o sol da tarde/el sol de la tarde II: poemas de Adriana Aneli e tradução de Mariela Bello

 
imprimi na sua quase sem querer 
minha pele
os corpos se costuram.

*
imprimí en la suya casi sin querer
mi piel
los cuerpos se cosen.
***
 confesso
 não percebi o momento de nossas os
 algemadas
 tentei me segurar enquanto você me levava
 e me divirto agora que não podemos nos
 separar
 um do outro.
 *
  confieso
  no he notado el momento de nuestras manos
  esposadas
  intenté agarrarme mientras tú me llevabas
  y me divierto ahora que no podemos
  separarnos
  uno del otro.


  ***
 
feita de reconstruções abro as asas 
de cortes profundos
  colho alegrias cultivadas
 poesia  que  aprendi  do seus bios
brota agora
mutilada
  não me espanto
  você se apossou de tudo o que é meu
já não posso dar um passo
sem tropeçar nos seus sapatos.
 

*

echa de reconstrucciones abro las alas de cortes profundos
  cosecho alegrías cultivadas
la poesía que aprendí de tus labios
brota ahora 
mutilada
  no me espanto
  tú te apoderaste de todo lo que es mío
ya no puedo dar un paso 
sin tropezar en tus sapatos.
quis parei
você insistiu
temi vacilei você estendeu as mãos
  até que a fenda parecesse menor
 você era fraco                     tão frágil 
  sobrou o abismo
  sob os pés o grito                 o eco 
  o corpo agora é deserto
  e cínico o meu desespero.
 
*
quise paré tú insististe 
temí dudé tú extend las manos
  hasta que la grieta pareciese menor
  tú eras débil                           tan frágil 
  sobró el abismo
  bajo los pies el grito                el eco 
  el cuerpo ahora
es desierto
  y
cínico mi desespero.
 
 
Ilustrações: Angela Mendes



ADRIANA ANELI é autora dos livros Todas as cores do amorAmor expresso, A construção da primavera e O Sol da tarde. Membro Correspondente da UBE-RJ e do Coletivo Marianas. Dramaturga do grupo Baila Comigo. Idealizadora do projeto Tempestade Urbana, comunidade que reúne artistas e trabalhos de várias partes do mundo. Ao lado de Chris Herrmann, é editora da página literária Boca a Penas. É colunista e editora de poesia da Revista Plural. Um pouco de juízo fica por conta da formação em Direito na USP e pós-graduação em Direito de Família e Mediação de Conflitos Familiares.

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