INCOERENTE: Jandira Zanchi

Ilustração: Gertrude Abercrombie

nenhum parâmetro
arrancado na vazante
ou na esplendida fumaça
(ouro/sonho) de tantas imperfeiçoes
maceradas de tintas cruas
crucificadas
arcaicas e esculpidas por largos langores
(sem véus sem voz sem sentido sem estilo)
esmorecida e crível a
parcialidade precária de nossas fontes
dos ângulos de rasante e
rasteira dos pódios de nossas observações
mudas máculas no céu vazio vazado de estrelas
pois, enfim, é revoluta e
rasteira a matéria a energia a pressão
a compressão a rebentação
a vida/morte (um binário inseparável)
a rútila expectativa de
ganhos (uns troféus de pouca ostentação)
a ciranda nem sempre
compreensível da formação/má formação
o anjo infinito das
latitudes abertas de vapor/magia/águas
e seus ventos solenes em
tardes prolongadas ao pé de um deus
ou anjo ou santo ou
sacrificado ou bonificado ou… bendito
bendita essa carta sem
roteiros ou só compreensível ao final de cada curva
derrapagens não fazem
sulcos por onde caminhem outros
portanto só o voo
liberta  e a visão
nítida aceita curvada em
arcos e artífices
plena plenitude na roda,
incoerente, da vida.


JANDIRA ZANCHI

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