Inclemências – Rita Santana

Ilustração: Remedios Varo

 

A pedra seca abriga resíduos
Fósseis da saudade extinta.
O tempo roga inclemências Ermas
Nas fibras do meu desespero.
E pinta dor de espátulas
No desconsolo das vésperas.

Diante destes navios,
Minha janela se cansa.
E eu, fruta peca,
Flor sem pétalas,
Coração de máculas,
Mergulho muda
Num mundo-mar de vastidões.

Cansei de ser triste
Cansei desta matéria
Que alimenta e devora
A Poeta,
A Porta da minha casa,
A Puta da avenida Sete.

Aos demônios o cacete
Dos homens demasiadamente
Homens!

Infensos à demência réptil
Da minha esperança Yerma.


RITA SANTANA

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