótese, porque nesse reino das grandes potências, é possível que não existam perguntas ou respostas, e que tudo não passe de uma constante afirmação, que por vezes se cala mesmo sem deixar de afirmar. E a chuva era essa declaração, água misturada a vapores, e imagens fundidas confundindo os olhos mais atentos.
Mas havia eu, que não era chuva. Eu a eterna testemunha solitária condenado a formar opiniões. Saí debaixo da árvore e aceitei a chuva. Ela molhava meus olhos e eu chorava o mundo. Deixei de ver a chuva para ser ela.
Guido Viaro é um escritor, cineasta, administrador cultural e palestrante nascido em Curitiba em 1968. É autor de 22 romances dentre eles o livro O Cubo Mágico, premiado com o primeiro lugar na categoria romance no Concurso Biblioteca Digital 2020, da Biblioteca Pública do Paraná. É também autor do ensaio filosófico O Labirinto Espelhado e de quatro filmes entre ficção e documentários. Desde 2009 administra o Museu Guido Viaro, entidade cultural que tem por missão divulgar e preservar a obra de seu avô, o pintor italiano Guido Viaro. No museu as atividades artísticas não se atém à pintura, mas englobam música, cinema, literatura e teatro.
