Jean Narciso Bispo Moura: finalista no Prêmio Guarulhos de Literatura:

Capa: Cristina Arruda


Jean Narciso Bipo Moura é finalista do Prêmio Guarulhos de Literatura 2018 na categoria “Escritor do Ano” com Retratos Imateriais publicado pela  Editora Singularidade.




O código para decifrar a poesia e o mundo criativo de Jean Nar­ciso é a metalinguagem, poemas que retratam o fazer poético, pois o eu-poético que ao contrário de Alberto Caeiro só entende a relação do mundo consigo mesmo mediado pela poesia. É pelo fazer poético que Jean Narciso, filósofo de formação, nos apresenta a tentativa de não ape­nas compreender o mundo e a si mesmo, pois neste mundo o poeta/in­divíduo, sujeito/objeto é parte integrada e ao mesmo tempo dissonante do seu tempo e mundo. Uma voz de vozes. Talvez a busca íntima pela poesia perdida no cotidiano, poesia que não tem espaço no mecanicismo pragmático do capitalismo. Galáxia é um ótimo exemplo e ainda dialo­ga com Haroldo de Campos, mestre concretista: cada estrela é uma pala­vra/palavras bem entrelaçadas formam constelações/o encontro garboso faz nascer uma espantosa galáxia

    Cada poema deste Retratos Imateriais é um grito de resistên­cia, é a prova que este mundo que nos cerca, por mais que quei­ram nos forçar a acreditar não é natural, por isso cada poema soa como grito de socorro, procura da liberdade recorrente e inerente ao próprio homem, então a poesia, arte de criar lingua­gem é meio e fim. Octávio Paz, poeta e crítico mexicano afirma:

(…) Pois o homem é inseparável das palavras. Sem elas é inatingível. O homem é um ser de palavras. É o oposto (…) Assim, num extremo, a realidade que as palavras não podem exprimir; no outro, a realidade do homem que só pode ser exprimida em palavras. A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são a nossa realidade ou, pelo menos, o único testemunho de nossa realidade.
PAZ, Octavio. O poema, in O arco e a lira. Trad. Ari Roit­man e Paulina Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2012, p.38.

Veja o poema fugidioas palavras, no poema, são afáveis deser­tos/poetas audazes/atravessam noite e dia/em busca de ofertar oásis. 

Linguagem esta que, por vezes, passa longe do tom prosaico e coloquial, Jean volta a fazer faz uso de um vocabulário erudito, mas sem cair no preciosismo desnecessário. É através da linguagem que o a realidade vira ideia, a ideia vira verso e o verso, enfim, vira verdade, veja em ponte suspensa: a linha torta da linguagem constrói/ponte suspensa em nosso córtex cerebral.  Assim o homem ganha textura, recheio e cobertura artisti­ca.

Fabiano Fernandes Garcez



conheça 5 poemas do livro:



desespero temporal

o tempo envelhece na pele da humanidade
os séculos descansam no colo do milênio
o tempo envelhecido caça rã tartaruga
e borboleta
a palavra como fiel secretária
redige entre uma pincelada e outra
a tênue escritura de um só homem


galáxia

cada estrela é uma palavra
palavras bem entrelaçadas
formam constelações
o encontro garboso
faz nascer uma espantosa galáxia


utopia

vejo-me a dois séculos
dentro de um livro
encontro-me enterrado
na demolição da casa
de um estrangeiro
sou página coberta de poeira e amarelo


estranha acrobacia

o homem
faz a travessia
seu corpo não finaliza a travessia
rodopia
rodopia
rodopia
de cabeça para baixo
de pernas para cima
de cabeça para baixo
sem ter domínio algum
sob a estranha acrobacia


outro pote

zarpar com pote de mel
ser um materialista defeituoso
por não dar à mínima
ao outro pote
que quer rir comigo
em garbosos restaurantes
e viagens



Resultado de imagem para jean narciso bispo moura

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *