POEMAS EM CAMPOS DE EXTERMINIO – ALBERTO LINS CALDAS

 
 
 
 
 
 
caminhos pelo parque e os mammouths
● não entre no
labirinto sem caneta e caderno ●
● ali so isso
funciona principalmente depois ●
● das tartarugas de
galapagos os vulcões vivos ●
● a floresta q parece
o sonho de um louco aqui ●
● os crocodilos os
jacares elefantes e javalis ●
● em cada curva em
cada aspera esquina a treva ●
● bebe conhaque com
guacharos negros e corvos ●
● cada rio riacho
lagoa ou mar são perigosos ●
● nele todos os tipos
de tubarão espera e come ●
● quem avança dentro
das aquas como num deserto ●
● todos os desertos q
margeiam as aquas e dunas ●
● cheias de serpentes
de fetos secos aguasvivas ●
● todas mortas como
fosseis no fundo do oceano ●
● o grito dos macacos
q trepam gozando e rindo ●
● chega ao fim do
labirindo quem escuta leões ●
● lutando com bufalos
rolando rocha pregados ●
● dentes e garras em
outros leões devorando ●
● um ao outro como se
devorassem gnus e girafas ●
● q gritam como
crianças com crianças no parque ●
● esse parque entre
loureiros e chorões se sai ●
● como nunca tivesse
entrado e se vai pela rua ●
● nas ruas zelo com
tropas verdes de mammouths ●
● q sempre arrancam
cabeças e braços sem razão ●
● não é preciso se
mover eles passam por cima ●
● depois dos mammouths
verdes os azuismarrons ●
● os com gravata
branca os com gravata listrada ●
● todos esperando
apenas segundos um somenos ●
● pra arrastarem
qualquer um pros seus campos ●
 
 
 
 
 
outra cidade
● ando com falta de
ar as pernas doendo ●
● como se eu tivesse
vindo a pe ate aqui ●
● vazio como lata de
lixo de miseravel ●
● nenhuma mulher
nenhum cão ou amigo ●
● nada toca em mim e
eu vou secando ●
● devo ta com a pele
aspera olhos loucos ●
● de tanto olhar o
sol q demora demais ●
● como se não
houvesse noite nem lua ●
● o frio hoje começou
cedo e o sol ●
● la em cima como um
lustre de merda ●
● consigo sentir a
corda no pescoço ●
● a falta de ar de
quem se enforca ●
● sem nenhum anjo ou
demonio dizer ●
● agora é tua vez
inferno ou paraiso ●
● tudo tão diferente
quando comecei ●
● parecia tão facil
tão belo e demais ●
● hoje meus dedos não
tocam nada ●
● minha linga não
sabe o q é lingua ●
● desde marianne se
não me falta ●
● a memoria porq sei
q marianna ●
● nunca existiu e eu
deliro porisso ●
● antes eu andava bem
vestido e ria ●
● mas o mundo se
derreteu em merda ●
● eu não consigo mais
saber como ●
● tudo isso aconteceu
?como ?como ●
● como se eu tivesse
tomado veneno ●
● vindo do chifre dum
unicornio ●
● daqueles bem azuis
dos bebados ●
● essa cidade ta me
matando o peso ●
● sem minhas arvores
sem amigos ●
● so a agua de mijo
desse rio velho ●
● esse mijo deve ser
do rei deus ●
● ele deve mijar
assim e cagar ●
● na minha cabeça q
doi demais ●
● a merda de deus é
de chumbo ●
● mas hora dessas
solto a corda ●
● esqueço o rio e
mando todos esses ●
● tomarem no cu e
saio pelo mundo ●
● q demora a explodir
mas deus ●
● vai continuar a
cagar nessa cabeça ●
● porq ele não vale a
merda q caga ●
● escapo ele me
encontra sempre ●
 
 
 
saber o sangue da vida
● sinto q ronda um
chacal ●
● as patas na areia
como um sonho ●
● meus cães sabem
disso e não latem ●
● me rodeiam
esperando a hora ●
● o chacal sabe das
aves no gradil ●
● não sabe nem de mim
nem dos cães ●
● sentindo no ar
apenas as aves ●
● os chacais sempre
aparecem por aqui ●
● todos eles sabem de
mim e dos cães ●
● mas esse deve ser
novo e aprendera ●
● pra isso solto meus
cães sobre ele ●
● q logo desaparece
longe nas dunas ●
● os cães trazem
sangue e pelos na boca ●
● hoje mais um chacal
aprendeu a viver ●
● tanto eu quanto
cada animal aqui luta ●
● cada um pra viver e
preponderar ●
● a sua maneira de
sentir a vida vivendo ●
● porisso so
aprendemos pelo sangue ●
● nos dentes doutra
maneira de viver ●
● por mim sou apenas
mais um animal ●
● q faço minha parte
sempre sem saber ●
 
 
 
tudo se dissipa como a chama duma vela
● tanto e tudo de
varias vidas acumuladas ●
● todas as dores de
viver tantas vidas amargas ●
● uma mala a velha
mala dos hoteis do mangue ●
● mala cheia de
esquecimentos bem pesados ●
● tudo maciço demais
tudo é de ferro e aço ●
● acre como as dores
de viver tantas vidas nulas ●
● delas todos os
caminhos todas as dores e gozos ●
● dentro da cabeça
batem soltas lascas de metal ●
● basta andar os
metais se tornam mais afiados ●
● maiores eu digo na
esquina com um cafe ●
● fervendo eu digo o
inferno a mala segue a vida ●
● eu q nunca soube
viver não demoro a morrer ●
● eu e minha velha
mala dos hoteis do mangue ●
● delas todos os
caminhos todas as dores e gozos ●
● essa chuva la fora
trara sim velhas tempestades ●
● pingos de chuva
como chuva numa fogueira ●
● mereço isso os
metais se tornam mais afiados ●
● e começo a rir e a
rir olhando o ceu escuro ●
● as gotas cada vez
mais frias a tempestade sim ●
● um quarto a velha
mala dos hoteis do mangue ●
● delas todos os
caminhos todas as dores e gozos ●
● sem asas sem
desejos no escuro a chama se foi ●
● agora eu choro
sempre sem razão qualquer ●
● basta pensar os
metais se tornam mais afiados ●
● talvez eu sente
aqui no chão lambendo dores ●
● lembrando mares
florestas desertos solidões ●
● as gotas cada vez
mais frias a tempestade sim ●
● delas todos os
caminhos todas as dores e gozos ●
● sem armas sem
musculos sem sonhos desejos ●
● gelado eu digo o
inferno a mala a vida sega ●
● belas so as
distancias a velha mala do mangue ●
● dentro da cabeça
batem soltas lascas de metal ●
● nem a beleza ficou
nem o brilho dos olhos ●
● nem os rios nem o
mar nem a grande arte ●
● com eles os
caminhos as as dores e gozos ●
● sentado aqui podia
pedir a morte mas é inutil ●
● sempre chamei e ela
jamais veio nem as mãos ●
● tocando o rosto
passando os dedos nos cabelos ●
● so a mala a velha
mala dos hoteis do mangue ●
● dentro da cabeça
batem soltas lascas de metal ●
● basta pensar os
metais se tornam mais afiados ●
● delas todos os
caminhos todas as dores e gozos ●
 
 
 
fumaça
● na minha roupa de
velho ●
● de decadas mortas
outros mundos ●
● caminho triste
entre arvores podres ●
● sem querer esse sol
gelado e negro ●
● os girassois inda
desejam girar ●
● escarro triste
demais pra beleza ●
● sim a beleza foi
embora de repente ●
● falta de ar tudo
gira como antes ●
● quando dançavamos
rindo sem dor ●
● sentindo o cheiro
acre do rio ●
● riamos girando na
fumaça de tudo ●
● o frescor se
dissolvia sem sabermos ●
● disso não sabiamos
o tempo assim ●
● nessa velocidade e
giravamos ●
● recordo esquecendo
de nos ●
● dentro duma fumaça
acre o tempo ●
● o rio no meio dos
nossos giros ●
● ate perdermos
primeiro a beleza ●
● depois o giro acre
o rio a fumaça ●
● enfim nos dois
sumimos de nos ●
● tento recordar e
não consigo ●
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*.Alberto Lins Caldas publicou os livros de contos “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001), “gorgonas” (CEP, Recife, 2008); os romances “senhor krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009) e “Veneza” (Penalux, Guaratinguetá, 2016) e os livros de poemas “No Interior da Serpente” (Pindorama, Recife, 1987), “minos” (Íbis Libris, Riode Janeiro, 2011), “de corpo presente” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2013), “4×3 – Trílogo in Traduções” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2014) com Tavinho Paes e João José de Melo Franco), “aperversa migração das baleias azuis” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2015), “apequena metafisica dos babuinos de gibraltar” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2016). Blog: www.poemasalbertolinscaldas.blogspot.com.br

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