
Por vezes, o tédio ajuda-nos a delinear melhor o que nos cerca, ao passo que a tristeza pode obscurecer-nos as paixões, revelando a verdadeira forma das coisas.
Aos cinquenta e sete anos, a vida já não é uma maratona, mas sim uma corrida de meio-fundo: mil e quinhentos metros que exigem estratégia, ritmo forte e eventuais corridas mais velozes — para as quais já não temos tanto fôlego.
No entanto, descobri uma forma de aferir a felicidade: se não te importares de passar o resto da vida a fazer exatamente o que agora fazes, então estás no lugar certo, a fazer a coisa certa.
Esta conclusão pode ser considerada um achado arqueológico, um mandamento teológico ou até mesmo uma bússola existencial.
Hás de experimentar pensar nisto. Porventura, verás que, diante da encruzilhada da dúvida, é possível reajustar o sentido da tua vida.
Lisboa, 05 de julho de 2025

Luís Palma Gomes nasceu em Lisboa, em 1967, e cresceu na periferia, em Queluz — entre linhas de comboio, pequenos quintais e o rumor longínquo da cidade. Engenheiro informático de formação, é hoje professor de Informática no ensino secundário. A escrita, porém, sempre lhe correu em paralelo, como um rio subterrâneo. Começou a publicar nos anos 90 no suplemento DN Jovem, onde os primeiros poemas encontraram lugar. Poeta do intervalo e da fricção, escreve a partir do quotidiano, da contemplação das pequenas coisas, dos gestos que passam despercebidos. Publicou Fronteira em 2022, e O Cálculo das Improbabilidades em 2025, onde aprofunda uma linguagem feita de tensão entre o visível e o indizível, entre a matéria e o símbolo, entre a casa e o mundo. É também autor de peças de teatro, como A Moura e O Último Castro Antes de Roma, onde a memória histórica se cruza com as inquietações humanas. Escreve e ensina jovens, porque precisa de ver crescer alguma coisa — nem que seja uma imagem, uma ideia, uma manhã, uma vontade. Não tem medo da água fria do mar.
Respostas de 5
Escrita profunda e aparentemente simples.
Não conhecia este teu lado mais ríspido mas sempre sobre o rio da reflexão. Gosto..
A realidade vem sempre ao de cima e quase sempre a obscuridade impera ” revelando a verdadeira forma das coisas.” Mas, á quem tenha antídoto para estes males e descoberto a fórmula de aferir a felicidade. Para os desafortunados fica-nos a palavra batida ESPERANÇA, nas encruzilhadas da estrada a ” reajustar o sentido da vida”.
Na dúvida! Vai em frente.
Texto simples e direto, mas que carrega rara beleza, como na frase daquele filme: As coisas belas não pedem atenção.
Belo texto! Reflecte o sentido da vida! Encontrar a felicidade na cruzilhada da vida . Estabilidade
e segurança nas coisas simples