Por que o metanol?, crônica de Malvina Rosa

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Que vivemos em um país com um nível alto de insegurança não é novidade pra quase ninguém, mas até semana passada era seguro tomar umas biritas pra relaxar, comemorar ou afogar as mágoas e dar uma esquecida nos problemas, mas de uns dias pra cá até isso se tornou uma roleta russa. A orientação é clara: não consumir destilados até segunda ordem. A crise do metanol parece ser sem precedentes  e o mais incrível não se sabe de onde vem. Tudo que se sabe é que a temporada de caipirinha na beira da praia vai ter que ser adiada. Nem o whisky do happy hour tá seguro. Nem o gym absolvido pelas musas fit está liberado. Esse último confesso que depois de um porre fenomenal, não consigo gostar, me sinto tomando perfume e talvez nessa semana seja mais seguro tomar perfume mesmo. Parece que só podemos confiar desconfiando na cerveja, no vinho e no biotônico Fontoura.
                                                 
O que mais me intriga nesse esquema todo é por que o metanol? Já ouvi dizer que é por ser barato, não alterar sabor, cheiro e cor. Ok…mas água com corante, cachaça vagabunda com corante ou até mesmo álcool etílico deveria dar para batizar e lucrar mais em cima sem matar ou cegar as pessoas. Creio que há algumas questões que devem ser observadas no cenário que se desenhou.
 
A primeira é a completa incompetência dos batizadores de bebida que não fizeram um estágio com os batizadores de combustível que já sabem que o negócio é batizar na proporção que não funda o carro. Ainda que em todas áreas tenham incompetentes e tem uns que fundam os carros mesmo. A segunda é realmente uma tentativa de matar e cegar as pessoas, o que não me surpreenderia, pelo simples motivo que nada mais me surpreende. Também poderíamos considerar que a ignorância é tão grande que os batizadores não sabiam que metanol mata. E por fim, e o mais provável, é a mais valia não só colocando o trabalhador em uma posição de escravização dentro do sistema capitalista, mas o levando a morte em seu momento de prazer. Provando que o que vale na sociedade em que vivemos é o lucro e jamais as pessoas.
 
Agora para além das especulações o que nos resta é fazer um detox no próximo mês para nos prepararmos para as festas de fim de ano, na esperança que não seja  o fim do mundo. Mas acredito que esse esquema deve ser desmantelado logo, afinal é birita, se fosse merenda escolar talvez a investigação fosse mais morosa.
 
 

Malvina de Castro Rosa é de Porto Alegre. Escritora, relações públicas e mestra em design estratégico, publicou os livros As loucas aventuras da guria maluca (crônicas, 2013), Paralelos Cruzados (2021), seu primeiro romance, e Crônicas de um fim do mundo antecipado (2023), no qual reúne crônicas do blog semanal que mantém há mais de quatro anos, www.bomdiasociedademachista.blogspot.com. Em 2024, lançou a coletânea de contos Em nós. Atualmente, é editora assistente na Caravana Grupo Editorial, no Brasil, e editora-chefe da Caburé, na Argentina, além de conselheira da revista Vinca Literária

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