Lançamento: “Segue anexa minha sombra” de Laís Chaffe

Segue
anexa minha sombra

Autora: Laís Chaffe

Editora: Class/Bestiário (www.bestiario.com.br)

 
 
Em Segue anexa minha sombra, tem poemas de todos os tamanhos. E de todos os gêneros. Do dístico ao haicai ao soneto. Tem poemas de todos os tempos e lugares: da Grécia, poemas pós-modernos. Laís Chaffe abole o tempo como uma boa poeta (poetisa não, por favor), tem poemas do bebê ao velho. O velho pode ser o menino, o pai pode ser o guri, pouco e muito importa, Laís Chaffe abole a lógica como uma boa poetisa (ops), nós e o passado logo ali na esquina. Tem poema esquecido, tem poema de memória que serve comida sírio-libanesa-universal do pai velho menino entre o kibe e a kafta. Tem poema, tem sótão, tem pátio. É variado, dissonante, polissemia de romance e, mesmo que tenha prosa, é poesia sempre. Tem pergunta e, como não tem resposta, é interminável por enquanto. Laís Chaffe não faz charme e expõe as referências, tem Bandeira, Drummond, Leminski, Quintana, Poe, Shakespeare, tem salada russa de grão-de-bico, só de Manu tem dois, cadê o fio? O vermelho, o de Ariadne, de Laís, o que salva o apresentador-orelhista de se perder no vago assombro. Laís deixa do fio a pontinha à mostra de ser poeta como a criança que nunca parou de brincar e, em vez de boneca, em vez de carrinho, em vez de bola, aceita o convite das palavras para brincarem juntas. Laís sabe que, para deter o tempo (a morte), a arte é o único antídoto (tem Nietzsche). Laís poeta a persistência e não arreda do poema enquanto ele/ela não lhe entrega o último suco da imagem, adestrando cavalos-marinhos à ideia do tempo que protesta títulos aos sons aos sons aos sons sem trena sem treino sem régua: tem Pound. Substantiva, essencial, mais suor do que surto, mais sêmen do que sangue, ela nunca, ela nunca, ela nunca recolhe por inteiro este fio que salva o orelhista, aquele fio de ela nunca deixar de brincar, ego solto, manso da própriavaidade metamorfoseada em algo maior do que o ogro: a poesia. Podem chamar de dístico, haicai, soneto. Poema piada, aforismo. Chamo de jogo permanente, brincadeira de criança crescida, poeta poetisa, Laís brinca de sexo, de amor, de vida e mostra quenem a morte resiste ao humor do jogo com o amigo leitor. Palhaça das hábeis, gozadora esmerada no respeito máximo de levar às veras – brincando – tudo o que uma palavra pode renderquando brinca seriamente com a que vem depois que brinca seriamente com a que vem depois que brinca seriamente com a que vem depois. Até que o livro termina. Termina, vírgula: ecoa.
 
Celso Gutfreind
 

Laís Chaffe (Porto Alegre/RS) publicou Carne e trigo (poemas, Castelinho Edições, 2012), Medusa (poemas infantis, Casa Verde, 2011), Minicontos e muito menos (Casa Verde, 2009) e Não é difícil compreender os ETs (contos, AGE, 2002). Participou de diversas antologias, entre elas: Blasfêmeas: mulheres de palavra (2016), Festschrift para Assis Brasil (2015), Coletânea de poesia gaúcha contemporânea (2013), Contos do novo milênio (2006). Está à frente do projeto Cidade Poema (cidadepoema.com), que vem levando poesia às ruas e a espaços públicos desde 2009; e do selo editorial Casa Verde (casaverde.art.br). Roteirizou e dirigiu o documentário Canto de cicatriz (2005, prêmioDireitos Humanos no Rio Grande do Sul e de melhor vídeo independente brasileiroem Gramado, entre outros). Também é roteirista e diretora do curta-metragem Identidade (2002) e roteirista e produtora executiva do curta Colapso (2004). Graduada em Jornalismo pela Ufrgs, trabalhou no Correio do Povo, no Jornal do
Comércio, na Rádio Bandeirantes. Entre 2012 e 2014, foi diretora do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul (IEL).
Contato: 51 991 217707

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