Lançamento e 2 poemas de “Lotação” de Demétrio Panarotto

Lançamento em Curitiba: 17 de dezembro
Rause Batel – Espaço THÁ, 19 hs


Lotação (Editora Medusa) é um livro com poemas que circularam em blogs, sites e que ganharam vozes em saraus e eventos literários. Neste livro, a asfixia, os excessos e uma sensação, contraditoriamente latente, de impotência em relação ao mundo que segue, ganham força já nos primeiros versos que movimentam o livro: “há um homem chorando no lotação/latão lotado luto/lá menor”. Um livro pra ser lido em voz alta.

Conheça 2 poemas do livro:


quilombo

macumba de
amador o
corpo que zomba
                 tomba
                 tumba
                 tunda a
                 tenda
           quilombo dos
não civilizados
:
sem CI CPF
cartão de
vacina

molambo que lambe
                       limbo
                       lomba
                       lombo a
                       bunda
                      antes de
atacar o
fígado come a
vítima pelas vísceras
:
só aí é que a
hiena gargalha com o
discípulo

pede música e
é atendida
mas o
fagotista
[debruçado no balcão de
um boteco namorando um
rollmops]
desafina sempre que
precisa oitavar o verso.


aula de cochilo (oração para várias vozes)

tem horas que a gente não quer mas é
preciso cochilar

tem horas que a gente não gostaria mas é  
preciso cochilar

tem horas que a gente não precisa mas é   
preciso cochilar

tem horas que a gente não tem sono mas é
preciso cochilar

tem horas que a gente está exausto e com medo de dormir pra sempre mas é
preciso cochilar

tem horas que a situação não permite mas é
preciso cochilar

tem horas que sentimos vontade de sair correndo mas é preciso cochilar

tem horas que coração pesado sente mas é 
preciso cochilar

tem horas que o corpo não dobra mas é preciso cochilar

tem horas que se cochilar o carro pode parar na ribanceira mas é preciso cochilar

tem horas que a vida está por um fio mas é preciso cochilar

tem horas que o mundo cospe de raiva na tua cara
mas é preciso cochilar

tem horas que é preciso cochilar para que o corpo se mantenha
que seja
no fio de improviso que o cochilo tem com a morte.




Demétrio Panarotto nasceu em Chapecó-SC, em 1969. É doutor em Literatura e professor universitário. Publicou, dentre outros, Tratamento de imagem (Selo patifaria, 2018),  Ares- Condicionados [Nave, 2015], O assassinato seguido de La bodeguita [Butecanis Editora Cabocla, 2014]; “15’39”” [Editora da Casa, Alpendre 2010], Mas é isso, um acontecimento [Editora da Casa, 2008], mais alguns discos e alguns filmes. Vive em Florianópolis-SC.”
 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *