Lançamento de ‘Insulares” de Ozias Filho

 
 A poesia de Ozias Filho se inscreve no centro do sentimento de descompasso da
contemporaneidade. Em ‘Insulares’ respira-se a inquietude.


“o que falta dizer não escrevo
definitivamente, não consigo
sou impotente perante esta alvura
não sangro sobre o papel
não caibo nestas margens
que desconfiam da minha
ingenuidade
apalavro-me sob elas 


A poesia moderna, desde Baudelaire e Rimbaud, inaugura um sentimento de crise, de desajuste do sujeito com o mundo. É exatamente este o fio condutor de ‘Insulares’, quarto livro de poesias de Ozias Filho, onde é possível respirar os ares da inquietude, até chegar às raias de uma certa angústia, implícita, provocada por um vazio que o poeta parece incapaz de explicar. O sentimento de vácuo, o vazio no entorno da ilha – do self – surge evidente nos poemas de Ozias Filho e talvez seja consequência da modernidade líquida, a mesma proposta pelo filósofo Zygmunt Bauman: um estágio de evolução no qual se desfaz e se questiona tudo o que outrora foi fixo, rígido, concreto. Em ‘Insulares’, confirma-se o labirinto da vida e o pressentimento de que ‘há qualquer coisa de equívoco’ em nossa solidão habitada. No universo poético de Ozias Filho, o silêncio ‘é resposta que basta’, movimento de procura, recomeço. Um redemoinho voraz de buscas que, diante da impossibilidade de preencher o vazio, opta por silenciar ‘enquanto outra tempestade não vem’. A dúvida, a pergunta, pois, constituem a essência do livro, e representam a crise do poeta diante da realidade, ao enfrentar o contraste, a dissonância, o paradoxo, a fragilidade – todos eles sintomas da constatação de que não se é inteiro, total, definido, mas sempre mutante, em formação.


INSULARES


Ozias Filho
Editora Jaguatirica, Rio de Janeiro, 2018
ISBN 9788556621542
66 páginas





Ozias Filho nasceu em 1962, no Rio de Janeiro. Formado em Jornalismo e em Fotografia, é pós-graduado em Edição e Novos Suportes Digitais, pela Universidade Católica Portuguesa. É autor dos livros ‘Poemas do Dilúvio’(Alma Azul, 2001), ‘Páginas Despidas’ (Pasárgada, 2005), O relógio avariado de Deus (Pasárgada, 2010), livro também publicado no Brasil (Texto Território, 2016) ‘Insulares’ (Livros de ontem, Lisboa/2014). Suas fotografias estão publicadas em ‘Santa Cruz’ (com poesia de Luís Filipe Cristóvão, pela ed. Livrododia, 2008), ‘Ar de Arestas’ (com poesia de Iacyr Anderson Freitas; Escrituras, São Paulo, 2013) e Quasinvisível, catálogo da exposição homónima, ocorrida na Casa da América Latina, e que esteve integrada na Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura 2017. Participou das coletâneas de contos ‘Só agora vejo crescer em mim as mãos de meu pai’, das Edições Pasárgada, das quais é também o fundador e editor. Vive em Portugal há 26 anos. O livro INSULARES é o primeiro de uma trilogia.


 
 
 
 
 

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